Sexta, 21 de setembro de 2012
A quantidade de recém-formados em direito que conseguem um emprego na área nos EUA é a menor dos últimos 25 anos. O maior escritório de advocacia dos EUA faliu em maio, e o diretor da Faculdade de Direito de Columbia publicou uma carta aberta aos alunos alertando para as dificuldades pós-diploma.
Os advogados americanos continuam a ter superpoderes e muito glamour nos filmes de Hollywood, mas a profissão atravessa uma das maiores crises de sua história no país.
Na década passada, cerca de 85% dos recém-formados conseguiam emprego na área. Em 2010, 68%. Da turma que se formou em junho de 2011, apenas 55% acharam colocação até nove meses depois da formatura.
A crise econômica iniciada em 2008 tem grande responsabilidade no desempenho do setor, que já sofria com o inflacionamento de bônus e salários de advogados após a fusão de grandes escritórios e com o achatamento do salário inicial para os novatos.
Sob corte de gastos, grandes empresas passaram a contar mais com seus próprios advogados ou a exigir valores cada vez menores ao recorrer aos escritórios no mercado.
Segundo pesquisa da Universidade Northwestern, 15 mil empregos nos maiores escritórios de advocacia desapareceram em quatro anos.
No final de maio, foi decretada a falência do maior escritório americano, Dewey LeBoeuf, que tinha 1.400 advogados e uma dívida de US$ 315 milhões.
No ano passado, o escritório Howrey, de Washington, com 500 advogados, também declarou falência.
Mas o número de recém-formados é de 43 mil por ano. Em 20 anos, 26 novas faculdades de direito foram abertas. Cerca de 90% desses recém-formados têm uma dívida de crédito estudantil acima de US$ 98 mil (R$ 197 mil). O desemprego amplia a possibilidade de calote --nos EUA, o total das dívidas com crédito estudantil chega a US$ 1 bilhão (R$ 2 bilhões).
"A faculdade de direito é muito lucrativa porque, em vários casos, só depende de professor e giz, e formamos muito mais gente do que nosso mercado de trabalho consegue absorver", disse à Folha o professor William Henderson, da Universidade Indiana, que fez um trabalho sobre a crise das faculdades com a American Bar Association, a OAB local.
"O negócio jurídico ainda movimenta quase US$ 400 bilhões neste país, mas ele não tem crescido, o que dificulta a entrada dos mais jovens", explica.
Mesmo na Universidade Columbia, uma das melhores do país, o baque foi sentido. Na turma de 2011, 74% dos alunos do segundo ano conseguiram estágio, contra 92% no ano anterior.
Em carta aberta aos alunos, o diretor do curso de direito de Columbia, David Schizer, diz que "nossos estudantes estão encarando um mercado apertado como nunca antes".
Fonte: Folha de São Paulo
Tomei um susto ao ler que em 20 anos 26 faculdades de Direito foram abertas nos Estados Unidos. Aqui no Brasil foram mais de mil!!
Mas tirando a desproporção no número de instituições, os dramas vividos lá são exatamente os vividos aqui. Lá em decorrência da severa crise econômica. Aqui, um pitaco de crise e uma expansão surreal no número de faculdades em Direito.
Várias seccionais da OAB estão lutando para estabelecer um piso salarial para advogados empregados, isso em decorrência dos baixíssimos salários ofertados pelo mercado. UM número imenso de recém-formados parte para o universo dos concursos públicos por conta da saturação e falta de perspectivas na iniciativa privada.
Já cansei de ver depoimentos de jovens advogados amargurados em função da falta de oportunidades e perspectivas na área.
Sim, o sol está brilhando lá fora e é plenamente possível conquistar um lugar ao sol, mas isto exige do ainda estudante um planejamento sério da carreira ainda na faculdade. Não se trata só de ser um bom aluno e apreender bem o conteúdo: é preciso conhecer o mercado de trabalho e as perspectivas em vários ramos da atividade econômica para poder desde cedo direcionar os esforços para um alvo em específico.
Uma carreira na advocacia não deve ser construída em função do mero acaso ou das oportunidades que de repente saltam na vida do advogado: de preferência ela deve ser planejada, pensada e trabalhada de forma deliberada.
Creiam-me: ser bem-sucedido na advocacia leva mais tempo e é mais complicado do que ser aprovado em um concurso público.