Segunda, 13 de fevereiro de 2012
Para muita gente, curso a distância é sinônimo de diploma fácil, rápido e sem grandes exigências. Para a bancária Fabiana Pessôa, 31, também era assim. Até que ela começou, em 2006, a cursar as aulas da graduação em administração a distância na UnB (Universidade de Brasília), um projeto piloto de uma das principais universidades públicas do país.
?Na época, eu já cursava direito, na modalidade presencial, e estava indecisa. Quando soube do projeto da UnB, não tive dúvidas. Pensava que seria uma "mamata", mas tive que me dedicar bastante?, afirma Pessôa, que hoje exibe os dois diplomas universitários na parede. O de administração veio no fim do ano passado, depois de cinco anos de aulas.
Em princípio, a vantagem do ensino a distância (EAD) para Pessôa era ganhar tempo ao não precisar se deslocar diariamente até a UnB ? e ainda poder usar a hora do almoço para estudar. Ela percebeu, porém, que, além de economizar algumas horas do dia, a modalidade exigia um nível de dedicação maior do que a versão presencial. ?Eu tinha material para ler e atividades para entregar todos os dias da semana?, conta. ?Acho que me dediquei mais ao curso a distância do que ao presencial?, diz a bancária, que afirma ter mais facilidade para estudar sozinha do que em sala de aula, com mais gente.
Quebrando o mito de que os cursos a distância são mais fáceis do que os presenciais, um estudo feito em 2007 pelo Inep (órgão de avaliação e pesquisa do MEC) com base nos resultados do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes, que avalia o ensino superior) apontou que os alunos de cursos a distância estavam melhor preparados. Em sete das 13 áreas onde a comparação entre as modalidades foi possível, universitários que estudavam a distância tiveram desempenho superior aos demais.
Para Pessôa, o curso de administração a distância não foi fácil. "Tenho colegas que não ainda se formaram porque reprovaram em algumas disciplinas", diz. Apesar da dedicação ao curso, ela teve de recorrer a aulas presenciais de reforço aos sábados para vencer um dos conteúdos. ?Matemática financeira era meu ponto fraco?, conta. Hoje, a bancária diz sentir-se bem preparada como administradora e acredita que o diploma vai ajudá-la na ascensão profissional.
Quinta tentativa
Em dois meses, Luiz Ricardo Freitas, 34, terá em mãos seu desejado diploma de administração. Bem-sucedida, esta foi a quinta tentativa de Freitas de se formar na área ?ele já havia começado quatro cursos presenciais antes de se matricular em administração a distância na Unopar (Universidade do Norte do Paraná), instituição particular de ensino.
Para poder crescer na carreira administrativa dentro de um grande banco, ele frequentemente aceitava transferências, interrompendo a faculdade. Quando foi nomeado para Ibotirama, cidade baiana de pouco mais de 25 mil habitantes, Freitas pensou que teria de enterrar a vontade de terminar a faculdade. ?Pensava que não teria oportunidade de estudar em uma cidade tão pequena?, conta. Um polo de EAD na região, porém, fez com que ele decidisse apostar na modalidade. ?Pensei: tem só uma aula por semana, é tranquilo?, lembra.
Quando começaram as aulas, foi um susto. Na cidade pacata, Freitas teve de imprimir um ritmo intenso de estudos. ?O curso tinha uma bibliografia extensa, atividades diárias e muita produção de textos. Percebi que essa modalidade exige mais do aluno?, diz ele, que hoje, mesmo sem ter terminado o curso, já vê o resultado do esforço: ?Passei em sete provas de certificação interna do banco?, diz.
Freitas, do alto de sua experiência com cinco cursos diferentes, é categórico: a modalidade a distância permite que o aluno aprenda mais do que nos cursos presenciais. ?Antes, eu chegava da faculdade cansado e ia dormir. Então, o que professor falava é o que valia, eu era muito dependente?, afirma. Ele vivenciou ainda outras duas vantagens no EAD: ao ser transferido novamente, não precisou interromper o curso ? apenas mudou de polo, mantendo a grade curricular e os professores ?, e passou a estudar na hora que queria. ?Pude dar mais atenção a minha família. Chegava do trabalho e brincava com as minhas filhas. Depois que elas iam dormir, eu estudava.?
Aulas pela TV
Para Fernanda Gonzalez Saback, 27, não foi a falta de opções de cursos na região que a fez buscar o ensino a distância. Em 2007, Saback morava em Lauro de Freitas, cidade da região metropolitana de Salvador, e estudava para prestar concursos na área jurídica. Para poupar tempo no trânsito ?e poder estudar ainda mais-, fez as contas. ?Levaria uma hora de carro só para chegar ao curso. Para quem está estudando firme, perder duas horas por dia com deslocamento é tempo demais?, diz.
Por isso, Saback preferiu fazer o curso preparatório em modo ?telepresencial?, na rede privada de ensino LFG. Nesse modelo, um professor em outro lugar do Brasil dá uma aula expositiva, transmitida em tempo real para várias unidades da LFG em todo o Brasil, incluindo a de Lauro de Freitas. ?Fiz dois cursos nesse sistema. Foram ótimos?, afirma.
Além de facilitar seu deslocamento, ela diz ter gostado da parte didática. ?A aula rende mais porque não há interrupção. O professor passa o conteúdo durante quatro horas e responde dúvidas enviadas por email apenas no final da aula?, conta ela, que reforçou o nível de concentração durante o curso. Para Saback, a dedicação às aulas deu frutos: ela foi aprovada em um concurso para a Advocacia Geral da União, cargo para o qual foi convocada em dezembro de 2010.
Fonte: UOL
A matéria do UOL é extremamente benevolente com a graduação a distância, sem considerar a "pontinha" do curso LFG em sua parte final.
Enfim, estudar em uma modalidade não presencial é isso tudo mesmo?
É de se questionar...
Que o ensino a distância veio para ficar disso não tenho dúvidas. Eu mesmo faço parte de uma estrutura que se beneficia dessa modalidade, mas nem por isso posso defendê-la categoricamente.
Uma coisa, sem dúvida, é você oferecer um curso online, por exemplo, para que vai fazer um Exame da OAB, ou se preparar para concursos, visando quem JÁ POSSUI formação específica na área.
Neste caso, a base já existe, e o aluno apenas reforça o que já estudou ou absorve mais conteúdos já possuindo a devida base de conhecimento previamente adquirido.
Outra, distinta, é ter a vida acadêmica inteira cursada via computador ou mesmo na modalidade telepresencial (satelitária), desde o início, sem contato com professores e com a vida acadêmica.
Não tenho dúvidas: educação no Brasil hoje é business, assim mesmo, na sua grafia em inglês. Podemos tomar por exemplo o desempenho da maioria das faculdades privadas no Exame de Ordem: é pífio! E a maioria dos egressos dessas instituições advieram da modalidade presencial.
Pergunto: o aluno do ensino a distância oriundo desse tipo de instituição vai estudar mais? Vai ser mais compenetrado e vai ser tratado com menos indulgência comparando com um aluno do ensino presencial?
Não dá para afirmar, de plano, nem que sim e nem que não.
Mas consideremos o seguinte:
1 - O que é mais vantajoso para uma faculdade? Ter uma sala presencial com 1 professor e 50 alunos ou uma sala virtual com 1 professor e, digamos, uns 600 alunos? A resposta é óbvia;
2 - O atendimento a esses supostos 600 alunos será integral, sério e sem ressalvas? Pois quanto maior o corpo discente maior o custo operacional: monitores, tutores e corretores de trabalhos. As faculdades vão arcar também com esses custos, atendendo a todos de forma SATISFATÓRIA?
3 - Esse volume de trabalho extra será analisado seriamente? A reportagem acima afirma isso estusiasticamente, mas, sinceramente, eu não afirmaria isso de forma tão colorida e categórica.
Considerando estarmos no Brasil, considerando a expansão desenfreada de cursos e considerando que metade das nossas faculdades de Direito pertencem a apenas 5 grupos empresariais, e, que os alunos egressos desses cursos não vão muito bem na prova da OAB, eu não botaria tantas esperanças nessa modalidade.
Eu não boto, mas o Estado, sim:
Aluno de ensino superior a distância poderá ter acesso ao Fies
A Câmara analisa o Projeto de Decreto Legislativo (PDC) 534/11, do deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP), que susta a portaria do Ministério da Educação (1/10) que proíbe alunos de cursos superiores não presenciais de utilizarem os recursos do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies).
Para o autor, ao inserir novo ordenamento jurídico por meio de portaria, o MEC extrapolou os limites da delegação legislativa. Segundo Nogueira, a portaria claramente inova na ordem jurídica, ao inserir proibição que não está contida ? expressa ou implicitamente ? na lei que institui o Fies (10.260/01).
?A lei do Fies não restringe a abrangência do fundo aos cursos oferecidos na modalidade presencial. A redação do artigo 1º menciona tão somente a exigência de que se trate de ?cursos superiores não gratuitos e com avaliação positiva nos processos conduzidos pelo Ministério da Educação??, argumenta Nogueira.
Pelas regras atuais, podem solicitar o financiamento pelo Fies, que cobra taxas de juros mais baixas que as do mercado, os estudantes regularmente matriculados em cursos de graduação presenciais não gratuitos que tenham obtido avaliação positiva no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) e que sejam oferecidos por instituição de ensino participante do programa.
Tramitação O projeto será analisado pelas comissões de Educação e Cultura; e de Constituição e Justiça e de Cidadania (inclusive quanto ao mérito). Em seguida, seguirá para análise do Plenário.
Íntegra da proposta:
Fonte: Agência Câmara
Vocês têm alguma dúvida se esse projeto será ou não aprovado? Não tenham! Ele será, e com folga.
O importante é não tratar as inovações como uma panaceia, tal como a 1ª reportagem tratou. Existem vantagens no ensino a distância? Claro! Eu mesmo falo sobre elas o tempo todo aqui, mas precisamos considerar o contexto e o propósito a ser atendido.
Ensino a distância é bom, mas também pode ser ruim, em especial quando estamos falando da graduação, da formação inicial em uma cadeira universitária.
De toda forma, gostando ou não, essa modalidade vai se expandir fortemente nos próximos anos. E, ao menos na área o Direito, quando esses futuros bacharéis forem fazer a prova da OAB, veremos se eu devo ou não morder a língua.
O tempo dirá.