Segunda, 14 de novembro de 2016
Acabei de conversar com uma amiga que depois de um tempo resolveu ingressar na advocacia em uma cidade do interior do Paraná. Escolheu a área Criminal para trabalhar.
Para quem está começando, evidentemente, tudo é mais difícil, assim como é para a imensa maioria de examinandos: o começo nunca é fácil e é preciso perseverar. Com ela não está sendo diferente.
Mas não basta só enfrentar as agruras do mercado, a crise econômica e clientes que estão desaparecendo. É preciso enfrentar também os colegas advogados.
Bom, até aí nada demais: enfrentar colegas faz parte da lógica do mercado. Existem advogados em profusão e todos estão em busca dos clientes. O lógico, evidentemente, seria que os clientes escolhessem livremente entre as diversas opções, considerando aqui a capacidade técnica, a inteligência, o preparo e a fama de cada profissional. Esse seria o cenário ideal.
Mas este cenário, o ?ideal?, cada vez mais é utópico.
Reparem só no relato abaixo:
O que nós temos são advogados predadores, aves de rapina que prostituem a profissão, os próprios honorários e a classe como um todo para ?furtar?, por assim dizer, clientes de outros advogados, soba eterna promessa de fazer melhor e mais barato.
Não é a tôa que a tabela de honorários encontra-se cada vez mais solapada, jogada ao plano abstrato do ?deveria ser?, mas que efetivamente quase nunca é, pois parcela do membros da própria classe destroem sistematicamente as chances dos honorários serem dignamente negociados.
Não estudam, não estão preparados, não trabalham no próprio crescimento profissional e, para sobreviver, canibalizam o mercado.
A lógica é irrefutável! Quem trabalha abaixo da tabela da OAB ou ainda está no início da profissão, sem contatos e expressão no mercado, ou é um profissional envelhecido que não se ajusta para a nova realidade, não estuda e precisa abrir o caminho para conseguir o ganha-pão de qualquer jeito.
Denegrir um colega, prometer um resultado melhor, cobrar mais barato e não necessariamente entregar o que prometeu é algo fácil demais. Mais fácil do que estudar e se preparar, por certo. E é isso que destrói o mercado da advocacia.
E isso é muito, mas muito comum.
Esse tipo de profissional, de comportamento predatório e antissocial (no sentido de desconstruir a própria classe) representa um problema e também um alívio.
Problema porque ele corrói a base, onde está a maioria dos advogados, em especial os jovens. É esse o profissional que auxilia imensamente a massacrar os preços e os valores a serem pagos a todos.
São eles que ratificam a postura de muitos clientes que fazem verdadeiros leilões entre profissionais, sempre em busca do menor valor, como se a advocacia fosse uma atividade-fim, e não atividade-meio.
Queimam a imagem da classe.
O alívio está em saber que eles estão eternamente condenados a permanecerem no piso, pois essa postura é mal vista e evitada por quem precisa de um advogado para resolver um problema efetivamente custoso e relevante.
Quem se prostitui é visto desta forma pelo mercado. Nunca vai ascender.
Dificulta a vida de muito no início, mas depois deixa de ser um problema, pois quem é sério sempre cresce, com mais ou menos tempo.
Esse é um ponto relevante: só tem chance de crescer na profissão quem constrói em torno de si uma aura de honestidade, eficiência e autovalorização. Se a tabela manda o advogado cobrar R$ 5 mil e ele cobra só R$ 600,00, ele está fazendo um imenso mal a si mesmo, pois vai trabalhar para ganhar uma miséria e vai gastar um tempo (artigo precioso) para conduzir um processo que não lhe dará a recompensa esperada pelo esforço necessário para tocar a causa.
Moral da história: sempre vai tratar o processo com relativo desleixo, afinal, a percepção de retorno pelos honorários granjeados pela causa nunca o satisfará.
Ao fim, sempre será um advogado mais-ou-menos porque nunca vai obter da profissão a valorização que os honorários oferecem. Nunca vai tocar seriamente uma causa porque a recompensa será medíocre. Ou seja, ele, em última instância, prejudica a si mesmo e prejudica os demais.
Quando vocês forem negociar com seus clientes evitem entrar em um leilão e, sempre que possível, fechem logo um contrato escrito, com cláusulas pra se proteger de colegas inescrupulosos.
Lembrem-se: quem entra em leilão denigre a si mesmo. Quem o recusa perde o cliente e os honorários, mas ganha em valor. Quem vence uma disputa com um colega na base do preço, ganha o dinheiro, mas perde em valor.
No longo prazo, quem não entra nesse jogo sai ganhando.