Terça, 10 de janeiro de 2012
O Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) divulgou em novembro os resultados da sétima edição do seu exame de avaliação dos estudantes de Medicina que cursam o sexto ano de faculdade. Os números assustaram: 46% dos futuros médicos foram reprovados. O resultado do exame do Cremesp fez com que três projetos que tramitam na Câmara Federal voltassem à pauta. Tanto o Projeto de Lei (PL) 650/2007, proposto pelo deputado Ribamar Alves (PSB/MA), quanto o PL 999/2007, do deputado Marcos Medrado (PDT/BA), e o 6867/2010, proposto pelo deputado Paes de Lira (PTC/SP) criam um exame de qualificação para a prática profissional médica. Na prática, a prova funcionaria aos moldes do que já é feito pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
A ideia de um exame de ordem para médicos não agrada às entidades que representam os profissionais e que fiscalizam a profissão. "Temos uma posição unânime no Brasil, entre os conselhos estaduais e o Conselho Federal de Medicina (CFM). Somos contra o exame para médicos", afirma o presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Fernando Matos.
A criação da avaliação poderia criar uma categoria de profissionais à parte, formada por graduados em Medicina que não foram aprovados na avaliação. "Dentro da lei brasileira, esse profissional formado não poderia praticar a Medicina, pois não receberia o registro profissional", diz Matos. O médico compara a situação com o que ocorre em Cuba. "Eles fazem quatro anos de faculdade. Quem não consegue uma determinada nota no exame, não faz os anos restantes, mas se forma um bacharel em Medicina e vai trabalhar fazendo medicina de baixa qualidade.
Ele é ruim. Esse médico acaba atuando na medicina de família. Se fizermos isso no Brasil, estaremos nos equiparando com a medicina cubana, formando precariamente médicos para jogar para o atendimento da população de baixa renda", enfatiza.
Matos acredita que pelo que já se discutiu, a intenção apresentada é de que o próprio Ministério da Educação (MEC) realizasse a prova, diferentemente do que ocorre no caso dos advogados. O conselho defende uma análise aprofundada dos cursos de Medicina e a correção das falhas existentes. O passo seguinte seria a avaliação dos estudantes, mas não uma avaliação através de um exame único ao final do curso. "Se, mesmo com faculdades boas e professores qualificados, os alunos não corresponderem, então é porque eles não estudam. Somos a favor de que haja exames durante o curso, a cada dois ou três anos. Quem não passa na prova, refaz a parte do curso na qual não foi bem", ressalta o médico.
Uma das razões para que exames periódicos fossem realizados está no não desperdício de recursos, principalmente em relação a estudantes de faculdades públicas. "Investe-se seis anos no aluno e ele, por motivos vários, não estuda. Então, ao final do curso, percebe-se que ele não está preparado? Se perdeu aquele investimento. Isso deve ser evitado. Tem de se fazer as avaliações antes de ele chegar ao final do curso", observa Matos, garantindo que, se forem aprovados em Brasília, os projetos serão barrados no Judiciário.
Os projetos seguem tramitando no Congresso, sem data definida para serem levados à votação em plenário. O relator dos PLs é o deputado federal gaúcho Ronaldo Nogueira (PTB).
Fonte: Jornal do Comércio
A preocupação mostrada na matéria é unidirecional: o destino dos eventuais reprovados no caso da instituição de um exame de suficiência para medicina.
Em momento algum foi externalizada uma preocupação com os destinatários dos serviços desses futuros profissionais: todos nós.
Em novembro do ano passado, ao publicarem os dados da prova aplicada pelo Cremesp (feita apenas por voluntários, é bom frisar), constatou-se que, na prática, os formandos não sabem atividades básicas, como ler radiografias e fazer um diagnóstico correto. A maioria também indicaria o tratamento errado para problemas como infecção na garganta, meningite, sífilis e outros:
A ideia de "defender uma análise aprofundada dos cursos de Medicina e a correção das falhas existentes" não encontra respaldo na realidade, pois sabemos como o MEC vem tratando da qualidade de outros cursos superiores, em especial os cursos jurídicos. Abertura de cursos sendo deferidas de forma indiscriminada e fiscalizações precárias dão a tônica do papel do MEC. Os cursos de medicina não seriam privilegiados com uma atenção especial.
A classe médica vem adotando uma posição refratária a um Exame semelhante ao da OAB, e o debate tem crescido substancialmente -
Resta saber se o modelo de provas durante a faculdade é o melhor, observando-se o interesse da coletividade.
Há de considerar também que o atual modelo do Exame de Ordem não é, exatamente, o melhor diante dos interesses da coletividade.
Ao menos é melhor do que nada.