Terça, 13 de novembro de 2012
Há três semanas publiquei um post sobre a história de superação da Drª "Fulana" - Uma linda história de superação - uma história verdadeiramente comovente de luta e superação que me foi enviada por uma de suas amigas.
Não resisti, busquei e consegui o contato da "Drª Fulana". Ela gentilmente se dispôs a contar pessoalmente sua história, e com muitos mais riqueza de detalhes.
Inspirador não só para quem deseja passar pelo Exame de Ordem, mas para quem tem um grande desafio pela frente. Qualquer desafio!
A "Drª Fulana" tem nome, ela se chama Fabiana Aparecida Santos, e esta é sua história:
"A vida é feita de surpresas e, algumas, não são tão agradáveis tanto quanto gostaríamos que fossem, mas, eu acredito piamente que todas as coisas, sempre, cooperarão para o meu bem, pois, eu amo a Deus e assim a Bíblia me garante.
Eu tinha 17 anos e carregava muitos sonhos na mochila. A época era propícia. Terminaria meus estudos e me dedicaria o suficiente para conseguir uma bolsa em alguma faculdade.
Obstáculos nunca me intimidaram. Morando na periferia de Itaquaquecetuba, município da grande São Paulo, filha de uma empregada doméstica e viúva, nada nunca foi maior do que minha força de vontade e esperança.
Mas, como eu disse, a vida me reservava grandes surpresas pelo caminho e, em julho do ano 2.000, tudo começou.
Uma forte dor sem sintomas veio avisar-me de que uma úlcera de córnea havia gerado uma infecção em meu olho esquerdo e que, se o mesmo não fosse extraído naquele dia 01 de agosto daquele ano, no outro dia, 02, quando eu faria 18 anos, eu perderia a minha vida, pois, a infecção era forte e logo tomaria proporções maiores atingindo meu cérebro.
Como se não bastasse, durante o pós operatório, foi descoberto, no olho direito, um glaucoma complicadíssimo o qual exigia tratamentos sérios.
Então, começaram as idas e vindas ao hospital, as inúmeras cirurgias, todas bem dolorosas por conta da minha tolerância a anestesia local, as dificuldades agora mais acentuadas e tudo terminou em escuridão.
Agora eu tinha dezenove anos e um diagnóstico: ?não enxergar nunca mais?.
Difícil sonhar quando a vida de repente nos fecha a porta? Sim, mas, não impossível.
O Braille, codificação usada pelos deficientes visuais para ler e escrever, sistema que determinadas pessoas levam cerca de seis meses no mínimo para aprender, eu aprendi em semanas e, acreditem, sozinha em casa, indo a uma associação apenas para aprender a manipular a reglete, instrumento utilizado na leitura e escrita.
Nesta instituição, fiquei sabendo que a UNICID, Universidade Cidade de São Paulo, na época, concedia bolsa a portadores de deficiência e para lá que eu fui. Prestei vestibular para Direito e, em 2003, iniciei a carreira jurídica.
Não haviam livros em Braille e mesmo que houvesse, seria impossível carregá-los por conta do grande volume. As aulas ministradas eram o suficiente. Gravava, ouvia e copiava. Finais de semanas inteiros copiando aulas. Os demais alunos tinham livros para ler e eu não tinha sequer internet. Quando haviam provas todos os dias, meu Deus, eu achava que não iria conseguir.
Quantas vezes eu chorei...
Eu tinha um compromisso. Teria que fazer valer a confiança de minha mãe, ela sempre acreditou em mim. Tinha que fazer por merecer a bolsa concedida pela universidade, nunca fiquei com DPs. Tinha que incentivar pessoas através de minha conduta, a quantos eu inspirei?
Por fim a faculdade terminou ao cabo de cinco longos anos e a questão me surgiu: ser ou não ser advogada?
Creio que todos os bacharéis em Direito, anseiam obter a Carteira da OAB e comigo não foi diferente. Tê-la em minhas mãos seria um troféu a ostentar. Uma questão de honra!
Quantos não acreditavam? Pessoas da minha própria família diziam que só acreditariam vendo. Diziam que meu castelo logo desabaria e coisas do tipo. Suportei palavras de desprezo e preconceitos de colegas e professores, dentre tantas outras coisas. Deus havia me levado até o quinto ano, por que não me daria a honra de concluir mais uma etapa?
Em 2.008, prestei o exame de Nº. 134. A prova foi com ledor. Ele lia e eu respondia. Resultado: aprovada.
Para a segunda fase, por nunca ter feito prática, me senti acuada a escolher qualquer matéria que não fosse Direito Penal, quando em um cursinho rápido, conheci a todas as peças possíveis e lá fui eu com três volumes do Capes, os quais eu nem sabia se iria usar, afinal eu não enxergo! (risos).
Para minha surpresa, a ledora escolhida era uma artista plástica! A prova escolhida foi a de Nº. 3 ela estava lendo a de Nº. 1 e eu já até iria começar a fazer a peça, quando fui interrompida pelo fiscal de sala... Havíamos começado a prova errada! Que susto!
Coração na mão começamos a tecer a peça. Ela leu bem a doutrina! Tudo bem que ela desconhecia o que era um parágrafo, mas, eu já estava na chuva, então, me molhar era a opção.
Fim de prova começo de espera. Aquele resultado foi bem adiado. Sofri...
Sai o resultado, mas, meu nome não estava na lista. Que dor!
Uma pessoa maravilhosa me impulsionou a não desistir. Eu tinha ficado por muito pouco e, enquanto um examinador havia me dado 1,5 na peça, o outro, me deu 4,0. Que disparidade!
No último dia de prazo para recorrer, providenciamos o recurso e, quando do resultado, meu direito havia sido reconhecido. A Fabiana, agora assinaria Dra. Fabiana.
Alguns meses depois, fui contratada pela empresa onde trabalho até hoje. São quase quatro anos de novas experiências, conquistas e vitórias.
Pós-graduada em Processo Civil, tenho muitos projetos para o futuro, sempre! Porém, minha vida está nas mãos de Deus. Ele escreve minha história como quiser. Seus propósitos são maiores e melhores. Ele tem cuidado de mim e eu não chegaria a lugar nenhum sem ele.
Superação, disposição e muita força de vontade. Aprendi que posso ir até onde eu quiser. Não há limites diante de um sonho.
Saiba que o caminho pode ser cruel. Quantos machucados a vida nos proporciona. Quantas quedas em lugares de onde parece que jamais sairemos... Mas, nós somos maiores, nós sempre conseguiremos andar mais um pouco e quando virmos teremos chegado ao destino final. E aí então, olharemos para trás e com muita força diremos: valeu a pena!
Fabiana Aparecida Santos"