Terça, 19 de março de 2013
Sabe aquela prova na qual o comando da questão determinava a marcação da alternativa INcorreta e você ?não viu? o IN, ainda que esta informação estivesse diante de sua retina? Sabe aquela ocasião na qual você saiu de casa e ?esqueceu? de pegar as chaves do carro, tendo se deparado com esta omissão apenas ao tentar abrir o carro? Pois bem, em ambos os casos ouve uma ?falha? na mobilização do seu córtex pré-frontal.
Como assim? O que isto quer dizer? Em que medida entender isto pode ajudar nos estudos e nas provas?
Vamos lá?
O córtex pré-frontal consiste em uma parte do nosso cérebro, localizada no lobo frontal, responsável pela atenção, ou seja, pelo chamado na neurociência fenômeno atencional (PANTANO, Telma. Neurociência aplicada à aprendizagem. São Paulo: Pulso, 2009, pág 24). A atenção, por sua vez, consiste numa função cognitiva primária, que envolve a seleção de estímulos e informações que serão processados.
Quando estamos estudando e pretendemos nos apropriar intelectualmente de uma informação ou conceito, obviamente que com a intenção de que esteja disponível na hora da prova, tudo começa com a atenção ou concentração. Ou seja, tudo começa com o foco na informação ou estímulo. Assim, precisamos romper os filtros atencionais, para que o estímulo ou informação seja neurocognitivamente capturado e processado.
E um dos principais responsáveis por isto é o nosso amigo córtex pré-frontal.
Muita gente afirma que é esquecida, porque sempre esquece a chave do carro em casa. Ou que sempre esquece algo ao sair de casa. E daí considera que tem um problema de memória.
Mentira! Esta visão está equivocada. O problema não é de memória. O problema é de atenção, de mobilização de córtex pré-frontal.
Costumo afirmar que estas pessoas saem de casa estando, mentalmente e cognitivamente, já dentro do carro. Estas pessoas não saem de casa saindo de casa.
Portanto, não se trata de um problema de memória, mas de atenção.
A atenção e concentração são funções cognitivas de enorme importância, não apenas nos estudos, mas também na realização de provas. Não por acaso existem vários textos publicados no Blog sobre o tema, com diversas abordagens (clique aqui para ler textos sobre Concentração e Memória).
E tudo passa pelo nosso amigo córtex pré-frontal!
O atualmente tão comentado TDAH ? Transtorno de Hiperatividade e Déficit de Atenção ? tem como centro um problema de frontalização, ou seja, uma limitação no funcionamento no córtex pré-frontal. E, em tese, o metilfenidato, princípio ativo da famosa Ritalina, age nesta área.
Isto significa que a Ritalina tende a contribuir com a atenção. Mas não há resultados indicativos de que repercuta de forma direta na memória, sendo que quem tem esta percepção esta passando pelo efeito placebo (clique para ler Ritalina não Aumenta a Memória!).
Portanto, caros amigos e caras amigas, é preciso mobilizar o nosso córtex pré-frontal para tudo o que estivermos fazendo e mereça ou exija a nossa atenção! Isto vale para a leitura do enunciado de uma questão, para o conteúdo que estamos estudando, para o procedimento de sair de casa e, principalmente, para quando estamos ao volante. Afinal, para passarmos no concurso público e nos mantermos no cargo é preciso estar vivo!
Muito bem, diante desta compreensão, poder-se-ia indagar: e qual a importância de saber disto? Esta noção vai me fazer ter mais atenção?
O primeiro aspecto importante é que, como tenho sempre sustentado reiteradamente, a verdade nos liberta! Daí a minha crítica aos especialistas (sem especialização) em preparação para concursos, os quais apresentam construções e soluções na base do achismo e sem fundamentação.
O segundo aspecto fundamental é que, tomando consciência, temos melhores condições de estar no controle e mudar o que está ocorrendo. Se sei a verdadeira causa de ter esquecido as chaves e de não ter visto que antes de ?correta? havia as letras ?IN? isto pode me ajudar a evitar a repetição deste fenômeno, pois posso me policiar mais.
Por fim, esta tomada de consciência nos permite agir e construir estratégias. Inclusive compatíveis com as nossas particularidades.
Por exemplo, se vou sair de casa e sei que se o meu córtex pré frontal não está mobilizado para este procedimento, tenderei a esquecer algo importante. Daí trabalho para focar nisto, procurando mobilizar o meu córtex pré-frontal. Inclusive criando uma imagem mental do nosso cérebro desenvolvendo esta atividade já ajuda, sendo que recorro com freqüência a esta estratégia, tendo bons resultados.
Repare que no começo do texto destaquei e coloquei em aspas as palavras ?não viu?, ?esqueceu?e ?falha?. Agora está claro o motivo das aspas? No caso, a retina havia captado a informação, mas o córtex pré-frontal é que não capturou. Não houve esquecimento, na medida em que não houve formação de memória, pois o córtex pré-frontal não havia processado a informação ?esquecida?. E, na verdade, a falha não foi do córtex pré-frontal, mas sua, que não o mobilizou para o que deveria ter sido mobilizado.
Portanto, tome consciência dos conceitos e informações aqui trabalhados. E saiba que você tem um grande aliado para lhe ajudar na vida, no dia a dia, nos estudos e nas provas, que não pode ter sua ajuda dispensada: o seu amigo córtex pré-frontal!