Como poderá ser o Exame de Ordem na era da repescagem?

Sexta, 11 de outubro de 2013

Faz sentido falar em uma "era" da repescagem?

Sim, faz. Trata-se, na verdade, da maior mudança estrutural no Exame de Ordem desde sua criação e sua implementação alterará em alguma medida a dinâmica de preparação e de aprovação no Exame.

Podemos falar, por assim dizer, em duas grandes mudanças no Exame. A primeira foi a unificação e a segunda, que está para começar, é a repescagem.

A unificação quebrou uma dinâmica anterior de disparidade entre as provas em todo o Brasil. Em algumas seccionais os percentuais de aprovação beiravam os 90%, e, logo após aderirem ao então processo de unificação, ainda sob a batuta do CESPE, caíram vertiginosamente, para algo próximo aos 10%.

Era comum que bacharéis migrassem de uma seccional para outra buscando melhores condições de aprovação, evitando assim provas mais severas.

A unificação deu um fim a isso, tornando o desafio igual a todos os bacharéis por todo o país e permitindo uma avaliação melhor não só dos candidatos como das próprias instituições de ensino.

Permitiu também que a crítica à prova fosse nacional, dando-lhe muito mais visibilidade e ajudando, aos trancos e barrancos, a melhorar o certame. Foi nessa época, no meio do processo de unificação, que nasceu inclusive o Blog Exame de Ordem.

A unificação portanto foi, até aqui, a grande mudança no Exame.

Agora vem a repescagem, aprovada pelo pleno do CFOAB no começo deste mês. E ela, a repescagem, vai produzir uma mudança interna, procedimental, e modificará a dinâmica de preparação dos candidatos e, também, impactará na forma como a OAB irá modular sua dificuldade.

O que vou escrever agora é MINHA visão sobre as mudanças. E acredito que estarei muito próximo do que efetivamente virá a ser implementado, por conta do que consigo filtrar e compreender de algumas fontes que tenho.

Para começar, não é possível entender a repescagem sem antes falar da mais importante edição do Exame de Ordem aplicada até hoje: o X Exame de Ordem.

Sim! O X Exame foi a edição mais impactante da história do Exame e é a que, a olhos vistos, tem produzido o maior número de modificações na prova, e também na própria forma como a OAB vê o Exame.

A repescagem não era uma ideia nova e já vinha sendo cultivada há alguns anos por alguns dentro da OAB. O X Exame precipitou a a sua adoção.

Por quê?

Problemas de redação na 2ª fase do Exame de Ordem gerou uma onda de manifestações que culminaram em um embate aberto dentro do Pleno do CFOAB, com muitos questionamentos sobre a qualidade da prova e mesmo sobre o próprio papel do Pleno e seu poder, limitado pela redação do Provimento 144/11, o provimento do Exame.

foto (1) foto (3) Como resposta imediata a OAB efetuou uma série de mudanças no edital do XI Exame para abarcar pontos conflitantes decorrentes das provas da edição passada. A banca passou a admitir o uso de jurisprudência pacificada dos tribunais superiores, elidindo assim quaisquer reclamações neste sentido: 1 Criaram uma regra específica para a marcação das questões na folha de resposta, visando deixar muito claro quando houver falhas na marcação da folha de resposta: 12 A banca impõe explicitamente agora que o candidato tem de conhecer as regras processuais de sua disciplina e, também, assim como na 1ª fase, abre a prova para a jurisprudência pacificada dos Tribunais Superiores!! 11 Trechos de códigos proibidos passaram a a implicar na vedação absoluta do material, não sendo mais permitido o seu isolamento: 13 As alterações foram uma clara reação aos problemas e questionamentos feitos no X Exame de Ordem. A OAB prestou atenção em tudo e agora está reagindo, e reagindo no sentido de complicar a prova para os candidatos e facilitar para ela mesma. E, agora no começo do mês, a repescagem e outras mudanças na prova foram implementadas e passarão a valer na próxima prova: Publicação do padrão no dia da prova, tal como ocorreu no último domingo;  A repescagem uma única vez e no Exame subsequente; 5

Mais poderes para o Coordenador Nacional do Exame de Ordem, e;

Divulgação dos membros das bancas da OAB e da FGV.

Vejam todos os detalhes no post O novo Exame de Ordem! Tudo sobre as mudanças no provimento do Exame da OAB!

Essas foram mudanças estruturais e visíveis e farão parte do futuro do Exame.

Mas há um tipo de mudança invisível aos olhos e só passível de ser sentida na hora da verdade, na hora em que a prova é aplicada. Essa mudança é silenciosa e NUNCA vai ser ventilada, mas tenho boas razões para crer que ela acontecerá, e de forma quase que inevitável.

E o que seria?

As mudanças que interessam

Eu sempre escrevi que para uma tendência no Exame de Ordem ser confirmada eram necessárias 3 edições da prova para a tendência ser confirmada.

Mas desta vez, dado o contexto, eu acho que já temos uma tendência instalada, e a repescagem seria a pá de cal para verdadeiramente cremos nela.

Já pararam para pensar nas discrepâncias estatísticas entre o X e o XI Exames? São tão marcantes que, somadas com as mudanças acima mostradas, conduzem à conclusão de que tudo é muito pensado e o acaso não faz parte dos eventos.

Não, não há espaço para o acaso aqui...

No X Exame, dentre os quase 125 mil inscritos, 54% (67.441) foram a provados na 1ª fase, sendo que 32 mil foram aprovados na 2ª etapa (25%).

Os números superlativos do X Exame, entretanto, não encontraram espaço no XI Exame. Ao contrário!

Dos inscritos 101 mil inscritos nesta edição, apenas 19,67% (19.866) dos candidatos lograram a aprovação na 1ª fase.

O que explica a queda tão abrupta entre uma 1ª fase (54%) e outra (19,67%)?

Vamos juntar os elementos: de um lado uma série de mudanças formais entre uma e outra edição, com mudanças relevantes no edital, alteração no provimento e a adoção da inédita repescagem de provimento. Por outro lado uma queda abrupta no percentual de aprovados entre o X e o XI Exames.

Coincidência?

Uns podem achar, mas há um terceiro elemento que ainda não mencionei que, para mim, fecha a equação: as provas da última 2ªfase e a reação geral dos examinandos.

Perceberam como as provas da atual 2ª fase foram muito, mas muito mais tranquilas que a do Exame anterior (tirando aqui problema na identificação da peça na prova de Civil, apontado por alguns candidatos) e a quase ausência de questionamentos, em especial se comprarmos com a 2ª fase do X Exame?

A diferença é NOTÁVEL!

E ela, a diferença, não é resultado do acaso: a OAB deu uma apertada na FGV e o processo de elaboração das provas está sendo melhor supervisionado.

Mas não é mera questão da qualidade da prova, que passou por uma melhora, mas sim por um número menor de aprovados. E, como sabemos, quanto menos aprovados, mais fácil é tomar conta da prova e dos problemas pelo lado da OAB.

Somando os fatores da equação

Visto o contexto geral, vamos a nossa conclusão.

Somando a repescagem, que assegurará a 2ª fase aos reprovados nas próximas 2ªs fases, com a percepção, por parte da Ordem (constatação REAL lá dentro), de que a 2ª fase é menos problemática se tiver menos aprovados, com todas as mudanças formais até agora adotadas tanto no edital como no provimento, é muito possível que as futuras edições da prova passem a ser uma reprodução do que está sendo o atual XI Exame de Ordem.

Seria o fim das variações estatísticas de aprovação nas duas fases da OAB.

A equação, enfim, seria uma 1ª fase com um percentual baixo de aprovados, tal como a 1ª fase do XI Exame, e provas de 2ª fase mais tranquilas, também como está acontecendo agora, fazendo o devido desconto em relação a eventuais problemas pontuais que surgirem.

Isso é, antes de tudo, uma especulação MINHA, mas é uma especulação com base em alguns elementos que são de conhecimento de todos e outros nem tanto assim.

E não vamos precisar esperar tanto para ver se a especulação se confirma ou não. Já na próxima prova objetiva poderemos concluir se essa será mesmo a tendência.

Aguardemos.