Terça, 3 de dezembro de 2013
Como resolver questões objetivas da OAB sem saber NADA do conteúdo da disciplina?
"Chutando!", responderia o mais afoito!
Certo?
Mais ou menos!
O chute, na verdade, é a última ação, a última fronteira a ser usada pelo examinando. Quando não tem mais nada a fazer, quando a resposta for absolutamente incognoscível (uau!), o chute é a medida a ser imposta.
Mas antes do chute vem algo mais eficiente: o bom senso e a lógica! Com eles é possível responder algumas questões sem precisar apelar para o chute, e com isso somar pontos preciosos.
Evidentemente, em regra o desconhecimento do conteúdo inviabiliza gravemente a chance de acertar uma questão, e o uso da lógica e do bom-senso na busca da resposta correta encontra óbvias limitações.
Somente quando não há mais alternativa, ou seja, o candidato não sabe mesmo a resposta, que o uso do raciocínio e da coerência deve entrar em campo.
Vamos ver como funciona na prática?
Vou me valer só de questões da prova passada, e a primeira é de Direito Civil:
Enunciado enjoado, né? Ele foi concebido de forma intrincada exatamente para confundir o raciocínio e induzir ao erro. Mas com uma leitura atenta é possível achar a alternativa correta.
Vamos por etapas:
1 - A MAC Geral adquiriu de AC industrial equipamentos para fazer churro.
Primeiro ponto lógico: trata-se de um contrato entre MAC Geral e AC Industrial. A relação contratual é só entre essas duas empresas.
2 - A MAC Geral deve fazer o transporte dos equipamento se valendo dos serviços da Rota Transportes, figura estranha no contrato.
Segundo ponto lógico: a Rota Transportes NÃO faz parte do contrato original. A MAC Geral terá de contratá-la a parte para o serviço. Mas, para o problema, a Rota não é parte no contrato.
Vamos agora para as alternativas. Notem que devemos escolher a incorreta!
A) AC Industrial S.A. poderá exigir de Mac Geral & Companhia o cumprimento da obrigação firmada em favor de Rota Transportes Ltda.
Pela lógica, e ignorando completamente o Direito, isso é certo. O contrato foi feito pelas duas empresas (criando obrigações recíprocas) e está explícito no enunciado que a obrigação da Mac Gera era a de transportar os equipamentos.
Correto.
B) Ao exigir o cumprimento da obrigação, Rota Transportes Ltda. deverá efetuar o transporte ao preço previamente ajustado pelas partes contratantes.
Se ficou ajustado entre os dois contratantes (Mac e AC) que o preço de contratação da Rota seria de R$ 100,00 por equipamento, então a Mac, que deverá contratar, o deverá fazer por este preço.
Correto.
C) Somente Rota Transportes Ltda. poderá exigir o cumprimento da obrigação.
Pergunta ESSENCIAL: a Rota faz parte do contrato? Não! Quem NÃO faz parte do contrato pode exigir o cumprimento da obrigação? Pela lógica, não.
E o enunciado facilita muito a vida para quem pensa um pouquinho: somente a Rota pode exigir o cumprimento da obrigação? Claro que não! Quem efetivamente pode exigir esse cumprimento é a AC Industrial, que é parte do contrato.
Incorreto!!!
D) AC Industrial S/A poderá reservar-se o direito de substituir Rota Transportes Ltda., independentemente de sua anuência ou de Mac Geral & Companhia.
Aqui pinta uma dúvida! A AC industrial efetivamente pode substituir a Rota Transporte independentemente da anuência da MAC ou da própria Rota?
Como nós não conhecemos o Direito, a dúvida surge. Pode ou não? Aqui nós não temos uma resposta.
Compete agora fazer uma ponderação: A alternativa C está errada, isso foi constatado logicamente. Já a alternativa D nos deixa na dúvida, pois não sabemos como aplicar o Direito no caso. Qual delas devemos escolher?
Naturalmente, a que temos a convicção, pela lógica, de que está errada, no caso a C. E, pelo gabarito, efetivamente é a alternativa C a equivocada.
Vamos olhar outra questão, agora de ambiental:
De vez em quando o uso da lógica torna a resolução de uma questão algo muito fácil. Essa aqui é um exemplo disto.
1 - O trabalhador tentou ajuizar duas vezes uma reclamação trabalhista. na 1ª tentativa ele faltou e depois, na 2ª, ele desistiu.
O problema versa sobre a faculdade de ajuizar uma ação em caso de desistências anteriores. Na base da lógica, desta vez, temos o Direito de Ação.
Vamos olhar as alternativas:
A) terá de aguardar o prazo de seis meses, pois contra ele será aplicada a pena de perempção.
Aguardar seis meses? E a prescrição, entra como nessa história?
Alternativa muito improvável, pois a demora no ajuizamento da ação prejudica o recebimento das verbas trabalhistas.
B) poderá ajuizar a nova ação de imediato, contanto que pague o valor de uma multa que será arbitrada pelo juiz.
Multa? Será que existe multa? Não seria a multa um obstáculo ao exercício do Direito de Ação?
Opção esquisita.
C) não precisará aguardar nenhum prazo para ajuizar nova ação.
Ok, faz sentido, em conformidade com o livre exercício do direito de ação.
D) deverá aguardar seis meses para ajuizar ação contra aquele empregador, mas não para outros que porventura venha a ter.
Tão improvável quanto a alternativa A.
A Letra C é a que faz mais sentido entre as 4.
Simples, não parece?
Mais ou menos...
Vamos agora deixar claro alguns pontos para não parecer que a coisa é simples. Não é simples!
Primeiro devemos ter em mente que apenas algumas questões esse tipo de busca é possível, e em todas as hipóteses serão somente naquelas em que o candidato teve dúvida sobre a alternativa correta. Ou seja: só após a resolução das questões que o candidato domina é que ele parte para o uso da lógica em conjunto com a lógica jurídica.
Depois, esse tipo de raciocínio demanda muito tempo.
Vejam: quando uma pessoa domina determinado conteúdo, a identificação da alternativa correta consome muito menos tempo e esforço, pois em termos das conexões cerebrais, o conteúdo está facilmente disponível (memória profunda) e não demanda esforço.
A construção de um raciocínio lógico como os apresentados acima demanda sim muito esforço, em especial na hora da prova, pois o candidato não sabe o conteúdo e tenta, valendo-se do raciocínio, achar o caminho correto.
Logo, essa metodologia é residual, quando não é mais possível achar a resposta por meio do uso do conhecimento específico para aquela determinada questão.
Há de se considerar também que, em troca do uso da lógica, só resta o chute. E o chute é sempre loteria. Se o uso da lógica não for mais possível, se a mente não aguenta mais o esforço, aí o chute está liberado. Melhor chutar a arriscar acertar do que deixar em branco.
Ao fim, nem todas as questões podem ser resolvidas desta forma. Talvez, no máximo uma 15 ou 20. A lógica pode ser buscada a qualquer momento, mas o conhecimento específico de determinado assunto pode frustrar a tentativa. Estamos partindo do princípio de que o candidato não sabe nada da questão-alvo, e sob essa premissa que escrevi o texto. Se ele domina alguma coisa, a tentativa pode ganhar mais consistência.
Moral da história: antes o uso do raciocínio do que o do chute!
Mas isso só depois da 1ª etapa da prova ter sido concluída, ou seja, da resolução convencional das questões.