Candidato do X Exame de Ordem faz greve de fome em frente a sede da OAB

Quarta, 7 de agosto de 2013

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Na 2ª feira, após a reunião na sede da OAB onde ficou decidido que o gabarito oficial não seria mudado, eu já havia conversado com ele e ouvido a promessa da greve de fome.

Não dei muito crédito. Resolvi esperar para ver se realmente ela aconteceria.

Ontem, início da noite, começou a chegar alguns relatos de que tinha "um cara" fazendo greve de fome em frente ao CFOAB. Por conta de algumas obrigações deixei para ir conferir essa história de perto um pouco depois da meia-noite de hoje.

Chegando em frente a entidade encontrei ele, Antônio Gilberto da Silva, deitado e aparentemente dormindo.

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Mas não estava. Sentou-se e me reconheceu. E a partir daí batemos um papo que foi até às 03:15h.

Ele, Antônio Gilberto, estava fazendo greve de fome, e só vai sair de lá quando a OAB aprovar os candidatos reprovados no X Exame de Ordem.

Um pouco depois chegou um casal com uma notícia que nos emocionou, e que levou Antônio Gilberto às lágrimas: a examinanda Lívia Ribeiro Ferreira e e o motorista contratado para levá-la, cujo nome não consegui apurar, ambos da Bahia, ao voltarem da manifestação ocorrida na última segunda-feira em frente a sede da OAB, sofreram um acidente perto de Feira de Santana/BA. Ele morreu e ela está internada em estado grave.

A lembrança de que eles estavam ali, apenas algumas horas antes, foi algo chocante para todos nós.

Isso fortaleceu ainda mais as convicções de Antônio

Mas Antônio, independente dos eventos, está convicto de sua greve, acredita que ela é um desígnio e prometeu ficar em frente a OAB até conseguir seu objetivo, único objetivo: a aprovação dos reprovados no X Exame.

"Não faço isso por mim, Maurício, faço porque vejo esses meninos de vinte e poucos anos se desesperando, sofrendo, passando necessidades e humilhações por conta desta prova. Eu fui reprovado também, mas não é por mim, é por conta de toda essa injustiça."

Antônio Gilberto não é um menino. Ele tem 47 anos e é sindicalista, vinculado ao PT e com muitos contatos dentro do partido.

Mais até! A greve de fome não é uma novidade para Antônio. Ele já acampou na porta da Assembléia Legislativa de São Paulo em greve de fome por 22 dias e também na porta do STF por mais 27 dias, sendo que nos último 6 dias foi acorrentado, junto com alguns outros companheiros, também em greve de fome, sendo recebidos então finalmente pela então Ministra Ellen Graice.

Neste momento a voz de Antônio embarga novamente, pois se lembrou que a OAB, à época, prestou-lhe solidariedade, inclusive com a visita de vários conselheiros e apoio a sua causa.

"Não sou contra a OAB, não sou contra o Exame de Ordem, só quero uma correção justa. E só saio daqui com ela ou morto. Não estou preocupado comigo, e sim com esses jovens. É uma missão de Deus para mim e vou até o fim."

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Antônio Gilberto fez a prova de Direito do Trabalho. Apresentou como resposta uma reclamação trabalhista. Acha que não era o caso de consignar em pagamento e relata sua experiência como sindicalista como base para tal assertiva: conhece essa realidade trabalhista e sabe como acontece de verdade na Justiça do Trabalho.

"Mas não luto por mim", afirma ele.

Pelo o que vi, por sua história e sua determinação, acreditei na verdade de suas palavras.

Sim...sua determinação real, muito real. Sem medo, ele, com apoio de sindicalistas de Brasilia, estacionou ao lado da sede da OAB ontem um caminhão de som, e por 25 minutos falou tudo o que veio a cabeça contra a prova da Ordem, atrapalhando o evento sobre Reforma Política que ocorria naquele momento no Plenário da Entidade.

E som era ouvido por quase todo o setor de autarquias. Antes de ir me encontrar com ele recebi um telefone de um amigo me relatando o fato. Sim, Antônio atrapalhou o evento da OAB.

Ele não está preocupado com a própria imagem e aguarda o tempo e, segundo ele, o desígnio divino para ter uma solução ao seu pleito.

"Seja o que Deus quiser!"

Esta muito frio quando fui embora. Antônio estava acomodado sob a marquise da sede da OAB e tinha algumas sacolas (sem comida!), água e um Gatorade, que fez questão de dividir comigo apesar da minha recusa.

Acho que ele precisa ao menos de uma barraca, pois o frio da noite brasiliense é de rachar e uma pneumonia após alguns dias certamente vai derrubar ele.

Eu, Maurício, não concordo com a greve de fome (não cheguei a falar isso pessoalmente para ele). Não acho que seja o caminho, além de ser algo que destrói o corpo, mas não tenho como remover da cabeça dele (nem tentei!) e de outros milhares de candidatos o sentimento de injustiça. As redes sociais determinaram os rumos de tudo o que ocorreu no X Exame e o apoio recíproco entre os candidatos forma um amálgama que os mantêm fortes no propósito.

Isso, o apoio entre desconhecidos que compartilham o mesmo sentimento, as mesmas angústias, fez Antônio lacrimejar mais uma vez.

Ele estava bastante fragilizado emocionalmente ao meu ver. Longe dos filhos, da mulher, notícias de mortes e entremeado pelo sentimento de indignação coletiva. E, ainda assim, resoluto no seu propósito.

Não tenho como deixar de admirar tanta coragem e determinação, em especial após saber que ele pediu exoneração de seu cargo de confiança para poder ficar ali, na sua luta.

Não sei onde isso vai terminar, mas sei que fiquei sinceramente impressionado com Antônio e sua história de lutas.

Na madrugada de hoje, no frio de Brasília, Antônio precisava, mais do que nunca, de calor humano. E acho que vai encontrar muito disto em sua jornada em meio a fome pelo o considera ser um objetivo justo e legítimo.

P.S. Antônio está agora há 28 horas sem comer.