Quinta, 1 de outubro de 2020
Após mais de sete meses de pandemia do novo coronavírus, 4,8 milhões de casos registrados e quase 144 mil mortes, o Brasil deixou nesta quarta (30) o estágio estável e entrou pela primeira vez no desacelerado no monitor de aceleração da Covid-19, da Folha.
A nova classificação foi puxada pelo estado de São Paulo, que também entrou pela primeira vez como desacelerado, após a revisão do modelo, em 3 de setembro.
Estar nesse novo estágio significa que o número de novos casos caiu ao longo do tempo de maneira considerável. O Brasil apresentava-se estável desde 20 de agosto.
O nível anterior, mais grave, indicava que o país contava com número significativo de pessoas sendo infectadas, mas a quantidade de novos casos era constante.
O modelo de acompanhamento utilizado pela Folha se baseia na evolução de casos em cada local e tem como parâmetro um período de 30 dias, com mais peso para o período mais recente. Com isso, é medida a aceleração da epidemia, ou seja, a forma como o número de novos casos cresce ou diminui (não é considerado o volume de mortes).
É uma metodologia que pode demorar mais para captar os movimentos da pandemia em relação a outros métodos, como a média móvel de sete dias, adotada por governos e veículos de comunicação.
Por outro lado, a metodologia da Folha tende a trazer mais estabilidade nos resultados.
No pico da pandemia até aqui, em julho, o país registrava mais de 46 mil novos casos diários. Agora, está em 26,5 mil.
A redução do número de casos ocorre mesmo no momento que governadores e prefeitos vêm anunciando pelo país medidas de retomada do comércio, de atividades do lazer e escolares.
A permanência no estágio desacelerado ainda não está garantida para os próximos dias, pois os números do país estão no limiar entre esse patamar e o anterior, o estável.
As medidas de distanciamento social e higienização são sempre apontadas por especialistas como responsáveis por diminuição no número de casos. O uso obrigatório de máscaras, algo que ganhou força apenas com o passar dos meses na pandemia, também é tido como um fator essencial para impedir a disseminação do vírus e o surgimento de novos casos.
Outra possibilidade apontada por especialistas é que as populações mais suscetíveis ou que se arriscam mais já foram infectadas.
O Brasil é o terceiro país com maior número total de casos de Covid-19 no mundo (4,8 milhões), atrás apenas de Estados Unidos (7 milhões) e Índia (6 milhões).
Fator fundamental para a alteração de patamar nacional foi a mudança também do estado de São Paulo, líder nacional em número de casos e de mortes.
Os paulistas chegaram a registrar 12,5 mil novos casos diários, em agosto, montante que caiu para 4,8 mil agora. O estado estava estável desde 25 de agosto.
A capital paulista já havia entrado em desacelerado em 10 de setembro, mas uma melhora em cidades do interior também alterou a classificação do estado.
Assim como o país, porém, também é preciso acompanhar os próximos dias, para confirmar a manutenção do atual estágio. Aumento real de novos casos ou instabilidades fortes na alimentação dos bancos de dados são fatores que podem causar alteração nas classificações.
Em 11 de setembro, todo o estado de São Paulo entrou na fase 3 (amarela) do plano estadual de retorno à atividade. A progressão da fase laranja, a anterior, para a amarela só ocorre quando há significativa redução no número de mortes e internações por Covid-19.
Nesta quarta (30), a taxa de ocupação de UTIs para Covid-19 no estado era de 44%. No dia 11, quando ocorreu a progressão de fase, era de 52,5%.
Na última segunda-feira, o estado completou a décima semana seguida de queda em internações pelo novo coronavírus.
Com as diminuições documentadas, as restrições a circulação e atividades têm diminuído. O plano do governo estadual é que no dia 7 de outubro retornem as aulas presenciais do ensino médio e para a educação de jovens e adultos (EJA), de acordo com autorização dos prefeitos.
No dia 23 de setembro, também passou a ser permitida a reabertura de parques temáticos, mantendo protocolos de higiene e com lotação máxima de 40% da ocupação total possível.
São Paulo se junta ao Ceará como estados que mais sofreram no início da pandemia, mas agora estão em desaceleração.
Outro estado que também foi epicentro da doença no Brasil, o Amazonas ainda se encontra estável (mesma classificação da capital, Manaus, onde chegaram a faltar leitos hospitalares).
É o único estado da região Norte e Nordeste que não entrou no modo desacelerado.
Neste momento, no país, o único estado em aceleração (o pior nível) é Goiás, puxado pela capital, Goiânia.
A região adotou rapidamente medidas de distanciamento social, o que causou conflito entre o governador Ronaldo Caiado (DEM) e o presidente Jair Bolsonaro (este contrário a medidas duras de quarentena).
Depois, porém, o estado passou a alternar medidas de enfraquecimento e de fortalecimento do distanciamento social.
O monitor da Folha tem como base um modelo estatístico desenvolvido por Renato Vicente, professor do Instituto de Matemática da USP e membro do coletivo Covid Radar, e por Rodrigo Veiga, doutorando em física pela USP.
A situação em cada local avaliado recebe uma classificação. Há cinco possibilidades: inicial, acelerado, estável, desacelerado e reduzido.
A fase inicial é aquela em que surgem os primeiros doentes. O Brasil já não tem nenhuma cidade com mais de 100 mil habitantes nessa situação.
A etapa acelerada é aquela em que há aumento rápido do número de novos casos. Na estável, ainda há número significativo de pessoas sendo infectadas, mas a quantidade de novos casos é constante.
Quando o número de novos casos cai ao longo do tempo de maneira considerável, tem-se a fase de desaceleração. Já na etapa reduzida há poucos casos novos (ou nenhum), levando em consideração o histórico da epidemia naquele lugar.
Fonte: Folha de S. Paulo