Autocontrole e frustração: a fronteira entre o sucesso e o fracasso no Exame de Ordem

Sexta, 1 de julho de 2011

O jornalista Gilberto Dimenstein, membro do Conselho Editorial da Folha de São Paulo, escreveu pra o site Catraca Livre um artigo sobre pesquisas realizadas por cientistas de algumas prestigiosas universidades americanas, como Duke e Standford, desde a década de 70, sobre o autocontrole e o desempenho acadêmico e profissional.

A conclusão foi que o bom desempenho nessas áreas está menos ligado à inteligência do que ao autocontrole, ou seja, a habilidade de gerenciar os impulsos, focando no que é relevante, afora a perseveração.

Tais estudos vêm ganhando inclusive credibilidade entre especialistas em aprendizagem.

Dimenstein também aborda um curioso aspecto do estudo: Crianças que conseguem lidar melhor com a frustração e com o fracasso tendem, quando adultos, a obter bons empregos, a ter sucesso em negócios, a economizar dinheiro, a cuidar da saúde e a ficar distantes de vícios, e ainda conseguem ter um bom desempenho escolar.

Ficar sentado estudando, aduz Dimenstain, "é tarefa que exige que, apostando numa recompensa futura, se deixe de fazer algo mais agradável."

Segundo a psicóloga Terrie Moffit, da Universidade de Duke, um dos mais importantes centros de neurociências do mundo, após 30 anos de observações, concluiu-se que o autocontrole tem ?um impacto generalizado nas mais diferentes áreas, inclusive na taxa de criminalidade?

Ela acompanhou 1.037 pessoas desde a primeira infância até os 32 anos de idade, inclusive irmãos gêmeos Resultado semelhante ocorreu em suas pesquisas com gêmeos. ?Vimos que o autocontrole, depois de descontados fatores como renda e classe social, superou a inteligência como elemento desencadeador de sucesso no universo acadêmico e no profissional.?

Face a esses estudos, algumas escolas estariam criando jogos cujo objetivo é desenvolver o autocontrole. A recompensa em tais jogos seria destinada àqueles capazes de lidar com a frustração e de postergar alguma decisão, estimulando inclusive a busca de soluções face a desafios.

Para a professora Rosabeth Kanter, famosa por seus perfis de empreendedores, da escola de negócios de Harvard, o bom empreendedor é aquele que sabe fracassar: ?Fracasso é uma medalha a ser colocada com destaque no currículo?

Antes de ontem postei aqui o texto - Controle emocional e gestão do desempenho durante a prova da OAB - cuja ideia central e soluções convergem certinho para a conclusão destes estudos abordados por Dimenstein, pois esses estudos representam a racionalizam e compreensão, em larga medida, de algumas obviedades. Sua conclusão, de que o autocontrole e resistência à frustração são em larga medida fatores preponderantes para o sucesso, é a demonstração de que o que eu escrevi mais baseado em um conhecimento empírico, na realidade, é algo mensurável dentro da neuropsicologia.

Fracasso, medo de frustração andam de mãos dadas com o Exame de Ordem. Isso é fato!

E a incapacidade de milhares e milhares de bacharéis em superar as dificuldades apontadas na matéria é notória: a falta de concentração e de capacidade de projetar no futuro o sucesso prejudicam os estudos. A decorrência, disso, o fracasso, se NÃO ASSIMILADO, gera, o que poderíamos chamar, de "fracasso permanente", pois o fracasso em si, se assimilado e usado como fonte de experiência, transforma-se em elemento-chave para ao sucesso no futuro.

VOCÊS que vão fazer a prova no próximo dia 17, PRECISAM entender isso! Mais do que entender, colocar em prática: Não tenham medo da prova!!!

Já abordei esse aspecto várias vezes aqui no Blog: a indiferença com o resultado produz calma,e  a calma produz um desempenho melhor na prova.

A regra é a oposta: ansiedade, stress e até pânico, influenciam negativamente no desempenho, ao ponto de se transformar em uma bola de neve. Leiam o e-mail que recebi de uma candidata que reprovou 6 vezes no Exame de Ordem, postagem essa bem recente - Para os candidatos que sempre batem na trave: como superar a 1ª fase do próximo Exame da OAB? - os termos "desânimo absurdo", "frustração", "desestímulo" e "estou perdida" pontuam o mail de alguém que, acredito eu, tem o potencial para superar a prova.

Não por acaso, trago o resultado da pesquisa que fiz com os leitores do Blog na postagem sobre o controle emocional:

A maioria dos 2.527 votantes (74,09%) estão de alguma forma preocupados e ansiosos com a prova. Tal percentual inclusive converge com o resultado de uma pesquisa aborda no post em questão, conduzida pela Drª Tânia Loricchio, do Departamento de Psicobiologia da Unidade de Medicina Comportamental da UNIFESP, sobre os índices de ansiedade e stress pré-Exame de Ordem. Dos 237 candidatos analisados, 70% apresentaram sintomas de stress, sendo que 41% deste com níveis mais severos.

Curiosamente, o percentual de reprovação no Exame está na casa dos 85%...

"Ah, mas reprovou seis vezes", pode dizer alguém (como de fato alguns disseram nos comentários da postagem), mas as razões do fracasso, e eu sempre acreditei nisso, estão muito mais correlacionadas com a ausência de metodologia, técnicas efetivas e racionais de estudo, PERSEVERANÇA e concentração do que com a ausência de inteligência propriamente dita.

Inteligência todos têm, por óbvio, e capacidade de se adaptar e compreender também.

O fracasso, ao menos no Exame de Ordem, cujo sucesso não está atrelado à uma concorrência, como nos concursos, e sim ao próprio desempenho do candidato (em boa medida, pois a OAB e a FGV também aprontam das suas),está correlacionado com a vida pregressa de cada um como estudante, desde o fundamental, passando pelo ensino médio e faculdade.

Problemas dessa ordem acabam se refletindo no Exame de Ordem, nada além de uma prova de verdade, desprovida das facilidades antes ofertadas por um sistema de ensino condescendente e irresponsável.

E a reprovação gera a frustração, e a frustração gera a revolta, inclusive contra o sistema, "excludente e injusto".

A autocrítica, nessa hora, é devidamente ignorada.

Para passar no Exame é preciso, antes de qualquer coisa, autocrítica, humildade, reconhecimento de limitações, delimitação de objetivos e ESTUDO!

Planejar a longo prazo, estudar com metodologia, conter frustrações e esperar, no futuro, colher o resultado do esforço. Tudo isso pode ser jogado no balaio chamado AUTOCONTROLE. O controle não só de si como de aspectos da própria vida.

Tudo isso não pode representar, com certeza absoluta, o sucesso, mas certamente ajuda a convergir para ele.

E não se trata, mais uma vez, de nenhuma grande revelação: Conhece-te a ti mesmo é um aforismo grego que segundo a tradição estaria inscrito nos pórticos do Oráculo de Delfos e é uma das pedras angulares da filosofia de Sócrates e do seu método, a maiêutica. O oráculo do templo teria proclamado Sócrates o homem mais sábio na Grécia, ao que Sócrates terá respondido com a célebre frase: "Só sei que nada sei".

Estamos lidando aqui de algo tão antigo quanto a civilização ocidental, e muitos, até hoje, não deixaram a ficha da obviedade cair, ficha descoberta por Sócrates há uns 2.600 anos atrás.

Autocontrole é a chave!

Reprovar é sempre uma possibilidade, isso é inegável, mas as consequências da reprovação é que não devem importuná-los. O medo do resultado, e suas consequências, é para quase todos pior do que a prova em si, e esse é o principal fator de desestabilização emocional.

Exame de Ordem (ou qualquer concurso) não é uma guerra e nem a representação de uma. Trata-se apenas do encontro do candidato consigo mesmo, com seu EGO, e com sua vida pregressa.

Você não combate nada e nem ninguém: o desafio é interior. Se houve preparação e existe controle, o resultado tende a ser positivo ao final, se faltar um desses elementos, o fracasso se apresenta como resultado mais provável.

Busquem então, antes de tudo, a si mesmos, aos seus desejos, sonhos, medos, neuras e etc. Afastem o medo da prova, que no fundo não é da prova, e sim de si mesmos.

O medo da prova é uma projeção dos medos interiores: medo porque não estudou o bastante, medo porque não se sente preparado, medo porque existe pressão do ambiente (família, amigos, colegas, sociedade).

Controlem essa ansiedade, ESQUEÇAM que o fracasso é o fim, pois não é, e vão para a prova TRANQUILOS com o resultado, seja ele bom ou ruim.

Se for bom, parabéns, se for ruim, tente de novo, pois perseverar é uma manifestação do autocontrole e de resistência à frustração.

E aí, aí sim, vocês acharão a chave do sucesso!

Como diria Fernando Pessoa, "Navegar é preciso, viver não é preciso".

Naveguem, sempre em frente!