Quarta, 22 de maio de 2013
Um estudo recentemente publicado em janeiro de 2013 na revista científica Psychological Science in the Public Interest avaliou dez técnicas comuns de aprendizagem para classificar quais possuem de fato a melhor utilidade.
O resultado do paper (íntegra aqui) traz algumas surpresas para o estudante.
Técnicas bastante populares no Brasil, como resumir, grifar, utilizar mnemônicos, visualizar imagens para apreensão de textos e reler conteúdos foram classificadas como as de utilidade mais baixa.
Três práticas foram encaradas como de utilidade moderada: interrogação elaborativa, auto-explicação e estudo intercalado.
E as duas que obtiveram o mais alto grau de utilidade na aprendizagem foram as técnicas de teste prático e prática distribuída.
É a ciência desaprovando boa parte do meu método de estudo, muito baseado em resumos, grifos, mnemônicos e mapas mentais. Por outro lado, foi confirmada a impressão que eu tinha de que a realização de exercícios em doses cavalares era extremamente efetiva para o estudo para concursos públicos.
Lembre-se de que o ranking reflete os resultados do estudo, porém cada pessoa tem o seu estilo de estudo e nada está escrito em pedra. Dito isto, falemos agora sobre as dez técnicas, das piores para as melhores.
Prepara-se para dar um descanso ao seu grifador amarelo. O estudo aponta que a técnica de apenas grifar partes importantes de um texto é pouco efetiva pelos mesmos motivos pelos quais é tão popular: praticamente não requer esforço.
Ao fazer um grifo, seu cérebro não está organizando, criando ou conectando conhecimentos. Então, grifar só pode ter alguma (pouca) utilidade quando combinada com outras técnicas.
Deixa eu ler pela quinta vez?
Reler um conteúdo, em regra, é menos efetivo do que as demais técnicas apresentadas. O estudo, no entanto, mostrou que determinados tipos de leitura (massive rereading) podem ser melhores do que resumos ou grifos, se aplicados no mesmo período de tempo. A dica é reler imediatamente depois de ler, por diversas vezes.
Remember, remember, SoCiDiVaPlu.
Segundo o dicionário Houaiss, mnemônico é algo relativo à memória; que serve para desenvolver a memória e facilitar a memorização (diz-se de técnica, exercício etc.); fácil de ser lembrado; de fácil memorização.
Em apostilas e sites de concursos públicos, é muito comum ver o uso de mnemônicos com as primeiras letras ou sílabas, como SoCiDiVaPlu para decorar os fundamentos da República Federativa do Brasil (artigo 1º da Constituição).
O estudo da Psychological Science in the Public Interest mostrou que os mnemônicos só são efetivos quando as palavras-chaves são importantes e quando o material estudado inclui palavras-chaves fáceis de memorizar.
Assuntos que não se adaptam bem a geração de palavras-chaves não conseguiram ser bem aprendidos com o uso de mnemônicos. Então, utilize-os em casos específicos e pouco tempo antes de teste.
Exemplo de mapa mental.
Os pesquisadores pediram que estudantes imaginassem figuras enquanto liam textos. O resultado positivo foi apenas em relação a memorização de frases. Em relação a textos mais longos, a técnica mostrou-se pouco efetiva.
Surpreendentemente (ao menos para mim), a transformação das imagens mentais em desenhos também não demonstrou aumentar a aprendizagem e ainda trouxe o inconveniente de limitar os benefícios da imaginação.
Isso não invalida completamente o uso de mapas mentais para estudos, já que esses consistem além de desenho a conexão de ideias e conceitos.
De qualquer maneira, o resultado do estudo é que a visualização não é uma técnica efetiva para provas que exijam conhecimentos inferidos de textos.
Vou resumir para você.
Resumir os pontos mais importantes de um texto com as principais ideias sempre foi uma técnica quase intuitiva de aprendizagem.
O estudo mostrou que os resumos são úteis para provas escritas, mas não para provas objetivas.
Embora tenha sido classificado como de utilidade baixa, a técnica de resumir ainda é mais útil do que grifar e reler textos. O paper diz que a técnica pode ser uma estratégia efetiva para estudantes que já são hábeis em produzir resumos.
Por que é que a vida é assim?
A técnica de interrogação elaborativa consiste em criar explicações que justifiquem por que determinados fatos apresentados no texto são verdadeiros.
O estudante devem concentrar-se em perguntas do tipo Por quê? em vez de O quê?.
Seguindo o exemplo que demos pouco antes, em vez de decorar um mnemônico como SoCiDiVaPlu, o ideal seria perguntar-se por que o Brasil adota a dignidade da pessoa humana como fundamento da República? E buscar a resposta na origem do estado democrático de Direito e na adoção do princípio da dignidade da pessoa humana pelas principais democracias ocidentais após a Revolução Francesa.
Note que esse tipo de estudo requer um esforço maior do cérebro, pois concentra-se em compreender as causas de determinado fato, investigando suas origens.
Falando especificamente de concursos públicos, a interrogação elaborativa é um grande diferencial na hora de responder redações e questões discursivas.
Entendeu, Eu Mesma?
A auto-explicação mostrou-se ser uma técnica útil para aprendizagem de conteúdos mais abstratos. Na prática, trata-se de ler o conteúdo e explicá-lo com suas próprias palavras para você mesmo.
O estudo mostrou que a técnica é mais efetiva se utilizada durante o aprendizado, e não após o estudo.
Vou alternar as matérias, na ordem dessa pequena pilha.
O estudo intercalado é o que chamamos de rotação de matérias em posts anteriores.
A pesquisa procurou saber se era mais efetivo estudar tópicos de uma vez ou intercalando diferentes tipos de conteúdos de uma maneira mais aleatória.
Os cientistas concluíram que a intercalação tem utilidade maior em aprendizados envolvendo movimentos físicos e tarefas cognitivas (como ciências exatas).
O principal benefício da intercalação, como já havíamos observado, é fazer com que a pessoa consiga manter-se mais tempo estudando.
Realizar testes práticos sobre o que você está estudando é uma das duas melhores maneiras de aprendizagem. A pesquisa científica mostrou que realizar testes práticos é até duas vezes mais eficiente do que outras técnicas.
No caso específico de concursos públicos, a recomendação é fazer toneladas de exercícios de provas anteriores. Não apenas do cargo para o qual você está estudando, mas qualquer tipo de questão que encontrar pela frente.
Como já recomendamos anteriormente, a maneira mais fácil de realizar testes é utilizando sistemas específicos para isso, como o site Questões de Concursos.
A prática distribuída consiste em distribuir o estudo ao longo do tempo, em vez de concentrar toda a aprendizagem em um bloco só (a.k.a. na véspera da prova).
Pesquisas mostram que o tempo ótimo de distribuição das sessões de estudo é de 10% a 20% do período que o conteúdo precisa ser lembrado. Por essa conta, se você quer lembrar algo por cinco anos, você deve espaçar seu aprendizado a cada seis meses. Se quer lembrar por uma semana, deve estudar uma vez por dia.
A prática distribuída também pode ser interpretada como a distribuição do estudo em pequenos períodos ao longo do dia, intervalando com períodos de descanso. Por exemplo, uma hora de manhã, uma hora à tarde e outra hora à noite.
Essa é exatamente a teoria de Tony Schwartz aplicada em técnicas de timebox como a Pomodoro Technique.
Fontes: Big Think e mude.nu (tradução)
Vejam só que coisa curiosa. Algum tempo atrás publiquei um post sobre as virtudes de se fazer resumos como uma excelente técnica de aprendizagem. Vamos conferir o texto: Fazer resumos é a maneira mais eficiente de entender um livro, aponta estudo Uma hora ou outra, você terá que ler um livro na escola ou para sua faculdade. Depois, é provável que você tenha de fazer uma prova sobre ele. Então, você tem um desafio e deve se perguntar: ?qual a melhor maneira de garantir que eu entendi o livro e vou saber responder a todas as questões do teste??. Pesquisas mostram que você não deve exagerar na leitura. Entenda. Na verdade, o que você deve fazer é evitar ler muitas vezes o mesmo conteúdo. Ao invés disso, é recomendado uma única leitura e, depois, escrever um resumo, segundo o livro The Little Book of Talent: 52 Tips for Improving Your Skills, pertencente ao autor mais bem-vendido do The New York Times, Daniel Coyle. As pesquisas mostram que as pessoas que escreveram um resumo lembram 50% mais do que aquelas que leram o livro muitas vezes. Isso acontece porque, para aprender, não se pode permanecer ?apático?. A leitura é um processo passivo, você só deixa as palavras entrarem no seu cérebro. Para fixar, de fato, um conteúdo é necessário transformar o processo da leitura em algo ativo. Portanto, é preciso transformar o conteúdo em algo concreto, como um resumo, uma resenha, etc. A produção de algo após a leitura força você a descobrir os pontos-chaves da trama, processar e organizar essas ideias no seu cérebro para que elas façam sentido. Escrevendo, você aumenta o alcance da leitura e, portanto, aprende mais. Fonte: Universia Brasil O texto As 10 melhores técnicas de estudo, segundo a ciência aponta que fazer resumos seria uma técnica de "baixa eficiência", o que me causou estranheza, pois acho que fazer resumos é altamente eficiente, tal como mostra a matéria acima. Um resumo, quando feito de cabeça, evoca a informação com a qual o estudante antes tomou contato e mostra o que ficou fixado, não só reforçando a fixação como mostrando também, após se fazer uma comparação, as informações não relembradas, delimitando então aquilo que precisa ser re-abordado. Curiosamente o texto afirma que "O estudo mostrou que os resumos são úteis para provas escritas, mas não para provas objetivas." Como se faz a distinção da qualidade do estudo em razão do tipo distintos de prova? A busca pela informação não seria a mesma, excetuando, claro, a forma como o conhecimento será demonstrado (ou marcando um X ou escrevendo). Confusa essa observação. Vou ler o texto original para entender exatamente o sentido dessa aparente dicotomia. De toda forma, o estudo aponta duas técnicas como sendo as principais, tal como representado no gráfico do texto no original:Uma delas você tem muita familiaridade: a resolução de exercícios. Sempre estimulamos o processo de resolução de exercícios como um sistema importantíssimo para a fixação do conteúdo.
Como metodologia de estudo para o Exame de Ordem sempre sugeria a contida no texto abaixo:
1 - Leitura da doutrina (específica para o Exame) ou acompanhamento de uma aula acompanhado da leitura SIMULTÂNEA ou logo POSTERIOR da legislação correlata na medida da evolução da leitura ou aula. Aqui o candidato estabelece os vínculos entre os conceitos, as teorias e a norma;
2 - Elaboração pequenos resumos ao término de cada tópico do livro que está sendo estudado. A elaboração de resumos, feitos DE CABEÇA, não só ajuda a delimitar o que não foi apreendido com a leitura inicial como é uma importantíssima etapa de fixação do conteúdo. Se você lembra, o conteúdo, ao menos naquele momento está fixado; (eficiência baixa, de acordo com o texto, para provas objetivas, eficiência alta, para provas subjetivas. Controverso!)
3 - Revisão do conteúdo estudado dentro de um período em específico, de preferência, como estamos em uma reta final, logo após esgotar a doutrina da disciplina escolhida. Essa medida atende à preocupação em se avançar no estudo do conteúdo sem perder a informações previamente estudadas. Ou seja, avançar nos estudos sem esquecer o que ficou para trás. É uma ação basilar.
Todo estudante almeja a chamada "memória profunda", ou a fixação definitiva de uma informação em sua memória. Tal processo não acontece por milagre, uso de técnicas mirabolantes ou sistemas mágicos. É preciso ler, compreender, reforçar o conteúdo e disponibilizá-lo com constância, seja dando aulas (para si mesmo até), elaborando resumos sem efetuar nenhuma consulta ou resolvendo exercícios.
A revisão tem o fito de evocar um conteúdo anteriormente estudado e reforçar a fixação deste no cérebro.
4 - A resolução de exercícios é a última etapa desse processo, e ela é FUNDAMENTAL. Primeiro porque ela se enquadra como um processo ao mesmo tempo de revisão do conteúdo, de desafio ao raciocínio, em razão da adaptação do conhecimento a um problema hipotético, ajudando no desembaraço mental, como também representa uma etapa de adaptação ao sistema de enunciado da banca, e tal adaptação é VITAL! (eficiência alta)
Notem que o processo de estudo não pode ser trabalhado de forma estanque - Você deve se inteirar da doutrina, confrontá-la com a lei, elaborar resumos e resolver exercícios. Essas etapas, distintas entre si, mas consideradas como um processo global, certamente produzirão ótimos resultados como método de aprendizagem.
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Vamos partir da premissa que estudos científicos têm consistência, mas não podem ser tomados como verdades absolutas. Isso não implica dizer que uma metodologia de estudo, tal como a que eu sugiro, não possa ser reformulada em nome da busca de uma maior eficiência.
O importante é ter em mente que também existem estilos de aprendizagem e cada estudante pode ter facilidade com um determinado sistema que não seria tão útil para um outro estudante. A grosso modo poderíamos dizer que cada sapato tem sua meia, a depender de uma série de fatores de ordem pessoal.
Mas de posse dessas informações, vocês poderiam (e eu vou!) fazer testes pessoais sobre o que mais produz efeitos para cada um. Os benefícios de se estabelecer um processo avaliativo do conjunto de técnicas de estudo mais eficientes seria imenso, pois o candidato, com base em uma experiência empírica e pessoal poderia encontrar para si a fórmula do bom estudo, e tirar vantagem disto para o resto da vida!
Isso não teria preço.
O professor Rogério Neiva escreveu um texto interessante exatamente sobre as particulares de estudo segundo o perfil do estudante, tal como reproduzo para vocês agora:
Os Estilos de Aprendizagem e o Estudo para Concursos
Se você está se preparando ou vai se preparar para um concurso público ou exame, qual é o seu estilo de aprendizagem predominante? Qual a forma mais eficiente e adequada para desenvolver seus estudos?
Pois bem, estas perguntas envolvem um aspecto fundamental à preparação. Muitos candidatos não contam com a devida clareza quanto aos possíveis estilos de aprendizagem, bem como quanto aos que devam ser os mais adequados e eficientes para si.
A compreensão do presente tema exige a consideração de algumas premissas fundamentais. A primeira é que, conforme venho reiteradamente sustentando, a preparação deve ser pensada no plano estratégico e tático, sendo que o primeiro envolve a definição de aspectos estratégicos e decisórios fundamentais para a estruturação do planejamento da preparação, como o objetivo (cargo ou cargos pretendidos) e o programa (matérias e conteúdos), ao passo que o segundo (aspectos táticos) envolve os meios e caminhos voltados à implementação do plano de estudos, como por exemplo as fontes e técnicas de estudo.
Portanto, a preocupação com as técnicas de estudo e os estilos de aprendizagem se situam no campo tático.
Conforme as definições da neurociência, o conhecimento consiste em redes neurais que são desenvolvidas e podem ser acionadas. Considerando tais mecanismos neurobiológicos, aaprendizagem, juntamente com a linguagem, consiste numa função cognitiva secundária, ao passo que a memória, como também a atenção, consistem em funções cognitivas primárias. (PANTANO, Telma. Neurociência aplicada à aprendizagem. São Paulo: Pulso, 2009, pág 23). Estes elementos coordenados é que vão permitir que tenhamos a disponibilidade da informação no momento da prova.
Daí a importância da preocupação com os estilos de aprendizagem, pois estes guardam relação com a forma como as redes neurais que determinam a apropriação do conhecimento serão acionadas. Conceitualmente, segundo as construções da psicopedagogia, temos quatro possíveis estilos de aprendizagem, quais sejam: reflexivo, teórico, ativo e pragmático. (PORTILHO, Elise. Como se aprende. Rio de Janeiro: Wak, pag. 101)
Cada candidato, de forma mais pura ou mais híbrida, irá se enquadrar nestes estilos. Por outro lado, cada técnica ou modalidade de estudo adotada tende a estar mais ou menos de acordo com os referidos estilos.
No livro de minha autoria sobre a metapreparação para concursos públicos (Como se Preparar para Concursos com Alto rendimento, clique neste link para mais informações), trabalho e desenvolvo quatro técnicas de estudos que podem ser agregadas ao estudo bibliográfico, as quais correspondem às seguintes: sublinhar textos, elaboração de esquemas, elaboração de mapas mentais e elaboração de resumos. Cada uma destas técnicas, considerando o nível de mobiblização de estruturas cognitivas envolvidas, tende a proporcionar um determinado nível de eficiência no processo de apropriação da informação.
Assim, a eficiência do estudo é influenciada pelo estilo de aprendizagem do candidato e a relação que cada técnica guarda com o estilo de aprendizagem correspondente. Dessa maneira, entendo que subsistem as seguintes relações entre técnicas de estudo e estilos de aprendizagem:
- o estilo reflexivo se relaciona com a técnica de sublinhar textos; - o estilo teórico se relaciona com a técnica de elaboração de resumos; - o estilo ativo se relaciona com a técnica de elaboração de mapas mentais; - o estilo pragmático se relaciona com a técnica de organização de esquemas.
Diante de todas estas considerações, pensando a preparação de forma estratégica e tática, naturalmente e logicamente na perspectiva de busca de eficiência e otimização dos esforços empreendidos, o candidato precisa avaliar ao menos dois aspectos fundamentais.
O primeiro consiste na verificação, a partir de uma avaliação pessoal e subjetiva, do seu estilo de aprendizagem, de modo a buscar a técnica que entenda mais adequada.
O segundo consiste nas suas condições de preparação. Ou seja, pode ser que, considerando o tempo que a elaboração de resumos tende a demandar, não seja viável a conclusão do plano de estudos até a data da prova adotando a referida técnica. Neste sentido, oSISTEMA TUCTOR pode proporcionar uma relevante contribuição, por meio da ferramenta que indica estimativas de conclusão do planejamento da preparação, considerando as variáveis e informações inseridas pelo candidato-usuário. E com isto, pode considerar não apenas o seu estilo de aprendizagem, mas também a viabilidade da execução e conclusão do plano estabelecido.
Dessa forma, desenvolvendo as reflexões propostas e adotando as atitudes mais adequadas em termos de caminhos de aprendizagem, o candidato estará tomando iniciativas fundamentais para uma preparação estratégica, eficiente e racional. E assim, também estará dando passos importantes na busca da visualização do seu nome na lista de aprovados.
Fonte: Blog do professor Rogério Neiva
Como você podem ver, não é um tema simples, e ele trata da delimitação de competência e técnicas fundamentais para quem tem o estudo como instrumento para crescer na vida. Ou seja, todos vocês têm interesse nisso.
Reflitam bem sobre as melhores técnicas.