Terça, 14 de fevereiro de 2012
O que fazer após passar no Exame da OAB?
Essa é uma dúvida bastante comum em boa dos aprovados.
Ao longo da faculdade certas convicções vão sendo formadas e outras vão sendo desfeitas. A vivência com o Direito e as diferentes experiências adquiridas nos estudos e nos estágios abrem a percepção dos alunos para a realidade do exercício profissional, gerando convicções ou alimentando dúvidas.
Já ouvi falar que pelo menos 80% dos bacharéis anseiam pelo serviço público. Não sei se essa informação é verdadeira, mas a considerar o verdadeiro exército de concurseiros Brasil afora, não dá para duvidar.
De uma forma ou de outra os concursos mais almejados, ao menos na área jurídica, são para a magistratura ou para o Ministério Público, e ambos exigem 3 anos de experiência jurídica. E aí advogar torna-se o caminho mais óbvio para adquirir tal experiência.
Esse é apenas um desdobramento da conjectura estampada no título desta postagem. Não raro, enquanto o novo advogado sonha com sua carreira, após a aprovação na OAB o mundo "real" finalmente bate à porta e diz "alô" para o outrora estudante. Agora a vida profissional, e as cobranças impostas por ela, manifestam-se de forma explícita e urgente.
Essa realidade serve não só para quem vai começar a trabalhar como também para quem já tem emprego e deseja evoluir profissionalmente.
Como definir os primeiros passos profissionais?
Essa é uma pergunta de extrema relevância. A partir da resposta o agora advogado desenhará seu próprio futuro, e a escolha de agora terá um peso imenso pelo resto da vida.
Antes de decidir é preciso refletir, e com calma, sob alguns aspectos.
Seguem algumas considerações úteis para o processo de reflexão e escolha:
1 - Seja diferente da maioria: qualifique-se!
A cada ano 40 mil bacharéis em Direito conseguem passar no Exame de Ordem, somando-se aos já existentes e atuais 750 mil profissionais da advocacia.
Brasil forma 10 bacharéis em Direito por hora, 243 por dia, 88.695 por ano
É muita gente!
Considerem também, de acordo com uma recente pesquisa da FUNDACE - Pesquisa indica que 94% dos advogados brasileiros concordam com o Exame da OAB - 30,7% dos advogados no Brasil têm menos de 5 anos de carteira.
A massa concorrencial é IMENSA!
Como então estabelecer um distinção para o mercado entre você e os demais advogados?
Não será de imediato pelo caminho da experiência. Adquiri-la leva tempo.
Por outro lado, incrementar o curriculum estabelece uma distinção face aos demais advogados, em tese, todos iguais. Procurem uma pós-graduação ou mesmo um mestrado. Sob o ponto de vista puramente acadêmico, de formação, é o passo mais óbvio para estabelecer uma distinção aos olhos do mercado.
Uma vez recebi a pergunta de uma leitora do Blog sobre o momento para se buscar fazer uma pós. Se de imediato ou se deveria esperar um pouco.
A resposta é simples: não espere!
2 - Escolha o seu nicho
É inevitável: o jovem advogado abre seu escritório e recebe uma causa de um campo jurídico distinto daquele que ele realmente conhece. Por exemplo: é trabalhista mas recebe uma causa tributária.
O que ele faz?
Ele pega a causa.
Isso é certo ou errado?
Não é certo, mas também não é errado: é inapropriado.
O Direito engloba um universo imenso e não é possível para ninguém abraçar tudo. O mundo hoje, e o mercado, exigem ESPECIALISTAS.
Mais do que exigir, a própria projeção profissional depende do jovem advogado ser reconhecido como bom em um campo jurídico, ser referência de CONFIANÇA entre seus pares, e clientes, como hábil em determinada área do Direito.
Não conheço advogados famosos notabilizados por serem "pau-para-toda-obra". Podem até existir, mas seguramente a maioria esmagadora dos advogados bem-sucedidos são especialistas em um campo do Direito.
Não queiram abraçar o mundo: contentem-se em dominar (dominar com profundidade) um ramo do Direito.
O especialista, o profissional bom mesmo em uma área, tem SEMPRE um espaço no mercado.
Tente compreender quais são as possibilidade econômicos em sua região, as particularidades do mercado e entre de cabeça no ramo jurídico correlato.
3 - Seja sociável
Respondam: Quem tem maior probabilidade de se dar bem na advocacia? O jovem advogado inteligente e que conhece muito o Direito, ou o jovem advogado muito bem relacionado e que conhece meio mundo de pessoas?
Eu fico com a 2ª opção.
O exercício da advocacia não é estanque, isolado da sociedade. Ao contrário, o advogado penetra em todos os nichos da sociedade, e isso sob o ponto de vista estritamente operacional: a vida civil precisa do advogado em um momento ou outro.
Estar na vida, ter relacionamentos, conhecer pessoas, saber se relacionar e estabelecer redes de contatos FORA do universo jurídico (assim como dentro também, obviamente) é vital para deslanchar uma carreira.
Você é um indivíduo de poucos amigos? Um concurso público se apresenta como alternativa mais indicada. Advogar exige desprendimento e boa capacidade de se relacionar
4 - Fique por dentro da política da entidade
Estamos entrando agora no período eleitoral da OAB. Neste ano teremos eleições e os "caciques" da advocacia ficam muito, mas muito sociáveis.
O processo eleitoral da Ordem é uma oportunidade excelente para vocês conhecerem muitos advogados, participarem de confraternizações e desenvolver amizades, mesmo que por interesse.
Não digo que vocês devem se aliar com a oposição ou com a situação, isso vai do gosto e das convicções pessoais, mas procurem não atacar ninguém e muito menos serem radicais. As alianças dentro da política da OAB são extremamente fluídas e um rival ontem pode perfeitamente ser um aliado amanhã. Acontece direto!
Uma boa rede de contatos adquirida neste momento em especial pode lhe render boas amizades, um emprego em um escritório ou mesmo algumas causas.
5 - Pense no longo prazo
Fincar os pés na advocacia com firmeza leva tempo. Um escritório de sucesso tem um fluxo regular e relativamente estável de causas. Criar esse fluxo leva anos.
Quantos?
No mínimo, para começar, 5 anos.
Sim...5 anos no MÍNIMO.
E isso com o SEU escritório.
Muito tempo, né?
A advocacia é uma proposta e um projeto de vida profissional de longo prazo. Não tem jeito! Um ou outro, em função de suas condições particulares, poderá conseguir um sucesso meteórico, mas no geral, em regra, leva-se tempo para decolar profissionalmente.
Por outro lado, caso o advogado seja bem-sucedido, o retorno é proporcional ao esforço. O servidor público encontra a estabilidade, mas também um teto remuneratório e uma vida profissional praticamente imutável: é empregado do Estado.
O advogado não terá limites, nem de escolhas e nem de remuneração.
6 - Montar o escritório assim que se formar ou trabalhar para alguém?
Advogar vai além do mero peticionamento ou aconselhamento. É uma atividade de interação relativamente complexa. Viver o dia-a-dia de um escritório, entender sua dinâmica, conversar com clientes, aprender a negociar com os clientes é um processo que agrega maturidade e segurança.
Pergunta-se: é melhor trabalhar para os outros ou abrir de plano o escritório?
Acredito ser preferível aprender os meandros do ofício trabalhando em um escritório para depois, aí sim, se jogar no mercado.
Claro! Tudo depende das condições pessoais e das oportunidades. Não existe uma sugestão excelente, pois tudo precisa ser temperado com as circunstâncias da vida de cada um. De repente, com o passar do tempo, o advogado empregado pode se tornar sócio. Depende das circunstâncias.
De toda forma, é melhor dar preferência aos processos em que a experiência profissional será mais intensa, e um escritório já estabelecido, sob este aspecto, é a melhor opção. Quando vocês julgarem que estão prontos, aí sim é hora de dar o vôo solo ou exigir uma fatia maior do bolo.
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Hoje vocês são lambaris, mas podem se transformar em tubarões.
Só não achem que por terem sido bons alunos na faculdade que as portas do sucesso irão se abrir com um largo sorriso. Isso não existe!
Cansei de ver, cansei mesmo, ver gente escrevendo que o mercado seleciona os melhores e o Exame de Ordem não servia para nada.
Não conseguiam passar no Exame e este não provava nada...
Não acredito no Exame de Ordem como um processo seletivo apto a averiguar muitas competências úteis para a advocacia, mas, ainda sim, é um processo de escolha e, para o bem ou para o mal, ele efetivamente filtra os aptos dentro de sua própria lógica.
E isso atende a um propósito.
Se antes dele a humildade para muitos já foi por terra, depois então...
Sejam HUMILDES!
E ser humilde nada mais é do que reconhecer uma ampla gama de limitações. E, a partir desse reconhecimento, buscar de forma consistente mitigá-las.
Experiência se adquire com o tempo e com a prática. Não é possível acelerar esse processo.
Capacitação é adquirida com estudo e com cursos de qualidade. Não é possível acelerar esse processo.
Ser conhecido no mercado depende do sucesso nas causas e da respeitabilidade no trato com colegas e com os clientes. Não é possível acelerar esse processo.
Sejam PERSEVERANTES!
A fórmula para o sucesso é uma só: tempo + suor.
O sucesso virá, apenas trabalhe para que isso aconteça. Tenham paciência!
Um ex-chefe meu me disse duas frases, curtas, que não esqueço até hoje.
A 1ª é para ser vista com graça, apesar de possuir uma verdade em seu âmago: "O saco do chefe é o corrimão do sucesso."
Rio até hoje com isso.
A 2ª foi de uma verdade incomensurável: "Não busque dinheiro, busque trabalho. Busque o trabalho que o dinheiro virá por gravidade."
Pensem nisso.