Advogar antes de se formar é uma péssima ideia...

Segunda, 7 de julho de 2014

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Não raro surgem histórias de estudantes de Direito que advogam antes mesmo de pegar a carteira da OAB, dada a Ânsia por entrar no mercado de trabalho.

Uma história recente é a do estudante que se passava por advogado para trabalhar em causas previdenciárias, tal como relatou o Conjur recentemente:

Um homem que se passava por advogado no interior paulista foi condenado a oito anos e dois meses de prisão, além de ter de pagar 70 dias-multa, por ter protocolado ao menos sete ações na Justiça Federal e cobrado honorários advocatícios, ?mediante artifício e ardil?. A vantagem financeira foi de R$ 650, segundo a sentença. Para o juiz federal Luiz Ribeiro Marins, da 2ª Vara Federal de Marília, os autos comprovam que ele cometeu estelionato e crime por uso de documento falso.

De acordo com o Ministério Público Federal, autor da denúncia, o réu atuou irregularmente entre 2010 e 2011 em ações contra o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), com objetivo de conseguir benefícios previdenciários. Ele era estudante de Direito na época, conforme a subseção da Ordem dos Advogados do Brasil em Marília, e falsificava a assinatura de um advogado, com quem dividia o aluguel de um espaço na cidade.

Ao ser ouvido durante o processo, o réu confessou a prática e disse ter desistido da faculdade, depois das acusações, por vergonha. A defesa, porém, tentou desqualificar a denúncia, alegando que a procuradoria não havia demonstrado qual documento teria sido falsificado e que o delito de estelionato não estaria configurado, por inexistência de qualquer prejuízo patrimonial ou vantagem indevida.

Mas o juiz rejeitou os argumentos e condenou o falso profissional à prisão em regime inicial fechado. Ele pode recorrer em liberdade até o trânsito em julgado. Cada dia-multa fixada ao réu corresponde a um trigésimo do salário mínimo na época dos fatos. Ele ainda terá de devolver o dinheiro recebido irregularmente de duas vítimas (R$ 350 e R$ 300, em valores corrigidos). Com informações da Assessoria de Comunicação Social do MPF-SP.

Fonte: Conjur

Em suma: ele matou a carreira antes de sequer começá-la.

Este é o ponto!

Começar a advogar ANTES de efetivamente ter a carteira é algo muito perigoso.

Em regra alguns estudantes se unem a advogados para conseguir efetivamente advogar, em função principalmente da necessidade da assinatura deste. E essa assinatura, não raro, custa bem caro em termos de participação nos honorários INDEVIDAMENTE cobrados.

Tudo por conta do desejo de advogar e, evidentemente, a ansiedade por ganhar dinheiro o quanto antes na profissão almejada.

Isso é um erro, e o é por demonstrar uma evidente FALTA de planejamento para a própria carreira.

Esse é o ponto: ser bem-sucedido na advocacia não é algo que ocorre em um estalar de dedos. Demanda planejamento, investimento e tempo!

Planejamento

Qual área da advocacia você pretende seguir? Em que mercado você pretende atuar? Quem são os atuais profissionais desta área que despontam nacionalmente e em sua região? O potencial mercado consumidor dos seus serviços é composto por quantas e quais pessoas?

Essas perguntas são basilares, e devem influenciar fortemente o futuro advogado. Conhecer o mercado, seu atores e quem joga de verdade nele é fundamental para se tomar uma decisão.

32,9% dos advogados estão insatisfeitos com renda na área jurídica

Quem tenta advogar ainda na faculdade, em regra, pega qualquer tipo de ação e trabalha na informalidade. Não faz nome, não consegue criar (em regra) um fluxo de caixa permanente, pois não pode se expor muito e ainda fica na sombra do advogado que assina.

Afora, evidentemente, se sujeita atrair a ira do cliente caso não posso despachar com o juiz ou tratar diretamente com o advogado da outra parte.

Investimento

Escritório de advocacia é uma empresa.

Ponto!

Será necessário lidar com fluxo de caixa, pagamentos, receitas, encargos sociais, encargos trabalhistas, mercado e mais um longo rol de obrigações idêntico ao de uma pequena empresa.

No começo de carreira o trabalho na informalidade é até comum, mas esse é uma situação que não tem como perdurar se o profissional desejar de fato ganhar dinheiro de verdade. Dinheiro que lhe permita ter um escritório arrumado e uma vida minimamente digna.

Advogar sem a carteira (já formado ou não) é um fator que impede sobremaneira qualquer tipo de estruturação. Até acontece, mas a sombra da informalidade sempre vai se relevar pesada demais para se suportar.

Não seria melhor estar já formado e com a carteira na mão para dar início a este processo?

Tempo

A pior parte, para todos os jovens advogados, é lidar com a ansiedade por fazer dinheiro.

E esse é o problema: não se estrutura nada com foco em DINHEIRO, e sim em TRABALHO.

Começar uma carreira, ganhar experiência, RESPEITABILIDADE, ser conhecido no mercado, montar o network de clientes e colegas, esbalizar os custos operacionais e, ao fim, fazer caixa, é algo que leva tempo.

E quando falo tempo, digo que leva pelo menos uns 5 anos para começar a dar certo.

Conheço um advogado tributarista que em uma palestra revelou o segredo do seu sucesso: trabalhar sem parar por 10 anos, sacrificando inclusive os finais de semana, para chegar onde chegou.

É preciso se sacrificar e ainda ser resiliente, pois o retorno não vem da noite para o dia e o desânimo seguramente irá atacar o advogado algumas vezes.

Com um planejamento é mais fácil resistir aos imprevistos, ou o menos ter noção das metas a serem batidas, tudo escalonado, tudo dentro de uma margem de relativa previsibilidade.

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O mercado, como nós sabemos, não está fácil. Por isso o universo dos concurseiros é tão valorizado: não é preciso arriscar na iniciativa privada - e viver seus dissabores - para conseguir um lugar ao sol. O próprio intelecto abre o caminho.

O problema é quando muitos pensam da mesma forma. Acaba sendo difícil independentemente da direção a ser tomada.

Por isso a necessidade de se planejar e, acima de tudo, respeitar os momentos. Advogar sem a carteira em regra não abre margem para nenhum tipo de progressão profissional, tão somente pequenos lucros incapazes de gerar um crescimento sustentado, afora o risco de por a própria carreira em risco, seja na advocacia, seja para os concursos públicos.

Preparar-se para cada estágio da profissão, um por um, é o melhor caminho.

Durante a faculdade preocupe-se em forma uma boa rede de contatos, em estudar e em passar no Exame de Ordem. Se cada etapa for feita de forma correta, a etapa seguinte se torna mais fácil.

Queimar etapas pode queimar a carreira também.