Advogado negro é barrado em bar por ?parecer um segurança?

Segunda, 17 de julho de 2017

Advogado negro é barrado em bar por ?parecer um segurança?

Um advogado passou por momentos de discriminação na noite desta quinta-feira (13/7), em um bar de Curitiba, no Paraná. Juliano Trevisan, de 27 anos, foi impedido de entrar na casa noturna ?James Bar? por causa da roupa que vestia: calça social preta, camisa preta de mangas curtas e uma gravata da mesma cor. A justificava, segundo um segurança do local, era que ele estaria ?parecendo um segurança? e poderia ser confundido com um dos funcionários da casa.

Vejam o desabafo dele, publicado nas redes sociais:

CARTA ABERTA AO JAMES BAR

Imaginem a seguinte situação: Um homem é informado que não poderá entrar em uma casa noturna, por que não esta com roupas adequadas.

Qual seria esta tal roupa inadequada?

A primeira imagem que viria na cabeça da maioria de vocês (e até mesmo para mim se alguém me contasse isto) seria de alguém com regata, talvez calção, talvez chinelo, talvez sem camisa e por aí vai. MAS NÃO.

O homem que cito aqui, ERA EU.

A roupa em questão, era EXATAMENTE A ROUPA DA FOTO (camisa manga curta preta, calça social, sapato marrom, e gravata preta). Parece brincadeira o que vou contar, mas aconteceu.

Ontem (13/07), saindo de um evento para advogados, do qual participo da organização, combinei com amigos de ir ao James Bar, como saímos tarde do evento, resolvemos ir com a mesma roupa.

Poucos minutos após chegar e ficar na fila do James, fui abordado por um dos seguranças que me chamou para conversar com um funcionário de cargo relevante na balada.

No que cheguei, o funcionário me olhou dos pés a cabeça e informou que pelo meu estilo, com ?a roupa que estava usando eu não poderia entrar?. Olhei para minha roupa tentando entender o por que, e ele continuou ?roupa preta gravata e tal, você vai ser confundido com segurança lá dentro, assim não pode entrar?.

O segurança que estava do lado e tinha um rabo de cavalo ainda completou: ?e não tem como você falar do seu cabelo, pois eu também tenho cabelo comprido, olha?.

Na hora a situação me chocou tanto, que fiquei bobo. Não quis discutir, não quis ?acabar com minha noite e de meus amigos?, então simplismente falei que iria embora.

No que entrei no carro para ir embora foi que caiu a ficha.

Como militante, vivo expondo situações de preconceito e discriminação e os vários viés. Mas quando acontece comigo, ainda fico chocado sem ação.

Me sinto humilhado, olhei mil vezes minha roupa, até entender que o problema não é minha roupa, não é meu estilo, não sou eu. E preciso sim, expor esta situação a vocês e demonstrar qual grave ela é, e o que ela representa socialmente falando nos dias de hoje.

?Parecendo um segurança.?

Conheço várias pessoas que vão lá de camisa e gravata e nem por isso foram barradas. A verdade mesmo é que, por mais que estivesse parecendo com segurança da casa, isto não justifica barrar entrar no local. Roupa social não é uniforme exclusivo de empresas de segurança, o que dizer de formaturas onde os seguranças estão vestidos igual aos convidados?

Esta atitude só demonstra a parcialidade do funcionário, e o amadorismo por parte da empresa de segurança, que já vem sendo notada por varias outras situações ocorridas na casa.

Pra que um problema social seja resolvido, ele primeiro deve sempre ser apontado. Isto por que parte da sociedade insiste em relutar contra as inúmeras situações passadas hoje por negros, mulheres, gays e demais grupos de minoria, insistindo em dizer que o preconceito e a discriminação hoje em dia são ?mimimi?.

Tenho a esperança de que um dia as casas noturnas tenham um treinamento profissional adequado para que ninguém mais passe por situações como esta e que apliquem as medidas legalmente cabíveis aos envolvidos quando ocorrerem fatos como este.

Fonte: Facebook de Juliano Trevisan

Em nota, também no Facebook, o James Bar informou que os funcionários envolvidos no episódio foram demitidos ?para que isso nunca mais ocorra?. ?Por mais que tentemos nos colocar no lugar do Juliano, não vamos conseguir entender a sensação de humilhação que ele sentiu no momento. Mas imaginamos algo muito triste e distante do que sempre queremos para todos?, registraram no post:

Olá. Gostaríamos de fazer uma retratação pública ao Juliano Trevisan ? e a todos vocês, que corretamente se solidarizaram com ele.

Infelizmente, ocorreu um episódio do qual devemos nos retratar e esclarecer o que aconteceu. Estamos muito chateados e envergonhados. Na noite de quinta-feira (13/07), o Juliano foi equivocadamente informado que não poderia entrar no bar por conta do que estava vestindo. Essa foi uma atitude errada e que não condiz com o que acreditamos.

Por mais que tentemos nos colocar no lugar do Juliano, não vamos conseguir entender a sensação de humilhação que ele sentiu no momento. Mas imaginamos algo muito triste e distante do que sempre queremos para todos. Toda vez que vocês pisam no James, desejamos que se sintam especiais, acolhidos e livres.

Ontem falhamos nessa missão por causa de uma atitude arbitrária dos funcionários envolvidos. Nossa decisão, portanto, foi desligá-los de nosso quadro, para que isso nunca mais ocorra.

Damos muita importância à participação de vocês ? críticas e elogios ? para que possamos evoluir e melhorar. Aprendemos muito com isso e estamos trabalhando para sempre oferecer um local seguro e justo, com a descontração de sempre. Que seja um lugar onde vocês se sintam à vontade para expressar a essência de cada um: tudo com base no respeito, na diversidade e na tolerância.

Fonte: Facebook James Bar