Quinta, 1 de outubro de 2020
A prisão de um advogado na 16ª Delegacia de Polícia (Planaltina) gerou conflito institucional entre a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF). O profissional alega ter sido vítima de abuso de autoridade por parte de agentes e delegados.
Por outro lado, os agentes garantem que foram desacatados. Uma manifestação feita por integrantes da OAB está prevista para ocorrer em frente à unidade policial na sexta-feira (02/10).
O caso ocorreu na última quinta-feira (24/9). O defensor estava acompanhando o cliente quando um agente de polícia entrou na sala do delegado. Segundo a versão dos policiais, o defensor apontou o dedo em riste e afirmou que tinha desentendimentos anteriores com o servidor.
De acordo com eles, o delegado pediu para que o agente se retirasse da sala em uma tentativa de acalmar os ânimos no local. Porém, não foi suficiente. O advogado teria passado a ofender os presentes. Policiais lotados na delegacia ouviram a confusão, foram até o local e receberam ordem para conter o profissional.
Os policiais detalham que o homem estava muito alterado e chegou a ameaçar os servidores afirmando que eles ?iriam ver?. A corporação explicou que foi preciso fazer ?uso moderado da força? para controlá-lo. Diante da confusão, o delegado acionou um representante da OAB, que foi ao local. Ao ser informado de seus direitos, o homem teria começado a gargalhar.
Em sua versão, o advogado afirma ter sido chamado de ?advogadozinho de bandido? pelo agente de polícia, além de ser algemado e preso ?sem motivo aparente?.
Uma testemunha ouvida na delegacia presenciou os fatos e detalhou que a discussão teve início com o advogado bastante exaltado. Segundo o depoimento, o defensor não falava alto, ?gritava?. Prosseguiu informado que o homem disse que ?aquele era o seu tom de voz , iria continuar e poderia ser preso?.
Outros casos
O advogado tem histórico na polícia. Em 25 de agosto, ele foi abordado por uma guarnição da Polícia Militar e apresentado na delegacia pelo crime de desacato.
Consta na ocorrência que, ?apesar da resistência do autor e por este motivo ser necessário o uso de algemas, para segurança da equipe e do conduzido, pois este estava bastante alterado e nervoso. O comunicante ainda acrescentou que o autor havia lhe ameaçado dizendo que ia resolver depois, contou que os policiais o conheciam e que não ia ficar assim?.
Em 16 de janeiro deste ano, o advogado foi alvo de outra ocorrência registrada pelo crime de ameaça e contravenção de vias de fato praticado contra um idoso. À época, a vítima informou que o autor lhe empurrou e disse que era homem, capaz de matar. Há, ainda, passagens por violência doméstica e condenação criminal por roubo com restrição de liberdade.
Ao Metrópoles, o presidente da OAB-DF Délio Lins e Silva, afirmou que o caso passará por deliberação do pleno nesta quinta-feira (1/10), que decidirá quais providencias serão tomadas.
Manifestação
Uma nota assinada por Délio ganhou as redes sociais nesta quarta-feira (30/9). No texto, o presidente da OAB-DF diz que ?um advogado, no exercício de sua profissão, teve suas prerrogativas violadas, onde o mesmo foi algemado pelas mãos e pés e posto na cela, e diante da postura de um delegado de Polícia em desligar o telefone repentinamente se esquivando de atender o representante da OAB local, que ligou institucionalmente para tratar sobre a prisão de advogado?.
A OAB, em conjunto com todas as subseções do Distrito Federal, convocou os advogados para um ?ato em defesa das prerrogativas?, em frente à 16ª DP.
Ainda de acordo com a nota, a OAB destaca que ?violar prerrogativas de advogados é desrespeitar os direitos dos cidadãos e não se trata de um privilégio da classe mas de uma garantia de direitos constitucionais?.
Abuso de autoridade
Contando sua versão dos fatos, o advogado Rodrigo Santos afirma que sofreu abuso de autoridade por parte da 16ª DP. Foi algemado e preso por pelo menos duas horas.
Santos informou que se deslocou até a delegacia para atender a um cliente. Segundo o advogado, a delegacia realizou uma operação, mas seu cliente foi detido mesmo sem alvo da ação.
A suspeita era que o carro do cliente fosse clonado. Os policiais pediram a documentação do veículo. De acordo com Santos, a papelada teria sido entregue. Este foi o ponto de partida para episódio.
?Eu virei para o agente e disse que o documento tinha sido apresentado. Ele disse que não. Novamente eu expliquei para eles. Ele virou e já começou em tom alto a falar para mim que ele tinha fé pública?, contou.
O impasse continuo. ?E ele se alterou muito comigo. E eu pedi para ele me respeitar. Simplesmente eu falava para ele me respeita, porque estou no exercício da minha função. Estou fazendo meu trabalho?, contou.
Nas palavras de Santos, o delegado teria tentado tirar o agente da sala, mas o policial teria voltado. ?Dizendo que eu era advogadozinho de bandidinho?, relatou.
Arma
O advogado pediu explicações ao delegado. ?Ele se alterou mais do que todo mundo. Meteu a mão nos peito e me empurrou na cadeira?, contou.
Santos disse que cobrou novamente respeito. ?Então ele (o delegado) já puxou a arma para mim e disse que quem mandava ali naquele local era ele?, descreveu.
?Me levou. Me algemou. E nisso oito agentes de polícia grudados na minha cabeça, grudados em mim. E a testemunha presente, presenciando tudo. Me algemaram. Meus braços ficaram inchados. Me algemaram nos pés e me colocaram na cela?, detalhou.
Perseguição
Na leitura do presidente da subseção da OAB-DF em Planaltina, Dalton Ribeiro, vários atos de autoritarismo, arbitrariedade e perseguição contra advogados vem ocorrendo na cidade.
Segundo Ribeiro, serão apresentadas representações por abuso de autoridade na Secretaria de Segurança do DF e na Polícia Civil do DF. Também está em análise uma representação criminal.
Também serão cobradas providências junto ao Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT). ?Isso não é um fenômeno isolado na 16ª DP. De 2019 a 2020 recebemos várias denúncias, queixas de violação de prerrogativa?, pontuou.
Ribeiro informou que a OAB constatou que Rodrigo foi encontrado dentro de uma cela comum na delegacia com as mãos e pés algemas.
Fonte: Metrópoles