A única lição a ser retirada do dia de hoje: o Exame da OAB é efetivamente regido pelos números!

Sexta, 17 de abril de 2015

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Logo após a prova do dia 15 eu escrevi um longo texto falando dos motivos pelos quais levaram a  FGV a aplicar uma prova tão desproporcional como a última.

Sua reprovação na prova do domingo não é resultado do acaso: ela foi friamente planejada!

Naquela oportunidade, entre outras coisas, escrevi o seguinte:

Agora observem a evolução do número de candidatos advindos da repescagem:

XIII Exame (foi a primeira prova da 2ª fase com candidatos de repescagem, oriundos do XII Exame):

Aprovados na 1ª fase: 30.150

Candidatos da repescagem: 7.864 

Total na 2ª fase: 44.835

XIV Exame

Aprovados na 1ª fase: 38.014

Candidatos da repescagem: 17.185 

Total na 2ª fase: 55.199

XV Exame

Aprovados na 1ª fase: 53.330

Candidatos da repescagem: 17.024

Total na 2ª fase: 70.354 (recorde de candidatos em 1 segunda fase)

XVI Exame:

Candidatos que já estão na repescagem: 29.783

No XIII Exame tivemos a mais na 2ª fase 7.864 candidatos, exatamente aqueles reprovados na 2ª fase do XII. Agora, 3 edições depois, nós já temos na 2ª fase do XVI Exame 29.783 candidatos na repescagem do XVI Exame, ou seja, um crescimento imenso de candidatos se compararmos com o XIII Exame.

Esse crescimento se deve, principalmente, ao enorme número de aprovados na 1ª fase do XV Exame, gerando um grande número de candidatos já na repescagem do XVI.

Teorizando aqui, se na 1ª fase do XVI Exame fossem aprovados uns 50 mil candidatos, a 2ª fase seria ainda maior do que foi a 2ª fase do XV Exame.

Pergunta: como é que faz para controlar o número de candidatos advindos da repescagem de uma edição para outra?

Resposta: reprove geral na 1ª fase!

Meio óbvio até entender o grau de dificuldade da prova do domingo. A FGV estava exercendo um controle para "equalizar" o número de candidatos nesta e na próxima 2ª fase.

Mas por que eles precisariam controlar?

Tal como expliquei mais acima, é porque existe um percentual médio de aprovação final em cada edição do Exame, percentual este de 15/18%. Aqui é preciso admitir que existe um controle. Para mim, olhando as estatísticas, sem dúvida há um.

Quanto mais candidatos mais difícil exercer o controle, ou seja, seria preciso dificultar a prova para manter o patamar de reprovação nos níveis desejados.

O grau de dificuldade na prova do domingo não foi resultado do acaso, nem mesmo de um desejo sanguinolento de reprovação. Tão somente resultado da matemática friamente aplicada.

Examinando é número, é estatística, e é assim que eles trabalham.

Pergunta final: por que o percentual final de aprovados não pode ser de 40, 50 ou 60%? Por que isso nunca ocorre?

Fiz essa pergunta só para vocês entenderem que a prova tem sua lógica, e a FGV segue ela. Ou vocês acham que após tantos anos os candidatos não vêm se preparando melhor a cada exame?

Comparem uma prova de 1ª ou 2ª fase de hoje com suas similares do tempo do CESPE ou mesmo do tempo das seccionais. Impossível não perceber a diferença na complexidade.

Mas as estatísticas sofrem apenas pequenas oscilações. Isso em função do tal do controle. Candidatos mais preparados geram um aumento da dificuldade nas provas, de um modo geral. Assim, os 15/18% de aprovação é sempre assegurado pela FGV.

Nada é resultado do acaso, nem mesmo uma prova cruel como a de domingo.

Por mais que a prova da 1ª fase tenha sido apocalíptica, por mais que tenha reprovado sem dó nem piedade, por mais que tenha sido bizarra, repositório inconteste de várias questões viciadas, além de questões muitíssimo acima da capacidade dos examinandos, a lógica precisou ser mantida.

Eu já imaginava, claro, que uma chuva de recursos serviria apenas para alimentar uma ilusão nos candidatos, apenas 3 efetivamente eram passíveis de anulação, mas essas 3 ou 4 tinham CONSISTÊNCIA! Mereciam mesmo serem anuladas:

XVI Exame de Ordem: recurso para a questão da Medida Provisória Z

XVI Exame de Ordem: recurso do advogado Anderson

XVI Exame de Ordem: recurso da questão do esbulho possessório

E dos 4 recursos que fizemos, um a banca meio que "admitiu", pois reformou ela pelo meio do caminho, tal como o professor Matheus Carvalho sugeriu ( o único a sugerir isso):

XVI Exame de Ordem: recurso para a questão de Carlos, servidor público federal

FGV retifica questão do gabarito oficial: O que acontece com os candidatos?

Mas nem isso, nem mesmo a força dos recursos - em razão da debilidade das questões - serviu para sensibilizar a banca, tampouco o tamanho da hipotética imensa reprovação (não sabemos quantos se inscreveram na prova).

Ultimamente, aliás, nada sensibiliza a banca.

E não sensibiliza por uma única razão: a condução sobre a prova segue os números e não o Direito.

Ninguém me contou isto! Aliás, os números, as estatísticas me contaram. E os números não mentem....

Fato: a banca precisou mesmo equalizar o número de candidatos na repescagem e teve que reprovar forte na última prova objetiva, ignorando aí as falhas apontadas em nossos recursos.

Pura matemática.

E nós sabemos que o Direito não se assenta em bases numéricas, matemáticas. O problema é que a realidade que aprendemos, a realidade jurídica, não serve para o Exame de Ordem. O que serve é uma outra realidade...

...a realidade estatística, de controle, de reserva de mercado!

Esse jogo é impossível de ser vencido por nós.

É verdade, e isso precisa ser confessado, que a qualidade da prova da 1ª fase subiu MUITO desde o X Exame de Ordem. O número geral de recursos caiu drasticamente e isso é inegável.

Mas a última prova jogou todos esses avanços no RALO, desproporcional em sua concepção, afora a belíssima ignorada dada pela banca nas manifestas falhas na construção de certas questões, afora a desproporção apresentada por outras.

Nas últimas 5 edições, contando a atual, apenas duas questões foram anuladas. A perfeição do Exame de Ordem não chegou a tanto...

Aí voltamos para a mesma velha ladainha de sempre: são posturas assim que fragilizam o Exame de Ordem e abrem a brecha para seus detratores deitarem e rolarem em função das injustiças.

Uma prova justa não tem como ser criticada!!

Mas só uma prova justa!

Essa do último dia 15 foi para chorar. Quem defende aquela prova?

Só a banca, a banca de uma prova que não possui NENHUMA mácula.

Inacreditável!

Durmam com um barulho desse.