Quinta, 7 de julho de 2011
Os últimos dias foram ricos em dados para se pensar o Exame, e eu, que gosto compilar e trabalhar com números e estatísticas, ganhei vários subsídios para refletir.
Vamos analisar os dados de forma separada.
1 - DADOS GERAIS DE APROVAÇÃO
Primeiro vamos ver os dados de aprovação no Exame: número de inscritos, aprovados e estatísticas correlatas por Exame.
2008.1 - 39.357 inscritos - 11.063 aprovados
Percentual de aprovados em relação ao número de presentes: 28.87%
2008.2 - 39.732 inscritos - 11.668 aprovados
Percentual de aprovados em relação ao número de presentes: 30,22%
2008.3 - 47.521 inscritos - 12.659 aprovados
Percentual de aprovados em relação ao número de presentes: 27,35%
2009.1 - 58.761 inscritos - 11.444 aprovados
Percentual de aprovados em relação ao número de presentes: 19,48%
2009.2 -70.094 inscritos - 16.507 aprovados
Percentual de aprovados em relação ao número de presentes: 24,45%
2009.3 - 83.524 inscritos - 13.781 aprovados
Percentual de aprovados em relação ao número de presentes: 16,50%
2010.1 - 95.764 inscritos - 13.435 aprovados
Percentual de aprovados em relação ao número de inscritos: 14,03%
2010.2 - 106.041 inscritos - 16.974 aprovados
Percentual de aprovados em relação ao número de inscritos: 16,00%
2010.3 - 106.891 inscritos - 12.534 aprovados
Percentual de aprovados em relação ao número de inscritos: 11,73%
----
O que se extrai dos dados acima?
No Exame de Ordem 2008.1 tivemos 39.357 candidatos inscritos, e no Exame 2010.3, foram 106.891.
Isso representa um crescimento no número de inscritos de 171.59%. Há de se ressaltar que esse crescimento decorreu do processo de unificação da prova, gradual, e também da autorização para que os acadêmicos do 9º e 10º semestres pudessem também se submeter ao Exame.
Por outro lado, os percentuais de aprovação foram lentamente diminuindo, dos 28,87% do Exame 2008.3 até os 11,73% na última prova. Tal redução aponta para uma relativa estabilidade no número final de aprovados.
Nas 9 provas acima apresentadas, a média de aprovados é de 13.340 candidatos, em um total de 120.340 advogados incluídos nos quadros da OAB nos últimos 3 anos.
Conclusões:
1ª) O Exame de Ordem, apesar de quase dobrar o número de inscritos, apresenta sempre uma média de aprovação. Esse é o fundamento-base para se alegar que o Exame representa uma reserva de mercado, pois, se a prova tem o condão de averiguar capacidade, porque o número de aprovados não seguiu o crescimento percentual do número de inscritos?
2ª) Se o número de aprovados não acompanhou o número de inscritos, então a prova, ao menos sob esta análise, tornou-se mais difícil, exatamente para conter o crescimento do número de aprovados e mantê-lo relativamente estável.
2 - A MASSIFICAÇÃO DO ENSINO AFASTA A QUALIDADE
O jornalista Rodrigo Haidar, do Conjur, elaborou uma série de observações muito interessantes sobre os dados divulgados na 2ª feira sobre o Exame de Ordem. Vamos ver um desses gráficos
Rodrigo Haidar constatou que dez universidades tiveram mil ou mais alunos inscritos no Exame e a média de aprovação entre essas instituições é de 11,2%, que é um percentual baixíssimo de sucesso na prova.
Em uma leitura atenta dos dados, dá para observar que são raros os cursos que apresentaram mais de 200 alunos ao Exame que conseguiram percentuais de sucesso acima dos 10%. E 10% não é quase nada.
Conclusão:
Quanto mais alunos, pior o desempenho da IES no Exame de Ordem, e se o desempenho é pior, a qualidade do conteúdo apresentado decaí e o controle do aproveitamento dos alunos é menor. É a industrialização da graduação.
3 - O EXAME ESTÁ MAIS DIFÍCIL
Convergindo com a 2ª conclusão do item 1, de que o Exame de Ordem está mais difícil, percebe-se que as melhores faculdades têm percentualmente aprovados menos em relação a provas passadas. Vejamos os 20 melhores desempenhos do Exame de Ordem 2010.3:
Vejamos agora o desempenho das 10 melhores faculdades nos últimos Exames:
Exame 2010.1:
DF - Universidade de Brasília (UnB) (86,8%)
PE - Universidade Federal de Pernambuco (81,3%)
MG - Universidade Federal de Minas Gerais (80,1%)
MG - Universidade Federal de Juiz de Fora (78,9%)
RS - Universidade Federal de Santa Maria (76%)
PB - Universidade Federal da Paraíba (75,2%)
RN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte (72,3%)
CE - Universidade Federal do Ceará (69,4%)
PR - Universidade Federal do Paraná (67,5%)
SP - Universidade de São Paulo (66,5%).
A região Nordeste emplacou 4 universidades entre as 10 mais. Minas Gerais 2. Distrito Federal, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná uma cada.
Vamos ver agora como foi no Exame de Ordem 2009.3:
SE - Universidade Federal de Sergipe (80%)
PB - Universidade Federal da Paraíba (75,36%)
RN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte (75%)
PR - Universidade Federal do Paraná (74,49%)
SP - Universidade de São Paulo (73,13%)
DF - Universidade de Brasília (72,34%)
PI - Universidade Federal do Piauí (71,26%)
SP - UNESP (67,07%)
SC - Universidade Federal de Santa Catarina (66,67%)
SP - Escola de Direito de São Paulo (66,67%)
-------
Não tenho informações do Exame 2010.2.
Conclusão:
É de se presumir a proporcionalidade do impacto sofrida pelas melhores faculdades também entre as com desempenho mais sofrido. Somando a constatação de que as melhores faculdades aprovam menos alunos, proporcionalmente com a constatação de que percentualmente o Exame de Ordem tem reprovado mais e, numericamente, o número de candidatos mantém uma média, é difícil não concluir pela aumento do grau de dificuldade da prova.
4 - QUEM MAIS APROVA ESTÁ LONGE DE SER O MELHOR
Já vi inúmeras vezes faculdades fazendo propaganda ao afirmarem que são campeãs no Exame de Ordem, e por isso são as melhores faculdades.
Na realidade, isso não é verdade. As melhores faculdades são as que aprovam mais proporcionalmente o número de inscritos, e não apenas quantitativamente
Salvo poucas exceções, tais como a PUC-SP, USP e UFRJ, quem quantitativamente aprova muito percentualmente aprova pouco. Faculdades como a Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, teve um índice de aprovação de apenas 14%, enquanto a Unip-SP aprovou apenas 230 bacharéis entre 3.302 inscritos.
Conclusão:
O número puro e simples de aprovados não pode ser tomado como indicativo de qualidade da faculdade. De acordo com o presidente da OAB, Ophir Cavalcante, em entrevista ao Portal G1, um estudo feito por ele com dados dos últimos quatro exames anteriores mostra que as 20 melhores instituições de ensino superior públicas aprovam, em média, entre 70% e 90% dos candidatos inscritos. Nas 20 piores universidades públicas e as 20 melhores universidades privadas, a aprovação média é de 40% a 60%. Já as 20 piores instituições particulares aprovam entre 3% e 5%.
5 - A REPROVAÇÃO DIMINUI DRASTICAMENTE AS CHANCES DE APROVAÇÃO FUTURA
A informação mais interessante, e preocupante também, é a probabilidade de sucesso de quem reprovou no Exame ser aprovado em um outro Exame é de apenas 7%, em média, e os que fazem a prova pela primeira vez, ou estão no nono e décimo períodos da faculdade (treineiros), têm média de 25% de aprovação.
Esses dados tem de ser lidos com um outro, retirado de uma pesquisa da OAB entre os candidatos da 2ª fase do último Exame de Ordem, de que 80% dos inscritos já haviam feito a prova pelo menos mais de uma vez.
É muito difícil dar uma causa, ou causas, para esses dados. Eles mostram que a janela de aprovação é muito estreita, e a reprovação pesa, e muito, nas chances de um eventual futuro sucesso.
Desconsiderando aspectos psicológicos, pois estes certamente entram no cômputo do problema, talvez (mera especulação) a causa para esses parâmetros sejam as seguintes:
1 - O candidato que reprova possui algum tipo de deficiência de aprendizagem e não consegue superá-la;
2 - O candidato reprova por qualquer motivo e entra em um círculo vicioso, pois o lapso de tempo entre as provas não permite abranger todo o conteúdo, "prendendo" o candidato em uma preparação repetitiva.
Conclusões:
1ª) Passar no 1º Exame é muito importante, não sei exatamente o porquê, mas É importante! Por isso a preparação para a prova deve ser ANTECIPADA pelo candidato ao menos em um ano. Antes o candidato parava para estudar faltando 3 ou 4 meses para a prova. Hoje, definitivamente, isso é um erro.
2ª) A partir do 8º semestre o estudante de Direito já deve começar seus estudos. Como a reprovação é a regra, antecipar os estudos para abranger todo o conteúdo impõe-se como necessidade.