Quinta, 9 de maio de 2013
A Agência Câmara de Notícias publicou hoje mais cedo uma reportagem sobre a qualidade das correções das provas do Enem. Vamos conferir a notícia:
Educadora diz que excesso de trabalho causa erro na correção do Enem
As novas regras que aumentam o rigor na correção da redação do Enem, anunciadas ontem pelo Ministério da Educação, não resolvem os problemas principais do exame. Essa é a opinião de Gisele Gama, presidente da Abaquar - Consultores e Editores, que já coordenou a equipe de correção da prova.
Gisele, que participa nesta manhã de audiência pública da Comissão de Educação, afirma que erros humanos na correção vão continuar ocorrendo por causa do excesso de redações para sem corrigidas em pouco tempo: cerca de 10 milhões de textos avaliados em um mês. Segundo ela, os professores que corrigem as redações continuam atuando em sala de aula e fazem as correções no tempo livre.
Os deputados também ouviram o professor da Faculdade de Educação da USP Ocimar Alavarse. Para ele, apesar da amplitude do Enem, o exame não democratiza o acesso ao ensino superior, porque os alunos de escola pública não conseguem desenvolver as competências pedidas pela prova da mesma forma que os alunos de escolas particulares.
O debate está sendo realizado no Plenário 10.
Fonte: Agência Câmara
A lógica do problema verifica no Enem é integralmente aplicável ao Exame de Ordem: quando o número de candidatos é muito grande, a qualidade das correções cai drasticamente.
E agora, mais do que nunca, o risco de termos correções pífias tornou-se imenso. Vamos dar uma olhadinha no histórico de aprovação na 1ª fase da OAB:
V - 108.355 inscritos - 46,72% de aprovação final na 1ª fase
VI - 101.246 inscritos - 46,30% de aprovação final na 1ª fase
VII - 111.909 inscritos - 41,01% de aprovação final na 1ª fase
VIII - 117.852 inscritos - 43,51% de aprovação final na 1ª fase
IX - 118.217 inscritos - 16,18% de aprovação final na 1ª fase
X - 124.887 inscritos - 54% de aprovação final na 1ª fase
Dessas provas todas acima, adivinhem qual foi a menos problemática. Acertou quem marcou o IX Exame de Ordem, o mais tranquilo em termos de qualidade de correção (falo só da correção, deixando de lado os critérios da banca sobre o que é certo ou errado na prova em si).
Agora, no décimo Exame, não só tivemos o recorde de inscritos como também o recorde de aprovados (67.441), superando em muito o recorde anterior, ocorrido no VIII Exame de Ordem, quando 51.277 candidatos foram aprovados na 1ª fase. Uma diferença a mais de 16.164 candidatos.
Aqui é oportuno relembrar o que foi o VIII Exame, só a título de curiosidade. Naquela oportunidade, nunca antes os padrões de avaliação e de correção das provas subjetivas produziram tantos estragos. Não chegou, é verdade, a bater o massacre de reprovações do VII Exame, mas não me lembro de uma edição do certame em que tantos candidatos reprovaram por conta de armadilhas feitas nas provas.
Quem fez Tributário, Constitucional, Empresarial e Administrativo naquela oportunidade sabe bem do que eu estou falando, isso sem desprezar outros dramas de outras disciplinas.
Muitos, mas muitos candidatos que fizeram Tributário e Constitucional tomaram um "balão" da banca e foram reprovados logo na peça, seja por uma (in)existência nebulosa no edital - A peça agravo de instrumento na prova de Tributário violou o edital - seja por um enunciado capcioso - Minuta de recurso para quem fez o Resp na prova de Direito Constitucional.
Em Empresarial a correção da banca ignorou, para vários candidatos, o próprio critério de correção do padrão de resposta - Falha GRAVE na correção das provas de Direito Empresarial do VIII Exame de Ordem - e tomaram zero mesmo tendo acertado a peça. E quem fez Administrativo ficou perplexo com os critérios de análise e correção estabelecidos no padrão de resposta, gerando um aumento sensível no número de reprovados nesta disciplina, até então considerada a nova queridinha dos examinandos - Análise do padrão de resposta de Direito Administrativo.
Isso sem contar a questão da errata da prova de Direito do Trabalho - VIII Exame de Ordem: errata na prova de Direito do Trabalho pode gerar prejuízos aos candidatos - que tirou pontos precisos de vários candidatos, atrapalhando o sonho da aprovação.
Ou seja, a coisa foi feia naquela oportunidade, e em várias outras também. Aliás, tirando uma edição, todas as demais, sob o comando da FGV, suscitaram algumas controvérsias.
Esse contexto é muito preocupante.
Os candidatos, de um modo geral, não têm uma "memória histórica" do Exame e mal fazem ideia dos problemas.
Se não houver agora uma cobrança por uma qualidade maior na correção das proas, depois será só choro sobre leite derramado.
A OAB certamente tem ciência deste problema e, de alguma forma, deve estar diligenciando junto à FGV no sentido de melhorar a estrutura para a correção das provas, ou seja, alocar mais profissionais nas correções.
E a FGV, evidentemente, precisa elaborar provas sem aquele conhecido espírito de derrubar os candidatos, em especial identificação das peças.
A prova pode ser difícil, mas ela tem de respeitar a lógica e o bom Direito. Só se pede isso.