A ordem de resolução das questões da 1ª fase da OAB

Sexta, 1 de agosto de 2014

Há uma utilidade real quando se estabelece uma ordem arbitrária de resolução da prova objetiva? É útil? Produz efeitos?

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Essa é uma questão de significativa e muito útil para quem quer otimizar o desempenho.

Mas será que determinar onde começa e onde termina uma disciplina na prova consome muito tempo?

Não consome e  isso é facilmente verificável.

O candidato leva, EM MÉDIA, 4 minutos para determinar o início e o fim de todas as disciplinas da prova. E digo isso exatamente por ter feito uma avaliação empírica, na prática, do tempo gasto na busca das disciplinas. Não é achismo, é constatação prática!

Vários candidatos já passaram o mesmo feedback sobre o tempo gasto no processo, que vai de 2 a 5 minutos.

Ademais, a mensuração do gasto do tempo pode (e deve!) ser feita pelo próprio candidato. Só assim ele passa a ter segurança quanto ao procedimento. Se o candidato fizer isso com umas 3 provas, muito provavelmente vai levar uns 3 minutos no procedimento na hora da verdade.

A dica, evidente, tem base empírica, avaliada na prática. Esse cuidado deriva de constatações pessoais, práticas e, sempre que possível, testadas com terceiros. O tempo perdido nesse processo é mais do que compensado pelos benefícios que proporciona, e é isso que vou explicar agora.

Pergunta básica: por que resolver as questões seguindo uma ordem, no caso, da mais fácil para a mais difícil?

Nota: o fácil e o difícil são personalíssimos. Cada examinando sabe muito bem quais são suas preferências.

Podemos elencar alguns elementos para justificar a ordenação das questões por ordem de resolução e assim otimizar o tempo e o desempenho do candidato. Ademais, para escrever o texto, consultei o maior especialista em preparação para concursos hoje no Brasil, Dr. Rogério Neiva.

1 - Maior disposição intelectual

O ápice do desempenho intelectual concentra-se no início da prova. Não só porque o cérebro está descansado, sem ter passado por nenhum esforço mais sério, como também as reservas naturais de glicose estão em seu ponto mais alto, considerando aqui as 5 horas do certame. É uma questão de bioquímica neural e de nutrição: a melhor condição está no início da atividade.

Ao resolver primeiro as questões mais fáceis, o candidato sofrerá um desgaste muito menor. É óbvio que o desempenho intelectual sofre um decréscimo após algumas horas de concentração. A atenção e capacidade de raciocínio estarão diferentes após três horas de resolução de prova comparando com a primeira meia hora dela. O candidato deve aproveitar o início da prova para ter um excepcional desempenho nas áreas de predileção, em que o esforço de compreender o problema e resolvê-lo é menor em função a familiaridade com a disciplina.

2 - Lógica de Pareto

Pode ser contraproducente fazer a prova seguindo as questões na ordem em que elas são apresentadas. Trata-se de observar a lógica do Princípio de Pareto (também chamado de princípio do 80/20), no sentido de otimizar recursos e buscar eficiência.

Vilfredo Pareto foi o criador da ideia de que geralmente 20% dos esforços são responsáveis por 80% de resultados.

Vejam alguns exemplos desta lógica retirados da Wikipédia:

a) Uma livraria não pode ter todos os títulos do mercado, portanto ela aplica a regra de Pareto e foca em 20% dos títulos que geram 80% da receita.

b) A maioria dos acidentes de carro ocorre em um número relativamente pequeno de cruzamentos, na faixa da esquerda em determinada hora do dia.

c) A maioria dos acidentes fatais ocorre com jovens.

d) Em vendas comissionadas, 20% dos vendedores ganharão mais de 80% das comissões.

e) Estudos mostram que 20% dos clientes respondem por mais de 80% dos lucros de qualquer negócio.

f) Menos de 20% das celebridades dominam mais de 80% da mídia, enquanto mais de 80% dos livros mais vendidos são de 20% dos autores.

g) Mais de 80% das descobertas científicas são realizadas por 20% dos cientistas. Em cada época, são uns poucos especialistas celebres que fazem a maioria delas.

Qual seria a aplicação prática disto na prova?

Com o cérebro descansado, o candidato ao atacar as questões mais fáceis, valer-se-á de um esforço muito menor se considerarmos o ataque às questões em que possui maior dificuldade. Em suma: menos esforço para produzir um melhor desempenho, seguindo, exatamente, a lógica de Pareto.

A lógica de Pareto inclusive guarda uma correlação com a questão da memória profunda no nosso caso.

Por exemplo: pergunte para qualquer pessoa o seu nome. Ela responderá. Agora imagine o esforço neural para produzir a resposta: quase nenhum. Isso porque o nome está profundamente gravado na memória, ou melhor dizendo, o circuito de sinapses envolvidos na memorização do conteúdo "nome" está altamente consolidado.

Essa lógica se aplica às disciplinas da prova.

Em algumas, as disciplinas ditas prediletas, os circuitos de sinapses estão mais consolidados e o esforço para resgatar a informação na hora em que uma pergunta da prova a exige é bem menor.

Ao contrário, nas disciplinas em que o examinando tem menos familiaridade ou maior dificuldade, o esforço para resgatar a informação é muito mais intenso, aumentando o desgaste em sua busca e gerando um maior cansaço mental. Seria a inversão do princípio de Pareto:80% do esforço para a obtenção de apenas 20% do resultado.

Nada animador, não é?

Isso seguramente impacta diretamente no desempenho do candidato e em sua nota final.

Imaginem o esforço de um cérebro cansado quando for trabalhar as questões em que domina melhor APÓS ter se desgastado com questões mais complexas. Quantos candidatos já não reprovaram por não adotar uma estratégia ou adotar uma equivocada? E são penalizados sem sequer ao menos entender as razões de suas reprovações.

"Ah, mas eu estudei tanto", dizem inúmeros e inúmeros examinandos, "não entendo por que reprovei". Há uma explicação para isto.

Logicamente que isto é aplicável aos candidatos limítrofes, em que o conteúdo de todas as disciplinas está apreendido para ao final assegurar uma pontuação na faixa dos 37 a 42 pontos.

Para quem não sabe, algo em torno dos 21 a 24% dos candidatos reprovam na faixa dos 37 a 39 pontos. Seguir a ordem de resolução de disciplinas por eleição, da mais fácil para a mais difícil, pode ajudar a jogar a nota do candidato para a faixa dos 40 pontos ou mais.

Interessante, não é?

Claro! O candidato muito preparado pode ignorar essa lógica. A informação está sedimentada de tal forma em uma memória que o esforço cognitivo é drasticamente reduzido: a ordem de resolução é indiferente.

Entretanto, para isto, o candidato tem de se sentir muito preparado e efetivamente estar. Na dúvida, siga a ordem por predileção.

Atacando primeiro as disciplinas de preferência, com o cérebro descansado, o desempenho será otimizado e as questões serão resolvidas com maior velocidade e menor desgaste. Na medida em que as disciplinas mais difíceis forem surgindo, o ânimo do candidato para enfrentá-las será maior comparativamente com uma resolução aleatória, ou, principalmente, no caso de se optar primeiro pelas disciplinas mais difíceis.

Quando o candidato for enfrentar as disciplinas mais difíceis, terá sofrido um desgaste menor, já tendo resolvido parte da prova; exatamente aquela melhor dominada. Logo, a preocupação em atingir os 40 pontos será menor, gerando menos ansiedade com o desempenho no transcorrer das horas.

Ao resolver as mais fáceis primeiro, o candidato tem a percepção de que está indo bem na prova, gerando um considerável impacto tranquilizador do emocional e da confiança. Tal impacto é muitíssimo desejável.

Aliás, muito oportuna a leitura deste texto aqui - ?Ihhhh, deu branco!? O que fazer quando o emocional nos atrapalha na hora da prova? - pois a metodologia aqui apresentada ajuda e muito no processo de se evitar o temido branco.

Considerando a lógica associativa da memória, ao longo da prova, passando por informações e elementos relacionados aos esquecidos, o examinando pode conseguir evocar aquilo que foi objeto de esquecimento. É preferível que a prova seja feita com naturalidade, pois o nervosismo, por uma série de motivos no plano bioquímico do cérebro, atrapalha a neutralização do esquecimento ou branco, isto é, a evocação de informações não disponíveis intelectualmente.

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O tempo pedido na ordenação das disciplina pela ordem de preferência é mais do que compensado por um desempenho MELHOR na prova e também em ganho, ao seu final, de tempo, não desperdiçado no esforço de tentar resgatar no início informações cuja memorização não foi consolidada a contento.

A estratégia é forte e consistente, além de possuir embasamento lógico e fisiológico, propiciando ao final inclusive um impacto de ordem emocional.

Não tenham dúvidas em estabelecer uma ordem de resolução das disciplinas. Treinem isto com provas anteriores para na hora da verdade vocês perderem o mínimo de tempo possível e adquirirem familiaridade com o processo de identificação da ordem.