A lei da selva, ou, R$ 17,00 por uma audiência, ou, mais uma evidência do colapso da profissão

Quarta, 11 de fevereiro de 2015

Uma leitora do Blog me enviou ontem um anúncio bem interessante para os jovens advogados.

Reparem só:

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Esse anúncio pode ser encontrado no link a seguir: Job Is Job

Na hora me lembrei, e não poderia ser diferente, de um post de 2013 aqui do Blog, quando eu tratei da figura do "advogado audiencista", se é que isso representa algum tipo de especialidade, e do valor mínimo pago à época: R$ 20,00.

O fundo do poço: a realidade de um mercado em que um advogado recebe R$ 20,00 para fazer uma audiência

Essa publicação foi do dia 29 de outubro de 2013. Ou seja, de lá até aqui o valor mínimo pago para um advogado audiencista conseguiu contrariar até a inflação no período e foi REDUZIDO em 15% em pouco mais de um ano.

Incrível!

Recebi ontem também a seguinte mensagem de uma outra leitora do blog, via facebook:

23345 Pois é... Acham pouco? Vejam mais esta mensagem aqui: 2

São apenas uns poucos exemplos do que eu vejo e do que já cataloguei sobre a atual situação do mercado. Em suma: a profissão já entrou, e tem tempo, em um estado grave de precarização.

Isso não é algo localizado ou faz parte de um momento ruim da classe. Trata-se de um quadro que já vem de longo tempo e que NÃO MUDA com o passar dos anos.

Ao contrário! Os R$ 17,00 são apenas uma amostra da piora do contexto.

E eu bem sei que é assim porque EU mesmo, quando recém-formado, tive que me sujeitar a salários mixurucas, em nada diferentes dos que os recém-formados de hoje tem de enfrentar. Não só eu, como quase todos os meus colegas de faculdade que enveredaram para a advocacia. Outra parcela sequer tentou enveredar por este caminho e foi tentar a sorte no universo dos concursos.

Uns poucos tiveram sucesso, outros, acabaram por buscar ofícios desligados do universo jurídico. Não conseguiram ser assimilados nem pelo mercado e nem tiveram sorte no campo dos concursos.

Ou seja: estamos vivendo a precarização da profissão há uns 10 anos, no mínimo. E tenho suspeitas de que o contexto é mais antigo do que a minha experiência pessoal é capaz de atestar. Escrevo isso sem medo nenhum de errar.

Qual a causa disto?

No post O fundo do poço: a realidade de um mercado em que um advogado recebe R$ 20,00 para fazer uma audiência eu esbocei uma resposta:

"Eis um contexto funesto sobre as condições de trabalho de uma MASSA indefinida de profissionais que tentam sobreviver (sobreviver é diferente de viver) em um ambiente tão saturado.

Aliás, a saturação independe de quaisquer mensurações na prática, pois basta observar os valores praticados no mercado para se perceber a realidade da saturação.

Vamos entender o contexto!

O que regula os preços é a lei da oferta e da procura - Lex Mercatoria. O sistema remuneratório da iniciativa privada segue um princípio bem elementar do capitalismo: o valor está na raridade.

A regra é simples: muitos advogados no mercado = remunerações mais baixas.

Os preços a serem pagos são o resultado final de um embate entre o capital e o prestador de serviço.

O serviço só é remunerado se houver um acordo, e o valor irrisório de R$ 20,00 é o resultado de uma série de consensos contratuais estabelecidos de forma relativamente uniforme quando da prestação deste tipo de serviço.

Acham R$ 20,00 pouco? Na realidade ele é reflexo dos salários praticados hoje na advocacia."

Acham R$ 17,oo pouco? Vamos ver como ele funciona hoje na lógica da proposta feita no anúncio.

Se efetivamente o empregador der 8 audiências por dia para o contratado fazer, ele receberá R$ 136,00 por dia de trabalho.

Isso, em 5 dias da semana representariam R$ 680,00.

E, durante um mês inteiro, R$ 2.720,00.

Uau! R$ 2.720,00 por mês até que não é tão ruim assim considerando hoje que a média salarial inicial é de R$ 1.200,00!

Será?

Primeiro eu imagino que 8 audiências por dia não seja algo 100% garantido, até porque o anúncio fala de "5 a 8" audiências. Depois, fazer 8 audiências por dia é uma tarefa MUITO extenuante. Por quanto tempo alguém aguentaria uma batida pesada como esta?

Com certeza, no máximo, por uns poucos meses.

Para fazer caixa é preciso, seguindo a lógica do advogado audiencista, e sob este regime de contraprestação, se matar de trabalhar para ganhar um mínimo que assegure o sustento.

Nem preciso dizer que a rotatividade neste tipo de trabalho é altíssima. Pouquíssimos aguentam este rojão por muito tempo.

E o que pode ser feito?

Algumas coisas podem sim serem feitas para mitigar este quadro. Mas sobre isto irei escrever em uma outra publicação, a ser publicada na semana que vem.

Neste meio tempo, volto a repetir o que já escrevo há muito tempo: para triunfar é preciso ser diferente dos demais. Pensar diferente, agir diferente, ver mais longe.

Carreira depende de planejamento e de uma boa dose de ambição.

Ou faz isso ou vai ter de aceitar R$ 17,00.