A história de uma aprovação SO-FRI-DA na 2ª fase do Exame de Ordem

Sexta, 15 de janeiro de 2016

Era uma vez*, há quase uma década atrás, um examinando que queria, e muito, passar no Exame de Ordem.

Logo após a aprovação na 1ª fase, devidamente comemorada, ele correu para um curso presencial cheio de esperança no coração e uma vontade imensa de ser bem-sucedido na prova.

"Passei na 1ª fase, sou F*$@", pensou ele cheio de alegria após ter sido aprovado. O mundo, naquele momento, era um pequeno lugar pronto a ser conquistado por aquele novo gênio das ciências jurídicas.

história de aprovação na 2ª fase do exame de ordem

Cheio de empolgação, lá foi ele buscar um curso preparatório. Na época o ensino online ainda não existia, nem sequer era uma probabilidade. Ele se matriculou em um curso presencial famoso onde morava, ministrado por um magistrado trabalhista que preparava para a 2ª fase da OAB, e começou a estudar com grande afinco!

Muitas peças e semanas depois, faltando uma semana para a prova, aquele examinando estava só o pó da rabiola. Cansado, sem paciência para fazer nenhuma peça a mais, de saco cheio dos estudos, achando que já sabia tudo e aguardando ansiosamente a prova.

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Mas não é aquele ansiosamente no estilo "chega logo", e sim o ansiosamente "ai meu Deus do céu a prova está chegando!".

Sim, é barra aguentar a onda!! Tensão demais na expectativa da prova, só imaginando que espécie de maldade a banca estava confabulando em lugares possivelmente escuros e profundos como calabouços medievais, cheios de máquinas de tortura e concebido para extrair o máximo de dor possível dos pobres candidatos.

Sim! A maldade da banca é folclórica e a terrível fama do Exame de Ordem ecoa há décadas no imaginário dos examinandos, transcendendo o mundinho jurídico e reverberando por toda a sociedade!

A fama do Exame de Ordem é lendária!

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E eis que chega o dia da prova! Lá estava nosso herói, ladeado por companheiros de faculdade, de luta e sofrimento na preparação para a prova, prontos para o desafio!

Ou, ao menos, achando-se prontos.

Antes da prova começar todos se congregaram para discutir animadamente hipóteses, probabilidades e riscos: a expectativa do desafio chega ao ápice neste momento!

Alguns falavam como se fossem radialistas, prolixos e exagerados; outros entram em um impenetrável mutismo, como se estivessem diante de um desafio de vida ou morte. Todos sentido intensamente a pressão do momento.

Com a chegada da hora da verdade, eles se despediram, desejando sorte uns aos outros. Na cabeça, ansiedade, e no coração, muita esperança.

Faltando 10 minutos para o início da prova todos já se encontram devidamente sentados, aguardando o tão sonhado, e ao mesmo tempo, temido início da prova.

Nosso amigo está lá, concentrado no que estava por vir. Mais concentrado até do que molho de tomate! No último momento ele transmuta o claudicante emocional e se promete a aprovação!

Ele pegou a ansiedade, fez picadinho dela, e resolveu ficar valente!

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Toca o sinal e os fiscais começam a entregar as provas. Começam fazendo isso na velocidade das lesmas e dos caracóis, adicionando à raiva pré-existente uma pitada de fúria: "bora com isso, seus %$#@&*, resmunga nosso herói.

Sim! Examinando fazendo a prova vira bicho! Muito prudente no edital a vedação de porte de armas nos locais de prova. Teríamos tragédias e tragédias a cada edição do certame se tal vedação não existisse.

Eis que a prova chega ao nosso personagem! Ele então começa a ler detidamente o enunciado da peça prático-profissional. E, rapidamente, sua fúria transmuta-se em uma indisfarçável satisfação: a peça era a baba do quiabo mole!

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Em um passe de mágica toda a ansiedade, raiva, medo e fúria dão lugar a uma indisfarçável alegria: a peça era fácil!!!

Tratava-se de um Recurso de Revista (nunca cobrado nem pelo CESPE e nem pela FGV, ou seja, a nossa história é do período anterior ao da unificação), facilmente identificável, além de exigir como fundamento a identificação de 1 entre 5 divergências jurisprudenciais distintas para dar a admissibilidade ao recurso.

Nosso herói, por um acaso, havia sido estagiário na Justiça do Trabalho: estava habituado com esse tipo de peça.

Que maravilha!!

A calma tomou conta de seu coração e ele começou a analisar também as perguntas. Tirando uma, mais complicadinha, o resto era bem tranquilo.

A satisfação virou plena alegria: o caminho da aprovação estava diante da sua caneta! Era só não inventar bobagens para a prova não ser nada além de um passeio no parque.

E assim ele fez. Pegou o caderno de rascunho e fez toda a prova nele, desde a peça até às questões. Tudo bonitinho, fundamentado, bem concatenado. Maravilha!

Depois de tudo pensado, lá vai ele passar a limpo sua prova (naquele tempo dava para fazer rascunho de tudo). Sua letra, notoriamente feia, estava saindo belíssima, bem arrumadinha, para o corretor da prova corrigi-la sem maiores dramas.

Mas, não mais que de repente, o coração do nosso herói congelou!

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O nosso amigo NÃO contou o número de folhas disponíveis para a peça, e quando foi terminar os fundamentos e partir para a conclusão de seu Recurso de Revista, as folhas acabaram!

"P$!@ que o P@$!#" ele gritou em plena sala de prova!

Não, ele não falou esse termo, ele realmente gritou!

A sala, os candidatos, os fiscais, tudo, até mesmo o tempo, pararam! Todos olhando para ele, o nosso pobre herói, que da alegria caiu em um absoluto desespero!

"Me f@$!", gemeu ele, incrédulo com a própria falta de atenção e falta de sorte.

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Uma fiscal, assustada com o fato, aproximou-se e perguntou: "o que foi que aconteceu, meu filho?"

Ele, tremendo mais do que vara verde de bambu em meio a uma tempestade, balbuciou a explicação.

"Me ajuda, consegue outra prova para mim!" implorou o candidato em meio ao seu nervosismo. A fiscal saiu da sala para consultar a organização do certame.

Ele não sabe quanto tempo passou antes da fiscal voltar, se 5, 10, 15 ou 20 minutos, mas foi uma eternidade.

Em seu retorno, ela trouxe consigo uma nova prova: "a coordenação autorizou te dar uma nova prova. Faltam 35 minutos para ela acabar. É melhor você correr!"

Naquele tempo, diferentemente de hoje, não havia vedação a entrega de uma nova prova, e a coordenação tinha poderes para resolver os casos omissos do edital. Nosso herói estava com sorte!

Sorte? Passar uma prova inteira a limpo em 35 minutos?

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Neste momento, neste exato momento, o sangue deste bravo examinando gelou! "Não dá para fazer!"

Mesmo assim, ainda incrédulo, não lhe restou alternativa: era preciso agir!!!

A linda letra trabalhada transformou-se em um garrancho quase ininteligível, na passagem de texto mais rápida da história do Exame de Ordem!

Sua mão suava horrores! Aliás, a suadeira era geral! Os tendões do dedo doíam pela pressão exercida na caneta, a tremedeira foi aos pouco cedendo espaço para a pressão da concentração e da pressa. Nosso herói mal respirava!

E em 35 minutos ele consegui passar TODA a prova a limpo! Terminou exatamente no momento do toque do sinal!

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Ao sair da prova, a tensão cobrou seu tributo: nosso bravo examinando desabou. Não verteu lágrimas, mas quase chegou a este ponto.

A expectativa pela aprovação criada em sua mente era tão grande que o fracasso seria um rude golpe em seu ego, planos e emocional. Ele viveu, e viveu intensamente, o drama do Exame de Ordem.

Ao ir para o carro deparou-se com uma senhora, com uma criança no colo que estava chorando, pedindo um dinheiro para comer, pois tinha vindo de um interior desses do Brasil e os parentes ainda não haviam chegado para pegá-la. Ele nem pensou duas vezes: sacou R$ 100 (que naquele tempo ERAM R$ 100,00) e disse para ela: se Deus me ajudou, que ajude a senhora também.

Ela nem soube agradecer direito, tamanha a sua perplexidade. Já ele, saiu de lá com o sentimento de ter uma dívida enorme a pagar por ter conseguido ao menos expor o que havia estudado tanto.

Para ele, a perspectiva de ser injustiçado no Exame de Ordem, mesmo que por uma distração pessoal, era algo funesto. Ele sentiu essa perspectiva fundo na alma naquela dia...

Algumas semanas depois, uma amiga de faculdade liga para ele do nada: "amigo, você passou!"

"Uai, mas o resultado é só na semana que vem!"

"Adiantaram a publicação da lista! Confere lá!"

Ele correu para o computador e estava lá, no site da sua seccional, a lista de aprovados! E sim! Seu nome estava nela!

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Ahhhhhhhhh! Como descrever a alegria daquele rapaz naquele momento? As palavras nunca serão suficientes para tanto. Só quem passa no Exame da OAB sabe bem o que é ser aprovado! O mundo, de uma vez só, sai das costas e fica sob os pés! O alívio é inenarrável!

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E o que nosso herói tem para nos dizer daquela experiência tão marcante?

"A prova exige tão somente atenção. Em regra os candidatos sabem resolvê-la, mas permitem que o emocional atrapalhe. Quem estuda consegue resolver tudo, ou quase tudo. E, mesmo que o emocional prevaleça e atrapalhe, é possível chamar o foco para si mesmo novamente e fazer a trabalho que tem de ser feito."

Ninguém é de ferro, nem ninguém é frio o suficiente. Trata-se tão somente de, na hora certa, fazer o que é certo. Isso basta para conseguir a aprovação!

Mas, claro, é preciso ter estudado. As respostas certas não caem do céu!!

Sim, sim, sim! Nada cai do céu, e nem devemos esperar por isto.

A capacidade de ser aprovado está lá, em cada um, e na hora certa o melhor do candidato, mesmo nos momento mais difíceis, vai aparecer.

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*Essa história não passa de um conto, apenas um conto, e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. Eu que o diga!