Quinta, 3 de dezembro de 2020
O domínio do tempo durante a prova subjetiva da OAB representa um elemento chave para o sucesso de qualquer candidato.
Existem outros elementos importantes, mas o tempo e o conhecimento estão acima de todos. O conhecimento vocês estão adquirindo neste exato momento, e ainda terão mais alguns dias para consolidá-lo. Já o tempo é imutável.
Não existe negociação nenhuma com o tempo: ele passa e nada vai mudar isso.
Essa percepção prévia é fundamental para moldar o comportamento de cada um de vocês na hora da prova. Como o tempo não é elástico, saber utilizá-lo torna-se VITAL.
Vital mesmo, pois não saber utilizá-lo pode levar o candidato a amargar a reprovação. E isso ocorre com bem mais frequência do que vocês imaginam.
Como o espelho pode ajudar na construção da peça prática?
Não são raros os examinandos que deixam de responder as questões, ou as respondem de forma açodada, porque dedicaram tempo demais à peça. E as questões são importantes para se lograr a aprovação.
Equilibrar o uso do tempo, portanto, é algo que precisa ser pensado, e trabalhado, antes da prova.
E como pensar o uso do tempo?
A longa prática nos diz como funciona a sucessão de eventos durante a prova. Aqui, é importante frisar, trata-se de uma percepção média, pois o uso do tempo depende diretamente da estratégia adotada. Mas, em regra e na média, conforme o modelo de estratégia que desenvolvemos há mais de 9 anos, a sucessão dos eventos se dá da seguinte forma.
O enunciado nunca é lido apenas uma vez. Nunca! O enunciado deve ser, em regra, lido 3 vezes seguida, além de, é claro, ser consultado ao longo da elaboração total da peça.
Quantas linhas deve ter uma boa peça prática?
Mas, de plano, o candidato deve ler o enunciado pelo menos 3 vezes para ter a convicção de que entendeu o seu sentido como um todo e, especialmente, para ter certeza quanto a peça correta, fator fundamental em toda a prova.
Logo após a leitura da peça o candidato deve ler as questões. Ele poderia se dedicar integralmente a peça, resolvê-la por completo, para depois fazer as questões, mas isto não é recomendável. É importante, logo de cara, tomar ciência da integral dimensão da prova e, em especial, estabelecer para si mesmo se as questões são passíveis de serem resolvidas ou não.
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O candidato lê a peça, lê as questões e já "sente" se tem boas condições de ser aprovado ou não. Aqui entra o fator conhecimento: quem domina a matéria, ao ler o enunciado, já antecipa a própria capacidade de resolver o problema.
E, claro, já consegue dimensionar - aproximadamente - quanto tempo vai gastar resolvendo tudo. Vamos admitir a realização prévia de vários simulados e provas. Quem treinou antes consegue imaginar o uso do tempo de forma abstrata.
A peça, sempre, ficará com o maior quinhão do tempo, não só por ser decisiva na prova como também por ser mais extensa e complexa do que as 4 questões juntas.
Portanto, é razoável dividir o tempo da seguinte forma: 3 horas exclusivas para a peça e as 2 horas restantes para as questões e eventuais pausas.
Sim, pausas acontecem, como ir ao banheiro, por exemplo, ou comer e beber alguma coisa.
Após a divisão, a disciplina: é preciso respeitar a divisão do tempo efetivada.
Daqui surge o grande problema: a dedicação excessiva de tempo à peça e a negligência às questões. O respeito ao tempo dividido é fundamental para e elaboração com qualidade da prova como um todo.
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É um pecado errar neste ponto por mera distração. Não se permitam isto!
Mas também isso ocorre por um motivo totalmente involuntário: a definição da peça prática pode se tornar bem cascuda. E isso, claro, atrapalha o domínio do tempo durante a prova subjetiva da OAB.
Vou dar 4 exemplos de casos que prejudicaram candidatos e os fizeram negligenciar involuntariamente as questões, porque perderam tempo demais na peça:
XXVI - Prova de Trabalho
Foi uma prova horrorosa, cheia de tópicos e com temáticas complexas. Foram 9 pontos a serem tratados, sendo que 3 referentes a preliminares, afora o fechamento, a identificação da peça, partes e competência.
O interessante foi o tópico da coisa julgada, referente a existência da discussão de dois dos temas em um outro processo, o que obrigou os candidatos a terem uma atenção ainda maior no raciocínio.
E também teve a falta de fluidez na construção do enunciado. Os tópicos estavam amontoados uns com os outros, separados tão somente por ponto e vírgula. Aqui uma vantagem clara: o ponto e vírgula ajudou (para quem percebeu) a separação dos temas para a construção do esqueleto, mas como uma narrativa para uma compreensão fluida do enunciado, ficou bem ruim.
XXV - Prova de Civil
Um Resp que deu muita dor de cabeça aos candidatos, não só por não ser uma peça comum como também por estar muito difícil. Ela em si não tinha erro nenhum, afora uma imensa má-vontade da banca.
XX - Provas de Civil e Empresarial
Já na vigência do novo CPC a banca cobrou duas peças situadas cronologicamente no tempo do antigo CPC. Ou seja, a conta não fechava.
Muitos candidatos perderam tempo tentando definir qual código deveriam usar, o novo ou o velho. A dúvida era pertinente, e isso atrapalhou o desenvolvimento do raciocínio de muita gente.
XIX - Prova de Penal
Muitos candidatos simplesmente não sabiam fazer a peça - contrarrazões de apelação - porque seus respectivos cursinhos não haviam ensinado a sua elaboração.
Um tempo imenso foi perdido pelos candidatos mal-treinados, incapazes de definir qual seria a peça correta. Muitos, por absoluta falta de opção, também fizeram uma apelação, mesmo que a lógica do enunciado não permitisse isso.
Mas as escolhas, entre outras peças, só ocorreram após muita dor de cabeça e indecisão.
E todos estes, sem exceções, reprovaram.
XVIII - Prova de Tributário
Um enunciado confuso gerou um belo problema. Muitos candidatos apresentaram como solução ao problema proposto um agravo de instrumento, quando a resposta correta era um agravo interno.
O problema principal estava na redação da peça, que deu a entender uma peça em detrimento de outra. Não era uma redação clara, e isto foi altamente problemático para os candidatos.
A dúvida na lógica do enunciado é o pior dos problemas.
Os casos acima revelam como a banca pode ser madrasta com os candidatos (exceto na prova de Penal) e como eventualidades podem atrapalhar o completo desenvolvimento e o domínio do tempo durante a prova da OAB.
Mas os problemas em regra ficam adstritos a uma das provas. A regra é termos provas normais para a maioria dos candidatos. Todavia, se alguma intercorrência surgir, será impossível fugir dela. E a gestão do tempo na prova da 2ª fase da OAB terá de ser feita da mesma forma.
Como não é possível antecipar problemas, e nem adivinhar como eles poderão ser, a única orientação para este caso é, dentro do possível, manter a calma e achar a solução mas razoável possível dentro do problema apresentado.
Mas, claro, vamos torcer para as provas virem normais.
Uma verdade: o nível da 2ª fase, apesar dos problemas, subiu demais após o X Exame de Ordem. No próximo domingo provavelmente teremos provas de qualidade.
Pois bem!
Reflitam muito sobre o domínio do tempo durante a prova da OAB. Ele será vital na hora da verdade.
Ao longo desses últmos dias que antecedem a prova trabalharemos também o conceito de resolução estratégica da prova, e o tempo se encaixa perfeitamente nesse novo desenvolvimento.