A estética na prova da 2ª fase da OAB

Segunda, 14 de novembro de 2011

Os gregos antigos valorizavam a beleza e as medidas proporcionais intensamente, influenciando quase tudo em sua cultura, desde a poesia, arquitetura, escultura e até mesmo o amor.

Aliás, os valores gregos foram copiados e são reproduzidos em todas as culturas ocidentais. Nossos parâmetros estéticos hoje são, basicamente, gregos.

A beleza deve ser vista como um processo subjetivo, mental ou mesmo espiritual, relacionada à percepção de elementos que agradam de forma singular aquele que a experimenta.

Por certo a beleza influencia também uma pessoa em especial para os candidatos que farão a prova subjetiva do Exame de Ordem: o corretor da prova.

Fica aqui uma pergunta: pode a estética da peça prático-profissional influenciar na correção da prova?

A resposta precisa ser dividida em duas partes. A primeira guarda correlação com os critérios próprios do edital; a segunda, com o fator humano, com o próprio subjetivismo do futuro corretor de sua prova.

As regras do edital

Os critérios estéticos do edital visam estabelecer um mínimo de ordem na redação da prova do candidato, impedindo-o de extrapolar parâmetros mínimos de ordem, visando também evitar identificações ou supostas fraudes.

O conhecimento dessas limitações é de suma importância para qualquer candidato, pois a inobservância pode acarretar na perda de pontos ou mesmo na anulação da prova.

Vamos conferir esses detalhes:

1) identificação da peça

A identificação da uma peça prática guarda mais correlação com um erro raro de acontecer (mas acontece): o candidato rubricar ou assinar sua prova.

É muito difícil ver uma outra marca ou sinal, afora a assinatura, capazes de gerar uma suposta identificação. Não rubricar ou assinar são condições óbvias da prova. Já as demais marcas, como fugir do espaço destinado à redação, também devem ser evitadas.

2) redação legível

Há uma distinção entre letra legível e letra bonita. O ideal, é claro, seria dominar ambas, mas a condiçõa necessária para a prova é apresentar uma letra legível.

Pode parecer uma regra sem muito sentido pois escrever com clareza é uma condição básica. Entretanto, muitos candidatos pecam sob este aspecto. Já vi em várias oportunidades redações tecnicamente corretas que perderam décimos de pontos por não serem simplesmente inteligíveis.

Imaginem! O candidato escreve a resposta correta mas não leva o ponto. É dramático.

Há aqui um fator de suma importância na hora da prova, de certa forma ignorado por quem vai fazê-la: o tempo.

As 5 horas passam de forma muito rápida e a noção de que o tempo está se esvaindo obriga o candidato a "correr" com a caneta, deixando um inequívoco impacto na qualidade da redação.

Escrevi na semana passada sobre o provável percentual de aprovados na 1ª fase do atual Exame - Exame de Ordem: Percentual de aprovação na 1ª fase foi de 45% ? Possivelmente 48.600 candidatos foram aprovados - e o impacto na 2ª fase decorrente de altas aprovações na 1ª, ao menos no tempo da FGV, tem resultado em provas muito extensas.

E provas extensas obrigam o candidato a escrever mais rapidamente.

Escrever de forma legível sob pressão é perfeitamente possível, desde que o candidato TREINE muito.

As condições de treino devem sempre reproduzir as circunstâncias da prova, desde o tempo regulamentar de ao uso de papel e caneta em folhas com margens. Também o volume de dados e informações deve ser simulado.

Tenho a impressão de que as provas do próximo dia 4/12 serão muito parecidas com as provas dos Exames 201.2 e 2010.3 em termos de volume de informações:

2010.2

2010.3

As provas do IV Exame Unificado não devem ser usadas como parâmetro, pois os percentuais de aprovação na 1ª fase deste Exame foram muito baixos, e isso se refletiu na prova subjetiva.

3) a letra ilegível

Aqui o edital apresenta a punição pra a letra ilegível: a nota zero.

Falar da grafia ilegível é complicado, pois o que é ilegível para mim pode não ser para você. Existem gradações na qualidade da grafia.

Se chegar a certo ponto o corretor da prova poderá se dar por vencido e atribuir a nota zero ao candidato, ou, como declinado no item acima, deixar de dar pontos merecidos por não entender o que foi escrito.

Observem que o aspecto estético, sob estas regras do edital, possuem importância capital, não representando um mero luxo.

4) limites

Imaginem que uma parte essencial de uma resposta, um determinado artigo, por exemplo, seja grafado fora do espaço destinado à resposta. O candidato perderá o argumento e, consequentemente, o ponto devido, em que pese ter escrito ele na prova, mas fora do espaço correto.

Dentro do processo de preparação a observância das linhas e das margens é vital. Condicionem a redação dentro dos limites da prova. Fazer isso não demanda nenhum esforço especial, mas tão somente um pouco de zêlo e atenção.

5) a ordem de transcrição

Essa regra é relativamente recente, e não a entendi de imediato quando a li pela primeira vez porquanto sua redação não é muito adequada.

Mas ela é fácil de entender. Em termos simples, o candidato tem de colocar a resposta da questão 1 no espaço, em seu caderno de resposta, da questão 1. Se ele colocar a resposta da questão 1 no espaço da resposta da questão 2, por exemplo, será punido com a nota zero.

Errar o espaço ou mesmo ultrapassar os limites destinados para cada questão, terminando-a no verso da folha ou na página de outra questão redundará também na nota zero.

É raro acontecer (mas não muito!), e quando acontece é resultado, principalmente, da distração do candidato ou de sua falta de planejamento.

E aqui vai uma dica IMPORTANTE!

Essa falha é mais comum na peça prático-profissional, e ocorre quando o candidato não presta atenção ao seu próprio raciocínio.

A FGV dá a cada candidato 5 folhas (150 linhas) para ele desenvolver sua peça prática. Pode acontecer de que o raciocínio seja mais extenso do que o espaço destinado à resposta. Isso foi relativamente comum no Exame 2010.3, cujos enunciados das peças práticas eram imensos.

PRESTEM ATENÇÃO nesse detalhe! Não deixem de adequar o tamanho da resposta ao espaço a ela delimitado

O candidato pode perfeitamente perder o espaço, por exemplo, do pedido de sua petição, por não observar os limites da prova. Isso já aconteceu e o prejuízo na nota é considerável.

E, no desespero, alguns violaram a regra do item 5, terminando a petição no verso da folha ou na área da questão 1. A consequência para essa violação vocês já sabem qual é.

6) assinatura

Aqui a questão é simples. Ao final da peça escrevam tão somente a palavra advogado, sem qualquer indicação de nome ou mesmo do número da OAB (quem colocar um número fictício da OAB inevitavelmente estará identificando sua prova, e tomará, sem sombra de dúvida, a nota zero).

Escrevam somente "advogado" e nada mais.

7) dados da prova

Essa regra é referente aos problemas propostos na prova, tanto nas questões como na peça prática.

Pode parecer para alguns candidatos que faltam dados ou informações relevantes para completar o raciocínio da prova, como o nome do autor ou do réu, dados de identificação ou mesmo localidades.

Ignorem supostas lacunas no enunciado: NÃO inventem nada!

Se não está no enunciado, não escrevam. Se está, usem e abusem.

Na qualificação da parte, por exemplo, escrevam tal como deternima o edital: "data", "advogado", "OAB", etc. A banca quer saber se o candidato conhece os elementos da petição. Apenas isso, não precisa inventar um dado para dar uma aparência de completude.

Não inventem, sob o risco de terem a prova zerada.

E, naturalmente, não deixem de usar as informações declinadas no problema. Se elas estão lá, devem ser usadas.

O fator humano

Imaginem agora o responsável pela correção da sua prova.

Ele não vai corrigir só a sua prova, e sim 200 ou mais delas.

Imaginem agora a sua prova sendo a última, quando o corretor não aguenta mais ler. E, por fim, imaginem que sua prova foi feita assim sem muito zêlo, apesar de tecnicamente correta.

O resultado dessa soma de fatores pode ser desastroso.

E não raro é.

Em toda prova, após a abertura do prazo recursal, é a mesma ladainha: "a correção da minha prova foi um absurdo!", bradam os candidatos reprovados.

Há uma diferença básica entre a correção da prova da 1 ª e da 2ª fase: na 1ª, a correção é feita por sensores óticos, na 2ª, é feita pelo subjetivismo humano.

E aqui entra a estética: o homem é sensível à beleza, ou, no mínimo, à ordem.

Não se preocupem em ter uma letra linda, de calígrafo, mas ao menos preocupem-se em apresentar uma redação esteticamente organizada, funcional.

Tenho CERTEZA de que o corretor da prova vai olhá-la com melhores olhos.

Uma prova mal escrita no mínimo não atrai simpatia. No mínimo...

Uma prova bem estruturada no mínimo atrai respeito. No mínimo...

E como fazer uma prova bem estruturada?

Não tem mistério nenhum! É tudo uma questão de ordem.

Vejam a folha abaixo:

O ponto mais importante a ser observado na folha acima é a padronização dos parágrafos. Isso, na essência, é que dá a sensação de organização e de regularidade não só estética como também de raciocínio.

Parágrafos do mesmo tamanho geram um padrão agradável de leitura. Particularmente gosto de parágrafos com no máximo 4 linhas. Parágrafos com 6 ou mais linhas não são muito agradáveis porque consomem mais a atenção de quem lê. Apenas 4 linhas oferecem "doses" de informações mais facilmente "digeríveis" pelo leitor.

Vejam bem: parágrafos homogêneos, delimitação de temas com clareza (também padronizados) e respeito às margens. Essa é a fórmula para uma petição organizada e esteticamente agradável INDEPENDENTEMENTE da qualidade da letra do candidato.

Claro! Ordem na redação não autoriza o candidato a escrever como se fosse um analfabeto. Fazer o melhor possível com a letra é desejável, ao menos para ser compreendido.

Ofereçam ao corretor um petição organizada e a atenção e a boa vontade dele serão outras.

NOTA: os espaçamentos de uma linha apresentados na folha acima podem ser ignorados se o volume de informação a ser trabalhada na prova for muito grande. Aqui é plenamente aceitável o prejuízo estético em nome da completude da resposta. Isso só será possível determinar na hora da prova.

Então é isso! Não assumam como "frescura" fazer uma prova esteticamente apresentável. Com toda certeza não é.

O fator humano na correção não pode ser ignorado, e o homem é sensível aos aspectos da beleza e da estética.

Sempre foi e sempre será.