A estética e o enquadramento formal da peça prático-profissional

Segunda, 26 de maio de 2014

Eis que entramos na semana final antes da prova da 2ª fase. Agora é hora de fazer ajustes, acertar os ponteiros e azeitar a máquina.

E, quase no centro das preocupações dos candidatos, nós temos a questão da estética. E por que vocês devem se preocupar com ela?

A correção da prova subjetiva da OAB historicamente sempre apresenta problemas. Não existe, não existe mesmo nenhuma edição anterior do Exame em que a qualidade das correções não tenha sido questionada por um significativo número de candidatos. É da "praxis" da 2ª fase.

Agora imaginem o corretor da prova, alguém que irá ler várias centenas de provas, e o fará quase ao ponto da estafa e exaustão mental ao longo de mais de 2 semanas seguidas.

Problemático!

Pior, essas pessoas terão ler a redação MANUSCRITA de vocês e terão de compreender tudo para poder atribuir a respectiva nota. Imagine colocar olhos sobre uma redação e temos de nos esforçar para compreender o que está escrito.

Isso cansa!

Pois é, isso em uma prova da OAB, em que cada corretor tem de analisar literalmente uma infinidade de provas é algo terrível. Muitas falhas na análise da prova, por mais treinada que seja a banca, inevitavelmente ocorrem, e quem não capricha na peça corre um risco extra por conta de falhas na estética.

Vamos dar uma olhadinha em um exemplo retirado da prova subjetiva do IX Exame:

21

A letra não é nada fácil de ler, e tudo foi piorado pela forma com a estrutura de parágrafos foi construída. E olha que esse não é dos piores!

O candidato acima não estabeleceu um linha de distância entre um parágrafo e outro, impedindo uma fluidez da leitura de sua redação. Além disso, sua letra, apenas de relativamente legível, não tem uma uniformidade, atrapalhando o processo de leitura.

Moral da história: o candidato TEM de facilitar a vida da banca. Sua letra precisa ser ao menos legível, a estrutura da peça precisa ser clara exatamente para que suas ideias, a sua preciosa redação seja integralmente compreendida, e assim facilitar a obtenção da nota justa.

Fica então a pergunta: pode a estética da peça prático-profissional influenciar na correção da prova?

Sob este ponto fica ressaltada a importância de se desenvolver uma redação clara e legível, com paragrafação homogênea para produzir uma impressão agradável ao corretor e potencializar as chances de uma correção justa.

Creiam-me: ser injustiçado na prova é sempre uma probabilidade.

Portanto, a resposta precisa ser dividida em duas partes. A primeira guarda correlação com os critérios próprios do edital; a segunda, com o fator humano, com o próprio subjetivismo do futuro corretor de sua prova.

As regras do edital

Os critérios estéticos do edital visam estabelecer uma ordem na redação da prova do candidato, impedindo-o de extrapolar parâmetros mínimos definidos, visando também evitar identificações ou supostas fraudes.

O conhecimento dessas limitações é de suma importância para qualquer candidato, pois a inobservância pode acarretar na perda de pontos ou mesmo na anulação da prova.

Vamos conferir esses detalhes:

1) identificação da peça

ed 1

A identificação da uma peça prática guarda mais correlação com um erro raro de acontecer (mas acontece): o candidato rubricar ou assinar sua prova.

É muito difícil ver uma outra marca ou sinal, afora a assinatura, capazes de gerar uma suposta identificação. Não rubricar ou assinar são condições óbvias da prova. Já as demais marcas, como fugir do espaço destinado à redação, também devem ser evitadas.

2) redação legível

Há uma distinção entre letra legível e letra bonita. O ideal, é claro, seria dominar ambas, mas a condição mínima exigida para a prova é apresentar uma letra legível.

Pode parecer uma regra sem muito sentido, pois escrever com clareza é uma condição básica. Entretanto, muitos candidatos pecam nessa hora. Já vi em várias oportunidades redações tecnicamente corretas prejudicadas em décimos de pontos por não serem simplesmente inteligíveis.

Imaginem! O candidato escreve a resposta correta mas não leva o ponto! É dramático.

Há aqui um fator de suma importância na hora da prova, de certa forma ignorado por quem vai fazê-la: o tempo.

As 5 horas passam de forma muito rápida e a noção de que o tempo está se esvaindo obriga o candidato a "correr" com a caneta, deixando um inequívoco impacto na qualidade da redação.

A técnica base da FGV é tentar complicá-los exigindo respostas extensas (se bem que o nível técnico da prova também aumentou). A preparação precisa considerar esse aspecto. Provas extensas obrigam o candidato a escrever mais rapidamente.

Escrever de forma legível sob pressão é perfeitamente possível, desde que o candidato TREINE muito.

As condições de treino devem sempre reproduzir as circunstâncias da prova, desde o tempo regulamentar de ao uso de papel e caneta em folhas com margens. Também o volume de dados e informações deve ser simulado.

O ideal é termos como parâmetro, considerando as edições passadas do Exame, as provas do XII Unificado:

Administrativo

Civil

Penal

Empresarial

Trabalho

Tributário

Constitucional

Os cadernos acima são um bom parâmetro para vocês treinarem a extensão e duração simulando a próxima prova.

3) a letra ilegível

Aqui o edital apresenta a punição pra a letra ilegível: a nota zero.

2

Falar da grafia ilegível é complicado, pois o que é ilegível para mim pode não ser para você. Existem gradações na qualidade da grafia. Se chegar a certo ponto o corretor da prova poderá se dar por vencido e atribuir a nota zero ao candidato, ou, como declinado no item acima, deixar de dar pontos merecidos por não entender o que foi escrito.

Observem que o aspecto estético, sob estas regras do edital, possuem importância capital, não representando um mero luxo.

4) limites

ed 1

Imaginem que uma parte essencial de uma resposta, um determinado artigo, por exemplo, seja grafado fora do espaço destinado à resposta. O candidato perderá o argumento e, consequentemente, o ponto devido, em que pese ter escrito ele na prova, mas fora do espaço correto.

Dentro do processo de preparação a observância das linhas e das margens é vital. Condicionem a redação dentro dos limites da prova. Fazer isso não demanda nenhum esforço especial, mas tão somente um pouco de zêlo e atenção.

5) a ordem de transcrição

ed 2

Essa regra é fácil de entender. Em termos simples, o candidato tem de colocar a resposta da questão 1 no espaço, em seu caderno de resposta, da questão 1. Se ele colocar a resposta da questão 1 no espaço da resposta da questão 2, por exemplo, será punido com a nota zero.

Errar o espaço ou mesmo ultrapassar os limites destinados para cada questão, terminando-a no verso da folha ou na página de outra questão redundará também na nota zero.

Zero mesmo! Na prova passada vi um caso específico tal como previsto no edital, e banca não perdoou. Aliás, em todas as edições alguém se confunde desta forma. como este e a banca não perdoou. Pior, não há o que fazer na hora de recorrer! Isso é resultado da distração do candidato ou de sua falta de planejamento.

E aqui vai uma dica IMPORTANTE!

Essa falha é mais comum na peça prático-profissional, e ocorre quando o candidato não presta atenção ao seu próprio raciocínio.

A FGV dá a cada candidato 5 folhas (150 linhas) para ele desenvolver sua peça prática. Pode acontecer de que o raciocínio seja mais extenso do que o espaço destinado à resposta. Isso foi relativamente comum no Exame 2010.3, cujos enunciados das peças práticas eram imensos.

PRESTEM ATENÇÃO nesse detalhe! Não deixem de adequar o tamanho da resposta ao espaço a ela delimitado

O candidato pode perfeitamente perder o espaço, por exemplo, do pedido de sua petição, por não observar os limites da prova. Isso já aconteceu e o prejuízo na nota é considerável.

E, no desespero, alguns violaram a regra do item 5, terminando a petição no verso da folha ou na área da questão 1. A consequência para essa violação vocês já sabem qual é.

6) assinatura

ed 1

Aqui a questão é simples. Ao final da peça escrevam tão somente a palavra advogado, sem qualquer indicação de nome ou mesmo do número da OAB (quem colocar um número fictício da OAB inevitavelmente estará identificando sua prova, e tomará, sem sombra de dúvida, a nota zero).

Escrevam somente "advogado" e nada mais.

7) dados da prova

Essa regra é referente aos problemas propostos na prova, tanto nas questões como na peça prática.

Pode parecer, para alguns candidatos, que faltam dados ou informações relevantes para completar o raciocínio da prova, como o nome do autor ou do réu, dados de identificação ou mesmo localidades.

ed 1

Ignorem supostas lacunas no enunciado: NÃO inventem nada!

Se não está no enunciado, não escrevam. Se está, usem e abusem.

Na qualificação da parte, por exemplo, escrevam tal como deternima o edital: "data", "advogado", "OAB", etc. A banca quer saber se o candidato conhece os elementos da petição. Apenas isso, não precisa inventar um dado para dar uma aparência de completude.

Não inventem, sob o risco de terem a prova zerada.

E, naturalmente, não deixem de usar as informações declinadas no problema. Se elas estão lá, devem ser usadas.

Observação importante! Um leitor deste post pode vir e perguntar: "mas e o X Exame de Ordem, quando a OAB exigiu que inventássemos, tal como ocorreu na prova de Penal?"

A prova de Penal do X Exame, aliás, todo o X Exame foi atípico, o pior Exame de Ordem da história. Eu sinceramente acredito que a qualidade dos enunciados será melhor e a banca não vai incorrer novamente naquele monte de falhas. Não é possível que isso ocorra novamente.

O trauma foi muito grande e ainda repercute dentro da OAB. O zelo com a elaboração das provas e dos padrões, certamente, tem sido outro. A regra acima permanece, assim como também temos esperança de que a OAB não permita que a FGV atrapalhe tudo mais uma vez.

O fator humano

Imaginem agora o responsável pela correção da sua prova.

Ele não vai corrigir só a sua prova, e sim 200 ou mais delas.

Imaginem agora a sua prova sendo a última, quando o corretor não aguenta mais ler. E, por fim, imaginem que sua prova foi feita assim sem muito zelo, apesar de tecnicamente correta.

O resultado dessa soma de fatores pode ser desastroso.

E não raro é.

Em toda prova, após a abertura do prazo recursal, é a mesma ladainha: "a correção da minha prova foi um absurdo!", bradam os candidatos reprovados.

Há uma diferença básica entre a correção da prova da 1 ª e da 2ª fase: na 1ª, a correção é feita por sensores óticos, na 2ª, é feita pelo olho humano.

E aqui entra a estética: o homem é sensível à beleza, ou, no mínimo, à ordem.

Não se preocupem em ter uma letra linda, de calígrafo, mas ao menos preocupem-se em apresentar uma redação esteticamente organizada, funcional.

Tenho CERTEZA de que o corretor da prova vai olhá-la com melhores olhos.

Uma prova mal escrita no mínimo não atrai simpatia. No mínimo...

Uma prova bem estruturada no mínimo atrai respeito. No mínimo...

E como fazer uma prova bem estruturada?

Não tem mistério nenhum! É tudo uma questão de ordem.

Vejam a imagem abaixo:

2

O ponto mais importante a ser observado é a padronização dos parágrafos. Isso, na essência, é que dá a sensação de organização e de regularidade não só estética como também de raciocínio.

Parágrafos do mesmo tamanho geram um padrão agradável de leitura. Particularmente gosto de parágrafos com no máximo 4 linhas. Parágrafos com 6 ou mais linhas não são muito agradáveis porque consomem mais a atenção de quem lê. Apenas 4 linhas oferecem "doses" de informações mais facilmente "digeríveis" pelo leitor.

Vejam bem: parágrafos homogêneos, delimitação de temas com clareza (também padronizados) e respeito às margens. Essa é a fórmula para uma petição organizada e esteticamente agradável INDEPENDENTEMENTE da qualidade da letra do candidato.

Claro! Ordem na redação não autoriza o candidato a escrever como se fosse um analfabeto. Fazer o melhor possível com a letra é desejável, ao menos para ser compreendido.

Ofereçam ao corretor um petição organizada e a atenção e a boa vontade dele serão outras.

NOTA: os espaçamentos de uma linha apresentados na folha acima podem ser ignorados se o volume de informação a ser trabalhada na prova for muito grande. Aqui é plenamente aceitável o prejuízo estético em nome da completude da resposta. Isso só será possível determinar na hora da prova.

NOTA 2: confiram agora uma peça nota 5, a nota máxima. Ela não tem uma redação espetacular, linda sob todos os aspectos, mas é legível e, acima de tudo, apresentou tudo de forma correta.

A peça peça é de Direito Tributário do X Exame de Ordem: 1 2 3 4 5 6

Então é isso! Não assumam como "frescura" fazer uma prova esteticamente apresentável. Com toda certeza não é!

O fator humano na correção não pode ser ignorado, e o homem é sensível aos aspectos da beleza e da estética.

Sempre foi e sempre será.