Sexta, 17 de junho de 2016
Para começar, e não deixar dúvidas, vamos deixar de lado paixões partidárias: o texto não é uma crítica motivada por razões políticas.
O texto é motivado por um erro técnico, um erro que está solapando a imagem do conhecido advogado e jurista, José Eduardo Cardozo. Serve de alerta para os jovens advogados, em especial os que estão no começa de carreira.
Ontem, durante o julgamento do impeachment no Senado, o Dr. Cardozo, ao ler as razões de uma petição, cometeu uma imensa gafe, que rapidamente se espalhou pelas redes sociais. Quem não viu pode conferir abaixo:
Na verdade, Cardozo queria se referir ao jurista e professor de filosofia do direito da Universidade Federal de Minas Gerais, Thomas Rosas Bustamante. O cacófato apareceu ao vivo nos canais que estavam transmitindo a sessão e ficou registrado nas notas taquigráficas.
Em entrevista à Veja, Cardozo explicou que tudo não passou de uma piada interna dos profissionais de sua equipe. Piada que nunca deveria ter chegado até ele:
?Um deles trocou o nome para fazer graça, mas a pessoa que revisou a versão final do processo não percebeu e a brincadeira sem graça acabou passando?.
A revista perguntou se os responsáveis seriam responsabilizados:
?Sinceramente, eu não sei exatamente quem foi. Mas, pelo que apurei, o papel veio por engano. Em principio, não vou punir ninguém por isso. Parece não ter sido proposital?
Sempre que algo dá errado no mundo jurídico (e em outros também) a culpa quase sempre recaí sobre o estagiário. Melhor dizendo, sobre outra pessoa que não o advogado.
Mas nós sabemos que essa desculpa não cola, pois o dono do texto SEMPRE é quem o assina. E se a falha passou, é porque o texto não foi devidamente lido.
Cardoso será lembrado para sempre por essa gafe, cometida em um dos julgamentos políticos mais importantes da república e em um momento de extremo confronto ideológico e político no país. O prejuízo para a sua imagem é grande, muito grande.
Mas, claro, como se trata de um jurista de renome, ele sobreviverá ao momento.
Erros em petições não são incomuns, e advogados iniciantes, sem renome ainda, podem pagar um preço elevado por suas falhas. Reparem só em um caso antigo:
A culpa foi do estagiário...
Vamos combinar: NUNCA é do estagiário! É o advogado que fica marcado.
E isso pode representar inclusive na derrota em um ação, além, claro, do registro PÚBLICO do ato.
É muito ruim para a imagem!
Evidentemente, para um advogado que trabalho com um volume de contéudo muiot grande, esse tipo de falha pode ocorrer, mas é preciso criar filtros visando a supressão de qualquer possibilidade de algo parecido ocorrer.
E que filtros são esses?
1 - Sistema de dupla revisão das petições. De quaisquer petições. Falhas são naturais, e quem as comete não raro as percebe. Alguém tem de funcionar como filtro.
Podemos ter erros ortográficos, que queimam a imagem do profissional, ou erros de lógica jurídica, que podem até mesmo acabar com as chances de sucesso da ação.
2 - As petições não são o lugar para "piadas internas". Evidentemente as piadas existem e precisam existir para descontrair o ambiente, mas escrevê-las nas petições? Nem pensar!
3 - Estagiário NÃO tem responsabilidade sobre nada.. Logo, ele precisa de efetivo acompanhamento. Muitos escritórios deixam os estagiários soltos com suas obrigações, sem dar a devida supervisão. Isso é um erro!
4 - Talvez seja meio utópico sugerir, mas sabemos que o ser humano tem limites. Sobrecarregar alguém é pedir para ver o erro acontecer. Logo, excesso de demandas concentradas em uma só pessoa não é algo recomendável. Caso ocorra, a revisão do trabalho deste profissional precisa ser mais acurada.
5 - Sistema hierárquico claro e devida atribuição de competências e responsabilidades. Se algo for combinado, se existir um sistema de dupla revisão, o revisor final é sempre o responsável. Culpar o estagiário ou um jovem advogado, vamos combinar, é patético.
E que fique muito claro: a imagem para o advogado é tudo. Cuidem muito bem dela!