A análise estatística de desempenho e sua importância na preparação para a 1ª fase da OAB

Sexta, 9 de maio de 2014

Desde quando surgiu o blog começou a abordar algo até então não trabalhado no universo de preparação para o Exame de Ordem: o conceito de estratégia de estudos para a OAB.

Isso era relativamente incompreensível, pois a estratégia aplicada aos concursos públicos já era difundida. Trazê-la para o Exame de Ordem era algo natural.

E mais do que natural, absolutamente imprescindível!

No Exame de Ordem o examinando não pode deixar nas mãos da OAB e da FGV os rumos do seu destino. Se isso acontecer, fica sujeito às injustiças, e elas são recorrentes.

Guia de preparação e cronograma de estudos para o XIV Exame de Ordem

Portanto, com o uso de uma ESTRATÉGIA, o candidato deve otimizar seus estudos e buscar um desempenho MELHOR na próxima edição.

Portanto, como conseguir, na próxima edição do Exame de Ordem, superar os 50% da prova objetiva?

A resposta imediata e óbvia é uma só: senta a bunda na cadeira e estuda. Bem....se fosse simples assim a reprovação seria exceção e não regra! "Sentar a bunda na cadeira" é uma ideia condensada de todo o necessário para um candidato lograr seus objetivos. Analisando-se a arte de estudar poderemos ver uma série de desdobramento daquilo que chamam de "sentar a bunda na cadeira".

Não vou, claro, tratar de tudo, pois a meta-preparação para concursos é um tema muito amplo. Vamos aqui pegar apenas um desdobramento da preparação para o Exame de Ordem, com algo prático e efetivo.

Sim! Efetivo mesmo, pois já recebi relatos de candidatos que se valeram de algumas metodologias sugeridas aqui no Blog e colheram bons resultados. E se serve para uns, serve para todos.

O foco está em identificar as razões do insucesso em uma prova. Geralmente eu publicava este texto próximo da prova da 2ª fase, mas me convenci de que o acompanhamento do desempenho deve ser algo constante. E deve não só por mostrar os pontos fracos do candidato como também em razão do que se tornou a prova da OAB: uma máquina de moer.

A ideia deste texto é ajudar no processo de identificação de deficiências e, paralelamente, servir de guia para o examinando definir com precisão o conteúdo a ser estudado.

É especialmente útil para candidatos que já reprovaram mais de uma vez, assim como também a proposta é perfeitamente válida para quem vai entrar no jogo agora.

E como nasceu o conceito de diagnóstico para o Exame de Ordem?

mcnamara

Robert McNamara - Ex-Secretário de Defesa dos EUA (1961-68)

A ideia por detrás desse tipo de análise nasceu depois que me lembrei de um documentário sobre o ex-Secretário de Defesa norte-americano, Robert McNamara.

Antes de ser executivo da Ford e Secretário de Defesa em várias administrações nos Estados Unidos, McNamara trabalhou como estatístico no Departamento de Defesa americano. Durante os bombardeios no Japão, no auge da guerra contra o Japão (2ª Guerra Mundial), McNamara descobriu uma proporção entre a altura de voo dos bombardeiros e a eficiência de destruição dos alvos.

Ele mostrou sua descoberta para seu General-Comandante e este determinou um drástica redução na altura de voo no momento dos bombardeios, visando aumentar a eficiência da destruição.

Após algumas operações, um dos pilotos perguntou quem havia sido o idiota que teve esta ideia, pois um de seus companheiros havia sido alvejado e morto em combate, assim como muitos outros. O General respondeu: "este é o risco do soldado. Veja agora o quanto nós aumentamos a eficiência na destruição do inimigo. Isso reduzirá o tempo de guerra e assim, ao fim, menos dos nossos morrerão."

Ou seja: um aumento no risco aumentou a eficiência e o resultado final pôde ser alcançado com uma maior brevidade.

Bom, não estou contando aqui o efeito das duas bombas atômicas, mas os bombardeios convencionais mataram muitos mais japoneses do que os bombardeios de Hiroxima e Nagazaki juntos.

A questão de fundo, e é o que nos interessa, está relacionada com a TOMADA de decisão com base no descortinamento dos fatos, dos métodos e de seus resultados.

O general tomou uma decisão estribado em informações e conseguiu aumentar drasticamente a eficiência dos bombardeios. A proposta aqui é vocês, examinandos, determinarem o rumo dos estudos com base em uma LEITURA do desempenho REAL de vocês antes, bem antes da prova.

Tomando ciência de uma baliza correta, o examinando não desperdiça seu tempo nos estudos e não foca naquilo que não irá lhe agregar muito valor durante o processo de aprendizagem.

1 - DIAGNÓSTICO ESTATÍSTICO

Por que o candidato sempre fica no zona limítrofe, acertando 37, 38 ou 39 pontos?

Aqui queremos descobrir a AMPLITUDE do potencial do candidato diante a prova da OAB.

Então eu pergunto: você já fez uma avaliação estatística de desempenho no Exame?

Eu trouxe pioneiramente esse tipo de abordagem para dentro do Exame de Ordem e sinceramente acredito que ela tem uma importância muito, mas muito grande dentro do processo de preparação. Ao tomar conhecimento de uma baliza correta o examinando não desperdiça seu tempo nos estudos e não foca naquilo que não irá lhe agregar muito valor durante o processo de aprendizagem.

A vantagem e seus benefícios são incomparáveis.

Certamente o candidato tem um desempenho melhor em algumas disciplinas, sendo que em outras seu desempenho deixa a desejar. Sem uma clara noção de suas virtudes e deficiências a dificuldade em se buscar soluções é imensa.

Pior, seus esforços serão direcionados na base do empirismo e do achismo: "acho isso", "devo fazer aquilo", sem um fundamento claro do que ser feito. Assim o examinando perde tempo e foco, a receita correta para colher uma reprovação.

Se você já fez 3, 4 ou 5 provas certamente terá um mar de dados para traçar seu desempenho estatístico por disciplina, e assim obter um diagnóstico de desempenho. Se não fez, está começando o jogo agora, poderá fazer simulados ou provas anteriores e colher os dados de desempenho.

Como montar o diagnóstico?

Primeiro separe as provas, uma por uma, e em cada veja quais e quantas questões foram destinadas pra cadas disciplina.

Você vai encontrar as seguintes disciplinas, por ordem de IMPORTÂNCIA (a ordem de importância é determinada pelo número de questões cobradas em cada disciplina):

Primeiro Grupo

Direito Civil,

Direito Processual Civil

Direito do Trabalho

Direito Processual do Trabalho

Direito Penal

Direito Processual Penal

Segundo Grupo

Direito Constitucional

Direito Administrativo

Direito Empresarial

Terceiro grupo

Direito Tributário

Direito Internacional

ECA

Direito Ambiental

Direito do Consumidor

Direitos Humanos

Filosofia

4 - Disciplina especial

Ética Profissional

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Em cada prova você terá de determinar os percentuais atingidos em cada disciplina. Pode parecer um trabalhinho muito chato (e é um trabalhinho chato mesmo!) mas ele é fundamental para você SE CONHECER.

Não o despreze!

É impossível achar uma solução sem antes identificar o problema. O preço a pagar até finalmente achar a aprovação pode ser caro demais (já vem sendo caro demais, não é?).

Vejamos um exemplo!

Em uma determinada disciplina, nas últimas provas, foram cobradas 7 questões. Vamos fazer uma análise hipotética do desempenho de um também hipotético candidato nas últimas provas:

VII Unificado - 7 questões / 3 acertos - 43% de aproveitamento

VIII Unificado - 7 questões / 4 acertos - 57% de aproveitamento

IX Unificado - 7 questões / 2 acertos - 28% de aproveitamento

Média percentual total de acertos - 42%

Isso deve ser feito com todas as disciplinas em algumas provas passadas.

(NOTA: é fácil fazer um cálculo percentual. Considerem, por exemplo, que 8 (ou 6, ou 3 ou qualquer outro número)  representa 100%. A partir daí faça uma regra de 3 simples: se 8 é igual a 100% (das questões de determinada disciplina em uma prova, X (que representa o número de acertos) é igual a Y (o percentual de acertos daquela disciplina percentualmente)

8 - 100%

X - Y%

Pode parecer preciosismo meu "ensinar" a fazer uma regra de três aqui, mas é só para ajudar na agilização do processo.)

Seguem as 2 últimas provas, consideradas difíceis pelos candidatos (ao menos estatisticamente foram) para você estabelecer uma baliza séria sobre o atual grau de preparo e conhecimentos. Resolvi, de forma deliberada, excluir a prova do XIII Exame, que não foi tão complicada quanto as demais.

Prova do XII Exame

Gabarito

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Prova XI Exame

Gabarito

Ao concluir o trabalho, prova por prova, você terá um quadro do seu desempenho, e também informações muito úteis para iniciar uma reflexão.

Aqui você pode constatar duas coisas:

1 - As disciplinas cujo desempenho é sempre ruim, ou seja, estão sempre abaixo dos 50% de acertos, tal como no exemplo acima;

2 - As disciplinas em que vocês se julgam bons, mas não são.

Essa descoberta, essencial como fator de autoconhecimento, permite a escolha do caminho para a adoção da solução mais adequada.

E qual seria ela?

2 - ESTUDANDO

estrategia

E como estudar as disciplinas eleitas a partir de agora?

Vou repetir aqui a fórmula de estudo que costumo recomendar. Lembrem-se que o estudo é um processo global, exigindo uma série de etapas para o candidato efetivamente ficar preparado.

O Estudo para o Exame de Ordem pode ser estruturado da seguinte forma, sem no entanto pretender excluir nenhum outro ou considerar este como o melhor:

1 - Leitura da doutrina (específica para o Exame) ou acompanhamento de uma aula acompanhado da leitura SIMULTÂNEA ou logo POSTERIOR da legislação correlata na medida da evolução da leitura ou aula (na aula online o aluno pode parar a aula, ler o que quiser, e depois continuar do ponto onde parou. Isso representa uma imensa vantagem em termos de estudo que a aula presencial ou satelitária não podem acompanhar). Aqui o candidato estabelece os vínculos entre os conceitos, as teorias e a norma;

2 - Elaboração pequenos resumos ao término de cada tópico do livro que está sendo estudado. A elaboração de resumos, feitos DE CABEÇA, não só ajuda a delimitar o que não foi apreendido com a leitura inicial como é uma importantíssima etapa de fixação do conteúdo. Se você lembra, o conteúdo, ao menos naquele momento está fixado;

3 - Revisão do conteúdo estudado dentro de um período em específico, de preferência, como estamos em uma reta final, logo após esgotar a doutrina da disciplina escolhida. Essa medida atende à preocupação em se avançar no estudo do conteúdo sem perder a informações previamente estudadas. Ou seja, avançar nos estudos sem esquecer o que ficou para trás. É uma ação basilar.

Todo estudante almeja a chamada "memória profunda", ou a fixação definitiva de uma informação em sua memória. Tal processo não acontece por milagre, uso de técnicas mirabolantes ou sistemas mágicos. É preciso ler, compreender, reforçar o conteúdo e disponibilizá-lo com constância, seja dando aulas (para si mesmo até), elaborando resumos sem efetuar nenhuma consulta ou resolvendo exercícios.

A revisão tem o fito de evocar um conteúdo anteriormente estudado e reforçar a fixação deste no cérebro.

4 - A resolução de exercícios é a última etapa desse processo, e ela é FUNDAMENTAL. Primeiro porque ela se enquadra como um processo ao mesmo tempo de revisão do conteúdo, de desafio ao raciocínio, em razão da adaptação do conhecimento a um problema hipotético, ajudando no desembaraço mental, como também representa uma etapa de adaptação ao sistema de enunciado da banca, e tal adaptação é VITAL!

Note que o processo de estudo não pode ser trabalhado de forma estanque - Você deve se inteirar da doutrina, confrontá-la com a lei, elaborar resumos e resolver exercícios. Essas etapas, distintas entre si, mas consideradas como um processo global, certamente produzirão ótimos resultados como método de aprendizagem.

Mas esse é um processo metodológico meu, e creio que ele seja efetivo. Apesar disto, não quer dizer que outros processos sejam descartáveis ou mesmo o processo aqui apontado não seja efetivo para um grupo de estudantes: existem várias formas de aprendizado e vários perfis individuais de aprendizagem. Ou seja: não há fórmula pronta e acabada de estudos, que seja abrangente e universal.

Eu sugiro a leitura deste post aqui: As 10 melhores técnicas de estudo, segundo a ciência

Ter ciência de que existem várias formas de estudos (e cada uma com sua eficácia) é importante para se traçar a melhor estratégia de estudos. De toda forma, creio que a adoção de um método, seja ele qual for, é indispensável.

Todo este processo exigirá muito do examinando, e pode ser (será) bem desgastante.

A perspectiva de ter de rever tudo novamente e reentrar em um processo cuja imaginação só permite que seja trilhado uma única vez é algo desestimulante. Mas também, por outro lado,deve servir para o candidato reafirmar a si mesmo suas próprias convicções e sua visão sobre o próprio futuro.

É sim dolorido e complicado, mas também os frutos deste processo perdurarão por muito tempo. Essa é a lógica da vida e não devemos nos furtar a ela.