Quarta, 31 de janeiro de 2018
Em dezembro passado o Governo jogou a pá de cal sobre a questão do tecnólogo jurídico ao publicar no Diário Oficial da União o Decreto nº 9.235/2017, que autorizou a abertura de cursos técnicos em todas as graduações:
Foi a senha para começar a surgir muitos, mas muitos cursos de tecnólogos jurídicos Brasil afora.
Começam a pipocar cursos de Tecnólogos Jurídicos pelo país
Eu estava analisando um desses cursos, o da UNINTER, e fiquei impressionado com seu custo: R$ 5.952,00 por todo o curso!
São 24 parcelas de R$ 248,00 em apenas 2 anos de estudo.
É muito, mas MUITO barato!
E isso sem considerar que praticamente todos os cursos de tecnólogos hoje no mercado são oferecidos na modalidade online.E essa é exatamente a lógica deste tipo de curso: ser uma graduação barata para ajudar as instituições a fazer caixa.
Como já escrevi aqui algumas vezes, não existe mercado de trabalho para os tecnólogos. Os jovens advogados já ocupam a faixa salarial que corresponderia ao nicho passível de ser ocupado pelos tecnólogos. E isso com a vantagem de poderem ser contratados como advogados associados, o que elide uma série de obrigações trabalhistas.
O tecnólogo não tem a menor condição de competir no mercado.
Mas, como é um curso muito barato, com processo seletivo virtualmente inexistente, dando a possibilidade de se ostentr um diplona de nível superior, a demanda será inevitável.
É meio inevitável imaginar que um tecnólogo jurídico ao fim, sem espaço no mercado, queira prestar consultoria e assessoria jurídica. Enquanto forem poucos isso não irá incomodar, mas quando o volume de formandos ganhar corpo, torna-se-á um problema.
As atuais mantenedoras, com a influência que detém, vão atuar para justificar o investimento feio no curso e a manutenção da oferta das aulas no futuro. O risco de atuarem na esfera política para quebrar uma prerrogativa que hoje é só dos advogados passa a ser considerável.
Parem para pensar: o que impede que um projeto de lei estenda a assessoria e consultoria jurídica aos tecnólogos?
Nada impede.
O que impede que força política gerada por um imenso número de tecnólogos não ataque o próprio Exame de Ordem?
O problema dos tecnólogos é a possível e futura quantidade deles.
Com um curso tão barato assim e de fácil ingresso, a tendência é que a quantidade deles cresça de forma quase que incontrolável.
Eles vão, figurativamente, dominar o mundo. Mas, na prática, e no mundo real, vão gerar uma imensa pressão no mercado de trabalho. O único espaço que terão para crescer é adentrando na faixa exclusiva hoje destinada aos advogados.
Neste momento isto é uma hipótese remota. Mas em 10 anos, ou um pouco menos, deixará de ser.
Não duvidem da capacidade de absorver pressões e populismos do Congresso brasileiro.