O futuro do Exame de Ordem na Conferência Nacional da Advocacia Brasileira

Quarta, 29 de novembro de 2017

O futuro do Exame de Ordem na Conferência Nacional da Advocacia Brasileira

A qualidade do ensino jurídico, propostas curriculares e metodológicas, a ética e o exame da Ordem foram temas discutidos no Painel 13 da XXIII Conferência Nacional da Advocacia Brasileira, realizado na manhã desta terça-feira (28) em São Paulo. Com o tema ?Ensino Jurídico, Ética e Exame de Ordem: Defesa da Sociedade?, o painel foi presidido por Marisvaldo Cortez Amado - acompanhado pelo relator Sérgio Leal Martinez e pela secretário Nelson Ribeiro de Magalhães e Souza ? e contou com a presença de especialistas que colaboraram com visões e experiências sobre o exercício profissional da classe.

Em Defesa do Exame de Ordem

As atividades foram iniciadas com a palestra ?Em Defesa do Exame de Ordem?, proferida por Rogério Magnus Varela Gonçalves, presidente da Comissão Nacional de Exame de Ordem, que afiançou que um tema indissociável ao exame é a qualidade do ensino jurídico. ?O Exame de Ordem, nos dias atuais, se mostra cada vez mais importante e necessário porque estamos com mais de 1.500 cursos de Direito no Brasil. Em um universo como esse, temos excelentes cursos de Direito - uma minoria, infelizmente ? e uma esmagadora maioria que não se preocupa com o aluno, mas com números e finanças. É esse contexto que fortalece o Exame da Ordem: evitar que pessoas pouco preparadas entrem no mercado de trabalho e causem prejuízos para a sociedade?, explicou.

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Nos últimos dois anos, aponta Gonçalves, uma liminar judicial estabeleceu que universitários dos últimos períodos possam realizar o Exame de Ordem. ?É importante que se diga que não é desejo da OAB que pessoas ainda no banco universitário façam o Exame porque, depois, desinteressam-se e desconectam-se do ensino jurídico?, explicou. Segundo ele, no atual contexto do país, surgem ?vozes? que objetivam acabar com o Exame de Ordem.

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?O Exame da Ordem desperta paixões e ódios, sobretudo para aqueles que ainda não passaram. Porém, sempre recomendamos para os examinadores e elaboradores o seguinte: não desejamos fazer uma prova de excelência, onde passam poucos, mas de suficiência. Busca-se averiguar se a pessoa está suficientemente apta a entrar no mercado de trabalho, é uma certificação de qualidade técnica mínima. O objetivo do exame, portanto, é proteger a sociedade e também o jovem que se forma?, frisou. Ao final, Varela propôs que o exame se mantenha na forma que hoje é aplicada, a qual foi votada e aprovada.

Ensino Jurídico e Educação Continuada

Na palestra ?Ensino Jurídico e Educação Continuada?, o professor e advogado Jorge Amaury Maia Nunes apontou que o ensino jurídico sofreu profunda transformação. ?O Brasil hoje concentra 53% das faculdades de Direito do mundo. Esse crescimento gracioso de faculdades tem custo: não tínhamos professores preparados para mais de mil faculdades. Os cursos de direito nasciam sob a égide da mediocridade. Tinha só uma missão: adestrar para Exame da Ordem e para concursos públicos?, disse ele.

 ?Não há experiência nem possibilidade profissional. Começam a vender sonhos para outros num deserto de possibilidades de ganhar dinheiro. Começam a tentar criar mercados de advocacias, fazem vendas de produtos jurídicos. A classe começa, então, a se empulhar. Por isso, para os que virão no futuro, precisamos do sistema de educação continuada. É a educação que a gente oferece a qualquer cidadão, independentemente da idade e nível de instrução, para que continue a estudar?, disse Nunes.

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O advogado também afirmou que, com a educação continuada, novos saberes serão concebidos. ?Não temos que explorar o que passou e foi deteriorado pelo ensino, mas aquilo que está por vir. Nesse mundo digital e de relações interpessoais, aparecerão muitas possibilidades para as relações jurídicas e grande possibilidade da advocacia preventiva para impedir que os conflitos aconteçam?, exemplificou.

O advogado e professor Adilson Gurgel de Castro palestrou sobre ensino jurídico e apresentou algumas sugestões para inovações curriculares e metodológicas para ajudar a formar melhor os bacharéis. ?Os Diretos Humanos devem ser disciplina obrigatória nos cursos de Direito. Além disso, é muito importante fomentar o interesse pela literatura, pelo cinema e pelo teatro em nossos alunos?, afirmou.

Castro também lembrou que os professores devem evitar as ?mesmices? como, por exemplo, sempre os mesmos modelos de aula, provas currículos, o que chamou de ?mcdonaldização dos cursos?. ?Devemos trabalhar a interdisciplinaridade. O Direito não é fenômeno isolado. Devemos integrar o estudante no campo, estabelecendo as relações do Direito com outras áreas do saber.  A interdisciplinaridade está presente em todo o marco regulatório. Além disso, o aluno deve ser o protagonista do seu aprendizado e o educador deve saber quem é seu aluno, qual a importância da sua disciplina, quais as competências e habilidades a desenvolver, como vincular a disciplina àquelas já estudadas?, sugeriu.

Propostas

Após sua palestra, foram votadas algumas proposições: Direitos Humanos como matriz obrigatória no curso de Direito, utilização de novas técnicas na aprendizagem, incentivo do uso pedagógico por meio de vídeos e conferências, melhor utilização do júri simulado em todas as disciplinas e criação da cadeira de Direito Tributário 2.

Fonte: OAB

Há muito alerto aqui para as mudanças no Exame de Ordem, mudanças que fazem parte inclusive do desejo da OAB. No entanto, enquanto o novo marco do ensino jurídico não for publicado, a OAB não vai mudar o Exame a fundo, em sua parte estrutural. E, como a Ordem e o MEC estão em pé de guerra, não há ainda um horizonte claro para as mudanças na prova.

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A interdisciplinariedade está no futuro do Exame de Ordem, e é uma tendência que veio para ficar. Resta saber qual será o ritmo de implementação.

No mais, discordo da visão da Ordem de que o Exame não é uma barreira, mas tão somente um filtro de suficiência. A prova tem sido feita sim para reprovar, e inclusive isso foi dito por representantes da OAB. O "rigor na prova" é para reprovar. Falar que o objetivo é apenas filtrar não passa de um véu.

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