Quinta, 7 de dezembro de 2017
O que pensar de um Conselho de Classe que formal e publicamente assume um posicionamento, em conjunto com mais de uma dezena de outros Conselhos de Classe e, de uma hora para outra, muda de opinião como se estivesse meramente trocando de roupa?
Foi o que fez o Conselho Federal de Administração - CFA.
Há duas semanas os mais importantes conselhos de classe do Brasil, após reunião no Conselho Federal da OAB (inclusive estive presente no evento), publicaram uma dura nota conjunta questionando o MEC por sua atual política educacional.
17 Conselhos de Classe divulgam dura carta contra o MEC
O CFA, mesmo sendo signatário deste documento, resolveu agora "mudar de ideia" e se colocar de forma contrária à nota oficial divulgada pelo Fórum Permanente sobre o Ensino Superior, menos de duas semanas após assiná-lo.
O posicionamento dos conselhos não foi um ato equivalente a ir em um bar com amigos para combinarem um churrasquinho de final de semana. Tratou-se de reunião dos gestores e representantes dos gestores dos maiores conselhos de classe do país, para juntos adotarem uma postura INSTITUCIONAL contra o atual modelo de política educacional adotado pelo MEC: predatório, privatista, descompromissado com a qualidade e prejudicial aos futuros profissionais.
Como é que um Conselho muda de ideia de forma tão rápida assim? Como é que se expõe perante todos os demais conselhos de classe, assume um compromisso para depois "dar para trás"?
Por um acaso as políticas educacionais mudaram em duas semanas para que o CFA, confortavelmente, passasse a defender de público o Ministério que dias antes havia criticado?
Aqui cabe uma série de ponderações quanto a nota do CFA:
1 - A nota conjunta não é da OAB, como aludido, mas sim de todos os Conselhos reunidos. A OAB sediou o evento, mas o posicionamento é coletivo, sem o protagonismo da Ordem: o protagonismo é de todos;
2 - A decisão que motivou o recuo do CFA foi colegiada? Os conselheiros daquele Conselho deliberaram sobre este novo posicionamento?;
3 - Aliás, os administradores de todo o país estão sabendo que o CFA não se importa que técnicos de qualquer área e origem estão ocupando o espaço profissional daqueles que o Conselho deveria proteger?;
4 - A esfera da competência do Estado, no que tange à regulação, supervisão e avaliação da educação, em todos os seus níveis, não é uma atribuição exclusivamente estatal. O empresariado da educação está louco (e sustenta fortemente o discurso) para excluir todos os conselhos do processo de análise da abertura de novas instituições e vagas no ensino superior, como se o destino dos estudantes não fosse exatamente o mercado.
Não existe a dicotomia ensino superior/mercado. A graduação desemboca exatamente na esfera de atuação dos conselhos profissionais, ou será que avaliação dos Médicos, Administradores, Nutricionistas, Enfermeiros, Engenheiros, Nutricionistas, Biólogos... e advogados é feita pelo Estado Brasileiro ou pelos Conselhos.
A postura do MEC em abrir novas instituições a qualquer preço já produziu seus efeitos deletérios: exclusão do mercado de uma MULTIDÃO de jovens formados. Isso é um fato e é constatado em todos os segmentos.
Trato disto com grande proximidade com a área jurídica, onde nem mesmo o Exame de Ordem conseguiu conter a proletarização da advocacia, o que dizer então de outros conselhos que sequer têm o guarda-chuva de uma prova similar ao da OAB para impedirem que estudantes que simplesmente NÃO SÃO REPROVADOS em suas faculdades entrem no mercado.
Perguntinha: Por que NÃO produzem mais estudos como o apresentado no link abaixo? O último foi de 2012.
Analfabetos funcionais são 38% nas faculdades
A verdade é que hoje ensino superior no Brasil é de péssima qualidade, sustentado por financiamentos e desprovido basicamente de critérios de seleção: o importante é o universitário pagar.
Fiscalização, então, não passa de um mito;
5 - Na nota, em seu parágrafo final, o Conselho aduz o "seu contínuo compromisso em colaborar com o Estado Brasileiro na permanente elevação da qualidade da educação ofertada à sociedade brasileira."
Desculpe-me, mas o papel do Conselho (de qualquer conselho) não é colaborar com o Estado, mas sim o de fiscalizá-lo. Seu papel é o de colaborar com os seus inscritos, agindo no interesse destes.
O Fórum Permanente sobre o Ensino Superior assumiu um relevante papel social para EXATAMENTE colaborar com o Ensino Superior no país enviado sugestões ao MEC ao Ministério Público, fiscalizando e informando aos profissionais de cada Conselho e a Sociedade Brasileira o que acontece, atualmente, na formação dos futuros profissionais.
Confiram a nota de esclarecimento diretamente no site do CFA.
O recuo do CFA é simplesmente lamentável.