Segunda, 24 de novembro de 2014
Visão de negócios e empreendedorismo, hoje, são caminhos essenciais para o sucesso para qualquer negócio. Ocorre que, hoje, só isso não basta. O grande desafio, para este novo profissional, é saber como encarar os desafios de ingressar na carreira e administrar seu escritório ou clínica.
No mundo jurídico, por exemplo, existe uma concorrência acirrada para ingressar no mercado e também para sobreviver e montar seu próprio negócio.
Na visão de Rodrigo Bertozzi, consultor e pioneiro na gestão de escritórios de advocacia e marketing jurídico no Brasil: ?Esse universo cresceu significativamente nos últimos dez anos, ocasionado, entre outros fatores, pela expansão geográfica das grandes corporações, pelos processos de privatização, fusão e aquisição de empresas. Essa transformação trouxe mais oportunidades para advogados, o que culminou também no crescimento do número de universidades e de alunos interessados na carreira, bem como no surgimento de novas áreas?.
Levantamento
O consultor defende essa tese com números. Segundo levantamento da Selem, Bertozzi & Consultores Associados, atualmente, os escritórios brasileiros de advocacia atuam em 48 de áreas, contra 10 áreas em 1990.
?Existem novos segmentos, como o Direito do Entretenimento, a área de Infraestrutura, o Biodireito, o Direito Bélico e o Direito das Novas Tecnologias. Vivemos a era da hiperexpertise. São novas portas que se abrem para profissionais que acompanham as tendências e constroem cenários futuros favoráveis nesse mercado competitivo?, afirma.
Bertozzi, que desvenda esses caminhos na recente obra A Nova Reinvenção da Advocacia: A Bíblia da Gestão Legal no Brasil, ressalta que, hoje, existem 835 mil advogados no País.
E a previsão é que este número chegue a 1 milhão em 2018. ?Haverá campo de trabalho para todos. Basta que esse profissional trace uma estratégia fora das convencionais e se antecipe às tendências, por meio de muito estudo do mercado e elaboração de um projeto de longo prazo?, diz o consultor.
Conhecimento
Outro dado que chama a atenção nesse universo se refere ao número de faculdades na área jurídica: são 1.120 instituições que lecionam Direito no Brasil. ?Este número é maior que o número somado de faculdades de Direito de países como EUA, China, Alemanha, Itália e França. Atualmente, são 750 mil estudantes matriculados em Direito no País. Eles precisam de ferramentas e gestão de carreira para se destacar no mercado.?
Com o surgimento de novas áreas, aliado ao crescimento de oportunidades em velocidade similar ao aumento de escolas e alunos do Direito, o futuro desenha-se como promissor a quem vai além de se atentar apenas à performance técnica e à qualidade dos serviços prestados.
?Será cada vez mais necessário que os escritórios profissionalizem suas estruturas e sua gestão como se fossem verdadeiras empresas, adaptando-se às novas necessidades do mercado, com prudência na seleção de estratégias e implantação de novas formas de administração e comunicação jurídicas?, explica Bertozzi.
?Por meio da gestão planejada estrategicamente, será possível a busca pelo desenvolvimento futuro do negócio como um todo, agregando valor aos serviços prestados, de modo que o profissional e o escritório se diferenciem de seus concorrentes e alcancem o sucesso empresarial?, conclui.
Fonte: Revista Visão Jurídica
Tive a oportunidade de acompanhar, durante a XXII Conferência Nacional dos Advogados Brasileiros, ocorrido em outubro último, o décimo painel do evento, cujo tema era "o Ensino Jurídico, Advocacia e Sociedade".
Naquela oportunidade o ex-presidente da OAB, Dr. Ophir Cavalcante, tratou da expansão do número de faculdades de Direito no Brasil desde 1995. A evolução foi traçada desta forma:
1995 ? 165 faculdades de Direito
2001 ? 505 faculdades de Direito
2014 ? 1284 faculdades de Direito
Isso representa um crescimento de 778,18% no período, algo verdadeiramente assombroso considerando que a qualidade do ensino médio no país não melhorou para o ensino superior acomodar tantos novos universitários.
Ophir fez questão de desconstruir uma informação que vem circulando há algum tempo e que não corresponderia a verdade: que o Brasil teria mais faculdades de Direito do que o resto da soma dos demais países.
A China sozinha teria 987 cursos de Direito, para uma população de 1,5 bilhões de habitantes. Já o Brasil tem esses 1284 cursos para uma população hoje de 200 milhões de pessoas. Aí sim residira a discrepância, pois proporcionalmente existem faculdades demais de Direito no Brasil.
Só o estado de São Paulo tem 300 faculdades de Direito - o maior número no país inteiro, mais do que no Estados Unidos, que tem 212 faculdades.
Isso representa, em termos práticos, o seguinte contingente de estudantes e examinandos:
1 - 282 mil novos estudantes por ano
2 - 125 mil examinandos por ano.
A diferença entre ingressantes e examinados se dá pelas desistências ao longo do curso e em razão de que nem todos fazem o Exame de Ordem.
Já a segunda informação, de que 125 mil examinandos fazem a prova por ano, quando cada edição tem aproximadamente 110 mil inscritos, pode parecer estranha em um primeiro momento, mas ela faz sentido.
Semana passada publiquei um post tratando dos atuais percentuais de reprovação no Exame de Ordem:
"Mais de 8 em cada 10 estudantes que fizeram o Exame de Ordem da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) foram reprovados nos últimos quatro anos. A estatística (82,5%) consta na segunda edição do relatório ?Exame de Ordem em Números?, ao qual O GLOBO teve acesso com exclusividade. Feito pela FGV Projetos, que organiza a prova, o estudo faz uma análise do II ao XIII exames, de 2010 a 2014.
Nesse meio tempo, dos mais de 1,3 milhão de inscritos, apenas 234 mil (17,5%) receberam a tão sonhada carteira de advogado, que permite ao bacharel em Direito exercer a profissão. Desde 2010, a OAB federal organiza provas unificadas, que antes ficavam a cargo de cada seccional da organização."
Os dados acima derivam de um estudo publicado pela FGV abrangendo as estatísticas do Exame de Ordem de 2010 até 2014.
Pois bem! Se em 4 anos 234 mil bacharéis receberam a carteira da OAB e, se hoje nós temos 835 mil advogados, replicando este número para os próximos 4 anos (até 2018), teríamos 1.069.000 advogados em 2018. Ou seja, a consultoria não está errada em sua projeção.
Temos de descontar, evidentemente, quem efetivamente não advoga, desiste da profissão, falece, entre outras variáveis, mas é inegável que o ritmo de crescimento suplanta o ritmo do decréscimo, e efetivamente em 2018 deveremos mesmo ter 1 milhão de advogados na praça.
Tudo reflexo de uma expansão irresponsável do ensino jurídico ao longo das duas últimas décadas.
Teremos mercado para atender tantos profissionais assim?
Tem gente que acredita que sim, mas pelo o que vejo, essa não é a realidade hoje:
Os vencimentos (de fome) do chamado "advogado audiencista" e a crise do mercado da advocacia
?Pós-graduação virou commodity?. A nova visão do mercado sobre a formação profissional
Tem carteira da OAB mas não tem carro? As coisas serão um pouco mais difíceis para você?
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O que fazer com R$ 100,00 de honorários de sucumbência?
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Governo de Sergipe abre concurso para advogado e oferece salário de FOME!
Teremos mesmo mercado para tantos profissionais?
A crise do mercado para os advogados, real, em especial os mais jovens, deriva, em essência, de dois fatores:
1 - expansão desenfreada de cursos jurídicos nas últimas 2 décadas, gerando um contingente imenso de novos profissionais, e;
2 - baixa capacidade da economia em absorver a mão de obra disponível.
Sem uma economia em franca expansão, que sustente as demandas da sociedade , em especial em termos de empregabilidade, fica difícil imaginar o mercado absorvendo tantos profissionais. Afinal, o mercado da advocacia DEPENDE de uma economia forte, de uma economia onde o dinheiro gire, para a classe ser procurado pelos seus clientes. Uma economia estática, parada, representa tão somente a miséria para o advogado.
Quanto menos interações econômicas menores as chances da classe dos advogados ser procurada. Além disto, com menos ativos circulando, os honorários a serem contratados acabam sendo achatados pela própria realidade do mercado.
Em outro ponto a consultoria está recoberta de razão: é preciso cada vez mais se especializar em um ramo do Direito para poder achar seu espaço no mercado. Do contrário, só restará se contentar com salários muito baixos ou mesmo com o desemprego.