Terça, 18 de fevereiro de 2014
Para mim, a fonte mais fácil é a Arial, tamanho 16. Não por acaso é uma das mais populares, junto com Times New Roman.
E se eu disser que o TAMANHO da fonte não produz efeito nenhum no processo de aprendizagem?
Mas, por outro lado, o ESTILO da fonte faz sim diferença.
Essa constatação é resultado de uma pesquisa que demonstrou a capacidade das pessoas em reterem mais informações, e de forma significativa, e independentemente do campo do conhecimento - seja ciência, história ou linguagem- quando optam por estudar valendo-se de fontes não só desconhecidas como também de difícil leitura.
Ou seja, o uso de uma fonte estranha e difícil ajuda no processo de cognição.
Em um estudo publicado na revista "Cognition", psicólogos das universidades de Princeton de Indiana trabalharam com 28 homens e mulheres valendo-se de um texto sobre 3 espécies de alienígenas, cada espécie com características diferentes uma das outras. Metade dos voluntários leu o texto com usando a fonte Arial tamanho 16, e a outra metade em Comic Sans MS ou Bodoni MT tamanho 12. Essas duas últimas são de uso raro e de leitura mais complicada.
Após uma rápida pausa após a leitura, os candidatos fizeram uma prova e, quem usou as fontes difíceis teve um desempenho superior a quem usou somente a fonte Arial 16, na proporção de, em média, 85,5% a 72,8%.
Os pesquisadores descobriram que , em média, aqueles que receberam as fontes mais difícil de ler , na verdade, lembrou 14 % a mais.
Para os pesquisadores, a apresentação de informações de uma forma difícil de digerir obriga o leitor a se concentrar mais , e isso leva a " transformação profunda " e " melhor recuperação " depois.
É um exemplo dos efeitos positivos do que os cientistas chamam de "disfluência" .
E o que é "disfluência"?
A fluência pode ser definida como uma progressão silábica que se faz no tempo, sem oscilações e sem inserções. Já a disfluência é caracteriza pela dificuldade em se estabelecer a progressão sem oscilações ou inserções. Lembrando que a disfluência está associada, conceitualmente, com 3 desordens:
1 - a gagueira;
2 - a disprosódica orgânica, que é uma desorganização da fala ou da linguagem na qual os ritmos estão alterados, os sons são distorcidos e a velocidade da fala pode ser mais lenta do que o normal;
3 - a taquilalia, que é um problema de linguagem onde o ritmo da fala é muito mais rápido do que o normal e esta fala é desorganizada, tornando a linguagem incompreensível;
Para o professor Daniel Oppenheimer, um dos co-autores do estudo, a disfluência é apenas um sentimento subjetivo de dificuldade associado a qualquer tarefa mental ". Seguindo essa lógica, se algo é difícil de ver ou ouvir , o leitor passa a se sentir disfluente, e é exatamente a percepção da disfluência que faz as pessoas a pensarem mais sobre o que está lendo!
"Quando descobrimos que no laboratório esse fenômeno, ficamos muito animados, pois a descoberta tem implicações óbvias para a sala de aula", disse Oppenheimer.
Animados, os pesquisadores resolveram conduzir um grande experimento, envolvendo alunos de 15 a 18 anos de uma escola pública.
Eles foram divididos em dois grupos, sendo que um recebeu um material de leitura, incluindo texto das aulas de inglês, história e ciências com a fonte Monotype Corsiva. O outro grupo eu com a fonte convencional de sempre.
Conclusão: alunos que usaram o material com letras estranhas tiveram resultados significativamente melhores do que os outros, em todas as disciplinas.
Para Oppenheimer, é possível melhorar a capacidade de aprendizado com uma intervenção simples e que leva basicamente nenhum esforço para ser implementada.
Para Dylan Wiliam, Professor Emérito de Avaliação Educacional do Instituto de Educação de Londres, disse, referindo-se ao estudo, que o que realmente importa quando se lê é a plena consciência, ou uma leitura mais cuidadosa.
Ou seja, uma fonte "esquisita" tem o condão de gerar uma maior atenção do leitor, e isso produziria a melhor apreensão do conteúdo.
Os pesquisadores salientam que há limites para o tamanho da distorção da fonte, pois uma mudança nela de forma drástica poderia suprimir os benefícios desse tipo de leitura, e até mesmo gerar prejuízos na cognição.
Qual é esse limite ? Oppenheimer não tinha uma resposta para essa indagação.
"Obviamente, se leitor não pode ler a fonte em toda a extensão do texto, ele não poderá aprender o conteúdo. Em algum momento fica-se tão irritado que surge a desistência. E diferentes pessoas provavelmente têm limites diferentes. Então, por enquanto, o melhor é se aproveitar de pequenas mudanças ao invés de forçar os próprios limites."
Esse é, sem dúvida, um conceito muitíssimo interessante para ser usado nos resumos que os próprios estudantes fazem, pois o material didático disponível hoje não propicia esse tipo de avaliação.
Como os resumos têm a função de rever o conteúdo e ajudar no estabelecimento da memória profunda, o uso de letras um pouco diferentes pode fazer uma boa diferença durante a preparação. Mudar uma fonte é algo muitíssimo simples e um laboratório pode ser tentado por qualquer um.
Com informações da BBC.