Segunda, 26 de março de 2018
Estamos a apenas duas semanas para a prova objetiva do XXV Exame da OAB. Chegou o momento em que rever o conteúdo é muito mais significativo do que apreender novas informações.
Chegou o momento de revisar!
Evidentemente, essa dica tem um público-alvo específico: quem esgotou ou está esgotando o conteúdo programático. Quem iniciou a preparação tardiamente deve manter o rito de estudo de acordo com o planejamento anterior.
E por que revisar?
Estudar não é um processo contínuo para frente! Ele envolve o ?repisamento? do conteúdo anteriormente estudado para gerar a formação da memória de longo prazo.
Não basta ao candidato saber com clareza o direcionamento de seus estudos, é preciso CONSOLIDAR o que foi estudado, e o processo de consolidação envolve a repetição e a revisão.
O objetivo final, é claro, é construir a memória de longo prazo. É com o seu estabelecimento que se pode dizer, com segurança, que determinado conteúdo foi devidamente memorizado.
A memória de longo prazo forma os nossos ?arquivos?, e os processos de consolidação podem demorar minutos, horas, meses e até mesmo décadas. A memória de longo prazo permite a recuperação de uma determinada informação mesmo depois de passadas décadas. E, pasmem, os cientistas não conhecem ainda os limites de armazenamento desta memória.
É o conhecimento da memória profunda que nos influencia na hora de tomarmos decisões, e é essa memória que todo estudante almeja sedimentar seus conhecimentos.
Existem dois tipos de memórias de longo prazo, a episódica e a semântica.
Ligada a eventos e experiências. Experiências marcantes, traumáticas, afetivas ou prazerosas geram a memória profunda em questão de segundos, a depender da intensidade e do significado do evento.
Processa ideias e conceitos não derivados da experiência pessoal. É a memória derivada da leitura e dos estudos, por exemplo.
É nela em que o tipo de informação que trabalhamos ? derivada dos estudos ? fica sedimentada.
No começo de 2014 foi divulgada por uma equipe cientistas da Universidade Yeshiva (EUA), a filmagem inédita de como a memória era formada. Os especialistas colocaram marcadores luminosos (tags) nas moléculas que eles acreditavam serem responsáveis pela formação da memória no cérebro de um rato.
Voltamos aqui às lições de biologia lá do ensino médio. Os neurônios ligam-se uns aos outros nas sinapses, onde os dendritos (os ?dedos? das sinapses) seguram uns aos outros. As memórias acabam sendo formadas quando as sinapses entre um e outro neurônio tornam-se estáveis.
Vejam o vídeo abaixo. Ele está em inglês, mas é completamente compreensível.
Eis então o que descobriram: as proteínas sedimentam as ligações quando ocorrem estímulos frequentes. A proteína (chamada de beta-actina) se acumula exatamente onde ela é necessária para fortalecer a sinapse.
Eis então a interconexão de conceitos: a formação da memória profunda ? especificamente a semântica, cujo estabelecimento se dá com os estudos ? depende da revisitação dos estudos sobre um determinado tema. Os estímulos frequentes geram a deposição das proteínas nos dendritos, formando exatamente a memória profunda, aquela que irá ajudar os candidatos na hora da verdade.
De acordo com o neuropsicólogo português Victor da Fonseca, a aprendizagem se desenvolve em 4 etapas:
Input: contato com a informação. É a primeira passagem do conteúdo e a primeira deposição de proteínas;
Cognição: compreensão e processamento da informação;
Output: envolve alguma atividade cognitiva imediata com a informação, como falar, discutir, escrever ou resolver um problema. Trata-se de um processo que por si só gera mais deposição das proteínas nas sinapses.
Retroalimentação: consiste na reiteração do contato posterior, o que está ligada à ideia de repetição. Aqui entra o conceito de revisão, e, claro, seus efeitos: gerar a fixação do conteúdo pela repetição.
Vejam que o conceito concebido pelo neuropsicólogo guarda íntima relação com processo fisiológico de formação da memória. Temos o input (memória de trabalho), a cognição (memória de curto prazo), o output e a retroalimentação (sedimentação da proteína nos dendritos através da repetição e retrabalho das áreas ativadas durante o processo de formação da memória semântica) que, ao fim, formarão a memória profunda.
A importância da revisão tem raízes científicas: não é o exercício de um achismo qualquer.
O candidato pode, linearmente, seguir seu cronograma, mas a eficiência do processo depende, em boa medida, em revisitar o conteúdo estudado.
O processo todo começa, como elencado acima, com o ?input?, a entrada do conteúdo, ou seja, a aula e a leitura. Após isto, vem a cognição (reflexão e processamento da informação), para depois vir o ?output?, que pode ser traduzido como a resolução de exercícios, entre outros métodos. A retroalimentação envolve todos os 3 processos anteriores para se tornar um método eficaz de fixação de conteúdo.
É, claro, fazer isso tudo consome tempo e é trabalhoso, mas em estudo não existe ?mágica? ou métodos milagrosos.
A revisão portanto deve não só abarcar a releitura de conteúdo (especialmente dos resumos) como também a resolução de exercícios, que também é uma forma de relembrar o conteúdo previamente estudado.
Essa semana é propícia para isto, especialmente em função do feriado, quando o tempo disponível será o maior possível!