Iniciada a era do desmonte do ensino superior no Brasil

Sexta, 15 de dezembro de 2017

Iniciada a era do desmonte do ensino superior no Brasil
Não tenho a menor dúvida: em dezembro de 2017 iniciou explicitamente a era do desmonte do ensino superior no Brasil. O impacto de ações recentes no ensino superior sedimentam essa certeza.

Ontem mesmo recebi pelo whatsapp a informação de que um professor com mais de 11 anos de docência estava em busca de emprego. Ele, com mestrado, foi dispensado da Unisalesiano de Araçatuba/SP.

Um exemplo singular de que demissões de profissionais bem qualificados da educação superior serão feitas também a conta gotas.

Também ontem fui informado que a Uniritter demitiu ainda ontem pelo menos 100 professores (o número exato ainda não foi divulgado), uma semana após o Grupo Estácio ter demitido de uma só vez 1.200 professores.

Estácio demite 1,2 mil professores e contrata 1,2 mil professores

Foram demitidos da Uniritter professores dos cursos de Arquitetura e Urbanismo, Jornalismo, Direito, Relações Internacionais, Publicidade e Propaganda e Engenharias. Pelo Whatsapp circulou lista com os nomes dos demitidos, o que incluiria os nomes da reitora, Laura Frantz, e a pró-reitora acadêmica, Barbara Costa.

Os docentes dispensados seriam, principalmente, os titulares de cadeiras das disciplinas de seus respectivos cursos.
Funcionários ouvidos pelo jornal Zero Hora, de Porto Alegre, afirmaram que a instituição, controlada pela Laureate, mantenedora que administra a instituição, está impondo uma padronização dos currículos dos cursos de toda a rede. Essa padronização incluiria os seguintes elementos:

1 - Redução da carga horária;

2 - Padronização dos conteúdos em toda a rede, sob controle da mantenedora, tirando a autonomia pedagógica dos professores;

3 - Aumento da carga das aulas via EAD, o que barateia o custo operacional.

Na última terça-feira conversei com um conselheiro federal da OAB. Ele me afirmou que outras duas outras grandes redes de ensino estão também preparando demissões em massa de professores. Em breve elas serão anunciadas.

MEC vai quebrar pequenas faculdades e mantenedoras

O fato é: começou, bem mais cedo do que eu imaginava, a era da demissão em massa de professores universitários.

Na minha cabeça a aprovação dos cursos 100% EAD - que ainda está sendo costurada dentro do MEC - seria o início do fim. Mas a reforma trabalhista antecipou os eventos.

Não se enganem!

As demissões NÃO SÃO derivadas EXCLUSIVAMENTE do advento da reforma trabalhista. Acreditar nisto é um erro!

Existem 3 fatores envolvidos neste processo, e eles estão agindo em conjunto para implodir a qualidade do ensino superior no Brasil.

Desmonte do ensino superior: os fatores elementares
Fator 1 - O MEC está nas mãos do empresariado da educação.

Isso significa dizer que o Ministério faz de tudo para que NADA fiscalize a atuação das faculdades e a qualidade do ensino superior,  TUDO para permitir a expansão sem quaisquer critérios de mais e mais cursos, sem nenhum tipo de critério ou estudo. O MEC é parte da engrenagem de desmonte do ensino superior no país.

Tanto assim é que até regulamentações que facilitam, e muito, a vida das mantenedoras tem sido editada:

MEC retira poderes das seccionais junto aos estágios supervisionados

Vem aí a graduação em Direito 100% EAD

Cai por terra a MENTIRA da moratória na abertura de cursos de Medicina!

Vai iniciar a era do mestrado e doutorado a distância

Onde está a íntegra dos Instrumentos de Avaliação Institucional Externa?

Exclusivo: As principais mudanças no decreto sobre regulação do ensino superior

Fator 2 - O ensino superior brasileiro tem de agradar à Bolsa de Valores.

A maior parte do ensino privado no Brasil está nas mãos de grupos que ou estão vinculados a grupos de investimento estrangeiros ou têm ações na Bolsa de Valores.

E a Bolsa de Valores, meus caros, só respeita o lucro.

O corte de professores, o ensino à distância e tudo o mais que têm sido implementado visam exclusivamente reduzir ao máximo o CUSTO OPERACIONAL das faculdades, EXATAMENTE para maximizar os lucros.

Eu pessoalmente não tenho nada contra o lucro e mesmo a lógica capitalista. Acontece que o serviço entregue pelas graduações, a educação, tem se transformado em um LIXO no Brasil.

Pode-se lucrar, mas a qualidade precisa ser mantida e mesmo melhorada.

Obviamente, dentro de um sistema alimentado por amplo financiamento público e privado, sem fiscalização, sem controle estatal adequado e despreocupado com a qualidade e qualificação dos alunos, a qualidade do ensino passa a ser mero detalhe.

O modelo educacional no Brasil é trágico, e o desmonte do ensino superior faz parte de políticas públicas e empresariais. Ocorre de propósito!

Fator 3 - A reforma trabalhista.

A reforma nada mais é do que um instrumento para executar aquilo que o empresariado quer. Um bom motivo, claro, para dar o start no processo de enxugamento dos cursos.

Estão sendo demitidos, é claro, os professores com maior titulação e mais tempo de casa, exatamente os profissionais que oneram mais a folha de pagamento.

Outros serão contratados, claro, mas a um custo bem menor (com uma qualidade menor também, obviamente).

Minha previsão é que o ano de 2018 será desastroso para o ensino superior no Brasil. Mai demissões, mais regulamentação esdrúxula e um aumento lastimável da corrosão da qualidade do ensino.

O estelionato educacional, a lógica do "eu finjo que ensino e você finge que aprende" está chegando a um ponto em que esse fingimento torna-se até desnecessário. O desmonte do ensino superior já é explícito, e não causa constrangimento a seu ninguém mais.

Desmonte do ensino superior: A grande consequência

Você, universitário que se forma nessas instituições, abra o olho: o mercado profissional não é feito por inocentes. Seu diploma, uma vez que você se forme, vai ser um empecilho para a sua carreira profissional. O mercado não vai lhe querer:

Faculdades de primeira linha: contratação dos advogados e estigmatização

Nessa história toda você é o maior prejudicado.

Com informações do Jornal Zero Hora.