Quarta, 3 de janeiro de 2018
Enquanto a OAB e demais conselhos de classe brigam contra o MEC em razão da criação dos cursos de Tecnólogos e da expansão sem critérios de faculdades, o Conselho Federal de Administração (CFA), em uma movimentação surpreendente, entra no jogo e se disponibiliza para receber os formados no curso de Tecnólogo Jurídico em seus quadros.
Surreal!
O CFA fez isso porque, entre algumas (poucas) disciplinas do curso, há o conteúdo de gestão, o que seria o suficiente para justificar a essa estranha inclusão.
Esse Conselho já se prestou ao lastimável papel de abandonar os demais conselhos de classe após ter se assinado um manifesto contra a expansão irresponsável de cursos superiores patrocinada pelo MEC. Após duas semanas "mudou de ideia" e abandonou a palavra empenhada:
O lamentável recuo do Conselho Federal de Administração
Uma movimentação verdadeiramente lastimável em todos os sentidos.
Pior é ver o CFA se alinhar com o MEC, quando na verdade deveria era fiscalizar a qualidade dos cursos de Administração. A entidade literalmente abriu mão deste papel.
Gostaria muito de saber o que o Conselho Federal de Administração diz para os seus integrantes verdadeiramente formados em Administração. Até porque absorver formados em outras profissões, aceitá-los e permitir que eles ocupem, teoricamente, funções de gestão e administração, retira dos verdadeiros administradores espaço no mercado de trabalho.
Essa constatação é óbvia!
Por outro lado, o que um curso "jurídico" como o de Tecnólogo tem a fazer sob o guarda-chuva do CFA?
Absolutamente estranho, até porque o CFA não teria competência para julgar um Tecnólogo que porventura exerça ilegalmente a advocacia, por exemplo.
Aparentemente trata-se de uma tentativa do CFA, alinhado com o MEC e com o empresariado da educação, de enfraquecer o movimento da OAB e dos demais conselhos de classe em defesa da qualidade do ensino.
Aliás, o CFA concedeu ao Ministro da Educação o certificado de "Administrador Destaque de 2017". O que o ministro administrou com destaque no ano passado eu não sei, mas que a honraria foi concedida, ela foi.O Conselho virou uma marionete, por assim dizer. E, claro, se colocou no lado errado da história e também do lado errado de suas obrigações institucionais.
A sorte é que se trata de um Conselho fraco e sem força política, e seu ato é mais simbólico do que prático. E agora, isolado dos demais conselhos, tende a se tornar ainda mais inexpressivo.
Confiram a notícia publicada no próprio site do CFA no último dia 21 de dezembro:
CFA tem reunião com Ministro da Educação, José Mendonça Filho
O presidente do Conselho Federal de Administração (CFA), Adm. Wagner Siqueira, se reuniu hoje, 20, com o ministro da Educação, José Mendonça Bezerra Filho. O encontro aconteceu no Ministério da Educação, em Brasília, e contou, ainda, com a presença do diretor de Formação Profissional do CFA, Adm. Mauro Kreuz, do Conselheiro Federal por Pernambuco, Adm. Joel Cavalcanti Costa, e do Conselheiro Regional do CRA-PE, Adm. Marcos Viegas.
A pauta da reunião abordou vários assuntos, entre eles a oferta do Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Serviços Jurídicos e Notariais, que gerou muita polêmica e resultou em uma ação civil pública contra o MEC por parte do Conselho Federal da OAB. Wagner fez questão de ratificar o apoio do CFA ao MEC e lembrou que a autarquia aprovou, em 7 de dezembro, o registro profissional para os egressos do curso Gestão de Serviços Jurídicos e Notariais.
Outro tema abordado na reunião é a interrupção dos pareceres opinativos nas autorizações, reconhecimento e renovação de reconhecimento de cursos de administração. Para Wagner, não é papel do CFA atuar nessa esfera. ?Estamos atentos à qualidade do ensino superior ofertado no Brasil, mas essa é uma competência do Estado e a nossa contribuição é colaborar para a permanente elevação da qualidade da educação?, disse.
Mauro Kreuz destacou na reunião a parceria do CFA com a Instituição Amiga do Empreendedor, iniciativa interministerial lançada neste ano. ?O CFA elaborou o protótipo do projeto, que se materializou e vemos hoje acontecer?, afirmou.
Também foi assunto da reunião o Observatório dos egressos dos cursos em Administração e CST em Gestão (ONECAD). O sistema desenvolvido por meio de tecnologia Big Data vai ajudar identificar onde estão os egressos. A inciativa foi elogiada pelo ministro. ?Vale a pena estreitar a relação com a Secretaria de Educação Superior (SESu), pois isso ajudará no planejamento das políticas públicas do ensino superior?, sugeriu.
O ministro José Mendonça é Administrador e, ao final da reunião, recebeu das mãos dos seus conterrâneos, os administradores Joel Cavalcante e Marcos Viegas, o certificado de ?Administrador Destaque 2017?. A láurea é concedida pelo CRA-PE em reconhecimento pelos serviços prestados ao Estado de Pernambuco, ao Brasil e, em especial, a categoria profissional dos Administradores Pernambucanos.
Fonte: CFA