A preparação para a OAB deve ser reformulada?

Quarta, 2 de agosto de 2017

A preparação para a OAB deve ser reformulada?

Recebi uma interessante pergunta de uma candidata, após ela fazer uma reflexão sobre sua reprovação no XXIII Exame: A preparação para a OAB deve ser reformulada?

Isso, claro, considerando a realidade apresentada na última OAB, uma prova muito mais pesada do que o convencional.

OAB impõe um forte reposicionamento no Exame de Ordem

Ainda não temos os percentuais de aprovação, mas estimo que ele ficou na casa dos 13-15% do total de candidatos que fizeram a prova, o que é algo extremamente baixo considerando que a média de aprovação final dos Exames está na casa dos 18,5%.

Mas sem a lista de aprovados não dá para afirmar nada com certeza. Conheceremos a realidade desta prova no próximo dia 7, semana que vem.

Agora considerem alguns aspectos:

1 - Ética, o fiel da balança da primeira fase, perdeu duas questões, passando de 10 para 8.

Isso não reduz a sua importância para os candidatos, e muito menos implicará na redução do volume de estudo a ser empregado para aprender a disciplina.

Na realidade é o contrário: quanto menos questões tem uma disciplina MAIS o candidato tem de estudar para aumentar a chance de acertar tudo.

Um exemplo curto e grosso para ilustrar o conceito: se em Direito Civil a banca cobrasse apenas uma questão, a probabilidade do candidato acertá-la dependeria do domínio total da disciplina.

Por outro lado, com mais questões, fica mais fácil acertar questões mesmo sem ter esgotado tudo.

Em Ética essa lógica é relativizada porque se trata de uma disciplina com um volume de conteúdo pequeno a ser apreendido, contudo, com apenas 8 questões, a necessidade de acertar tudo cresce ainda mais.

Considerando que a zona limítrofe de aprovação (37-39) concentra praticamente 22% dos candidatos da 1ª fase, em um cálculo feito por mim há algum tempo, a redução seguramente empurrará muitos examinandos para a reprovação, especialmente os que poderiam fazer 40 ou 41 pontos seguindo a lógica das 10 questões.

Isso por si só obriga os examinandos não só a estudar mais Ética como também estudar mais outras disciplinas para compensar a perda.

2 - As questões interdisciplinares

Não foi agora, no XXIII, que surgiram questões interdisciplinas no Exame de Ordem. Já no XXI Exame elas fizeram valer a sua presença, e isso complicou os candidatos.

Vejam só esta questão de Consumidor do XXI Exame, que foi muito curiosa:

A pergunta é de Direito do Consumidor, mas a resposta está em uma norma trabalhista, a aludida "Lei Especial" mencionada na alternativa B:

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o  É vedado às empresas e pessoas físicas empregadoras ou tomadoras de serviços prestados por motociclistas estabelecer práticas que estimulem o aumento de velocidade, tais como:

I - oferecer prêmios por cumprimento de metas por números de entregas ou prestação de serviço;

II - prometer dispensa de pagamento ao consumidor, no caso de fornecimento de produto ou prestação de serviço fora do prazo ofertado para a sua entrega ou realização;

III - estabelecer competição entre motociclistas, com o objetivo de elevar o número de entregas ou de prestação de serviço.

(...)

Ou seja: ou o candidato sabia tanto Direito do Consumidor e do Trabalho ou ele iria se complicar gravemente.

Eis o ponto: pelo o que vimos na prova passada, com o aumento do número de questões interdisciplinares, os candidatos passam, cada vez mais, a ter de dominar TODO o conteúdo programático do Exame de Ordem.

Não é possível antecipar de que forma a interdisciplinariedade será cobrada, até porque isso pode ser feito de várias formas.

Um candidato só consegue responder esse tipo de questão, especialmente se ela for empregada em larga escala, se ele dominar todas as disciplinas da 1ª fase.

E isso é um belíssimo de um complicador para vocês.

Estamos diante do fim da era dos candidatos que estudam de forma estratégica, priorizando algumas disciplinas em detrimento de outras, faltando 2 ou 3 meses para a prova.

Só vai ter chance no Exame quem estudar, pelo menos, uns 4 meses antes da prova, esgotando todo o conteúdo programático.

E não se enganem: o número de questões interdisciplinares tende a crescer, e isso será inexorável.

Moral da história: antecipar os estudos e a preparação será a regra para todo e qualquer examinando.

3 - Metodologia de estudo

Quanto a metodologia de estudo, recomendo antes a leitura deste texto aqui:

Como estudar para o Exame de Ordem?

A metodologia em si não muda, exceto no ponto das questões a serem utilizadas para o treinamento.

Resolver questões é um ponto de grande importância tanto para a fixação do conteúdo como também para alavancar o raciocínio.

Não sei em que medida o número de questões interdisciplinares irá crescer na 1ª fase, se em um ritmo mais acentuado ou lentamente. De toda forma, quem consegue resolver uma questão interdisciplinar (mais complexa) resolve as questões que abordam apenas um ramo jurídico.

Será importante pesquisar questões de concursos que tenham essa abordagem para auxiliar na preparação.

Os enunciados das questões, e isso é algo já observado há um bom tempo, sempre apresentam a narrativa de um problema, um caso prático sobre o qual o candidato deve aplicar a solução jurídica adequada quando faz a leitura das alternativas.

Sob este aspecto, a leitura e a compreensão do enunciado, cada vez mais, terá de ser acurada para uma boa e correta escolha de uma dentre as quatro alternativas.

4 - A prova tem evoluído em sua dificuldade

Uma notícia ruim para vocês: a OAB pode dar ao Exame de Ordem o grau de dificuldade que bem entender e não há o que fazer em relação a isto.

Hoje, e por enquanto, o discurso é de que o Exame de Ordem é uma prova para avaliar condições mínimas para o exercício da advocacia. E, claro, é bom continuar assim.

Por outro lado, nada impede a OAB de argumentar que a advocacia está no mesmo patamar do MP e da magistratura e exigir em sua prova o mesmo grau de dificuldade.

Seria, claro, trágico.

Mas isso não acontece por dois motivos:

1 - Vocês estão saindo agora da faculdade, não seria razoável exigir tanto;

2 - Não existe vontade política interna (ainda) para isto.

É uma premissa elementar ter de se preparar para o pior cenário, considerando aqui as balizas oferecidas pelas edições mais difíceis da OAB.

Elejam como parâmetro tanto a prova do XXI como a do XXIII.

XXI Exame de Ordem

Prova

Gabarito

XXIII Exame de Ordem

Prova

Gabarito

Essas são as provas de referência daqui em diante.

Assumam, desde agora, o advento de uma futura prova complicada como essas duas, e preparem-se tendo isto em mente.

Está cada vez mais complicado projetar como será a dificuldade de uma futura prova, e pelo visto a OAB não anda querendo facilitar.

Mas, seguramente, a interdisciplinariedade veio para ficar. Disto não tenho a menor dúvida.